No ano passado, a América Latina viveu uma transformação digital sem precedentes, um verdadeiro “tech tsunami” que parecia ser impossível de ser repetido. 

Tudo o que vemos em 2021 aponta para uma exponencialização dessa primeira onda, que descrevemos na primeira edição do estudo anual do Atlantico, nosso fundo de venture capital. 

Hoje publicamos a nova edição do estudo, que foca nos efeitos de segunda e terceira ordem da digitalização em nosso país e na região como um todo. São impactos que vão muito além do uso da tecnologia: mudanças geopolíticas, na forma como trabalhamos, na mídia e no conteúdo que consumimos, bem como na maneira que pensamos no futuro do planeta. 

Abaixo, elencamos sete novas tendências sobre o mundo tech na América Latina que identificamos no processo de pesquisa e elaboração deste estudo: 

1) O total de venture capital investido na região no primeiro semestre deste ano foi quase o dobro de 2020 inteiro. Foram mais de US$ 9 bilhões de dólares em aportes em empresas de tecnologia da América Latina, e o ritmo do segundo semestre aponta que há muito mais por vir. 

2) 1 de cada 3 brasileiros usa o TikTok todo mês. O crescimento da rede social chinesa foi de mais de 6 vezes desde o início do ano passado, e um dos exemplos que levantamos da crescente influência chinesa no mercado de tecnologia no Brasil. Além disso, temos visto cada vez mais startups brasileiras inspiradas em modelos chineses, mas endereçando questões locais de forma original — caso da Facily, que já tem um dos  apps mais baixados do Brasil. 

3) 8% de empresas suspeitam que alguns funcionários em home office mantêm um segundo emprego em segredo. O resultado foi levantado através de pesquisa inédita com líderes de RH de mais de 500 empresas da América Latina sobre o futuro do trabalho remoto.

4) Quadruplicou o número de compras de supermercado feitas pelo iFood desde o início da pandemia. A explosão no crescimento do e-commerce em setores previamente não penetrados, como o mercado alimentício, foi um exemplo de uma das consequências de segunda ordem que vimos após a penetração de e-commerce nacional ter passado de 10% do total do varejo.

5) Influenciadores digitais todavia têm dificuldade em monetizar sua influência, com metade ganhando menos de R$ 500 por mês. O levantamento, feito via pesquisa com mais de 5.000 influenciadores digitais, é particularmente surpreendente porque o Brasil é o país que tem o maior percentual de internautas seguindo influenciadores, e onde a maior parcela da população indica que comprou um produto após uma indicação por um influenciador. 

6) “Mudanças climáticas” são vistas como a maior ameaça ao futuro do planeta por 38% dos brasileiros, à frente do “fim da democracia” (26%) e “novas doenças e pandemias” (16%). A pesquisa com representatividade nacional, feita pelo Atlantico e a firma de pesquisa e inteligência AtlasIntel, levantou perspectivas inéditas da população sobre a vacinação, o meio ambiente, e outros temas.

7) Apetite para ‘plant-based’: Os brasileiros estão também mudando seus hábitos à mesa. Hoje, proteínas plant-based têm consumo mais frequente no Brasil do que alimentos tradicionais da dieta nacional, como a carne de porco ou o peixe. 59% dos brasileiros dizem comer proteína de origem vegetal ao menos uma vez por semana, e 44% nunca comeram e gostariam de experimentar um hambúrguer plant-based, um mercado que está sendo desenvolvido por startups como a Fazenda Futuro e a NotCo. 


Julio Vasconcellos é managing partner do fundo de venture capital Atlantico e sócio do Canary. Fundador do Peixe Urbano, foi o primeiro representante do Facebook no Brasil.