Pedimos a sete gestoras de investimento para falar sobre uma posição que têm na carteira, explicando o fundamento e o momento da empresa.  

Na maioria dos casos, os gestores defenderam posições de longo prazo de suas carteiras, com um traço comum: múltiplos altos, mas justificáveis, segundo eles, pela qualidade do ativo. 

Conheça as ideias:

NATURA&CO

Somos muito positivos com nosso investimento em Natura&Co por uma série de razões.

A companhia tem dois negócios bem posicionados e tocados — a marca Natura no Brasil e na América Latina e a Aesop — que respondem por 32% de sua receita. Ambas as marcas se fortaleceram na pandemia com a digitalização e o social selling (que ganharam urgência na agenda da companhia) e com a entrada de novos clientes vindo de outros canais/players que sofreram.

A The Body Shop — 12% da receita — ainda passa por melhorias, mas com bons resultados e aprendizagens na pandemia.

 
Finalmente, a Avon faz 56% da receita da companhia e ainda tem imensas oportunidades de ganhos.  A Natura&Co teve duas experiências que a prepararam para o desafio da Avon: o rejuvenescimento do negócio Natura Brasil em 2016-18 e a aquisição e integração bem sucedida da Body Shop em 2017. A aquisição da Avon também pode melhorar bastante o posicionamento competitivo da companhia em mercados-chave da Latam.

Esperamos mais aquisições num futuro mais distante.

Os riscos são os naturais de execução, especialmente na Avon, e, em menor grau, a competição. O múltiplo P/L normalizado ao redor de 25x — considerando apenas as sinergias anunciadas — deixa certa margem de segurança, inclusive porque achamos que as sinergias efetivas podem surpreender o mercado.

— Truxt Investimentos.

B3

Somos acionistas da B3 há bastante tempo, e nosso sócio-fundador também faz parte do conselho de administração.

O que faz de uma empresa um bom negócio? No nosso ponto de vista, dentre os principais fatores estão:

(1) atender uma demanda relevante de seus clientes de forma especial e com isso gerar uma posição competitiva sólida.  A B3 oferece um serviço fundamental de forma eficiente, sempre buscando lançar produtos inovadores e atendendo demandas do mercado;

(2) ter alavancagem operacional sendo preferencialmente “asset light”. Neste aspecto, a B3 usa muito pouco seu balanço e tem características de plataforma;

(3) ter um time excepcional alinhado a uma base de acionistas de longo prazo. Gilson Finkelsztain, o CEO da B3, é um craque e tem um time competente e engajado;

(4) ter processos internos que facilitem a inovação. A B3 está sempre buscando inovar e está atenta às mudanças no mercado.

Além de ter tudo isso, a B3 tem uma preocupação genuína com ESG e um belo vento de cauda. Este ano, o Brasil deve continuar tendo um aumento no fluxo para a bolsa, dado o ambiente de juros baixos. Vemos a B3 negociando a 25x seu lucro estimado para este ano, o que não é uma barganha, mas um preço justo dada a qualidade e o perfil de risco da companhia.

— Constellation Asset Management.

Oi

A Oi tem potencial para até dobrar seu valor de mercado em 2021, que hoje é de R$ 14 bilhões. Após aceitar uma oferta de R$ 16,5 bilhões por seu ativo móvel, esperamos que a empresa receba uma oferta entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões por seu ativo de infraestrutura de fibra ótica.

A InfraCo é um ativo único em posicionamento estratégico, escala e crescimento no Brasil, e é o maior “case” de crescimento em fibra óptica do mundo depois das empresas chinesas.

A Oi terminou 2020 com mais de 2 milhões de assinantes de fibra conectados à sua rede e cresce quase 150 mil adições por mês. A Oi venderá o controle dessa empresa, possibilitando a existência de uma rede neutra de fibra para todos os players de 5G no País além de provedores de banda larga em geral. A InfraCo trará grande aumento de eficiência para a infraestrutura de telecomunicações Brasileira ao se evitar a construção de várias redes superpostas e de baixa utilização, gerando assim solução que criará muito valor para todos os stakeholders envolvidos (a OI, o setor de telecom como um todo, e os consumidores em geral).

A InfraCo deve fazer entre R$2 bilhões a R$2,5 bilhões de EBITDA já em 2022. Além dos vários negócios similares de infraestrutura de fibra que vem ocorrendo pelo mundo, lembramos que recentemente a Copel Telecom, um ativo mais maduro (ou seja, com menor crescimento), recebeu em seu leilão de privatização duas ofertas acima de 14x EBITDA, daí o valor que esperamos de oferta para a InfraCo e que ainda oferecerá bastante potencial de valorização para o comprador.

— JGP Gestão de Recursos.

EQUATORIAL

Somos acionistas da Equatorial há oito anos e continuamos acreditando em sua capacidade de alocar capital e extrair valor para os acionistas.

Uma espécie de escola do setor elétrico — onde também somos acionistas de Energisa e Light — a Equatorial se especializou em fazer o turnaround de operações complexas ao mesmo tempo em que construiu uma cultura incrível, com um processo de formação de gente muito forte.

Nos últimos anos, a Equatorial deixou de ser apenas uma empresa de distribuição. Em 2016, a companhia entrou no negócio de transmissão, que já representa 25% da empresa, suavizando seu perfil de risco. Ao construir as linhas de transmissão, a Equatorial aproveitou para passar também os cabos de fibra óptica, estreando discretamente no segmento de telecom.  

Acreditamos que a Equatorial terá em 2021 boas oportunidades na alocação de capital tanto em distribuição quanto em novos negócios, como saneamento e telecom. Mesmo com este belo histórico e alternativas de crescimento, a empresa ainda negocia com uma TIR real de 8,2% — mais de duas vezes o retorno da NTN-B 2050 — sem considerar possíveis novos investimentos.

— STK Capital.

PETZ

Como a maior empresa de varejo pet e a única listada do setor, a Petz está bem posicionada para crescer graças ao aumento na população de cães e gatos, ganhos de market share, um mix de vendas com mais produtos de maior valor agregado, e avanços substanciais no e-commerce. 

A população pet cresceu por volta de 10% nos últimos 4 anos, superando em muito o crescimento da população do país (2,4%). Essa tendência deve continuar nos próximos anos ou décadas, não apenas porque vivemos uma maior humanização em relação aos pets, mas também porque as novas gerações parecem ter um apreço maior por animais domésticos.

O varejo pet é ainda muito fragmentado: a Petz é a líder com 120 lojas (vs. 63 em 2017), mas tem apenas 5% do mercado, sendo seus maiores concorrentes pequenas lojas de bairro. Além disso, o potencial de crescimento fora de São Paulo, que concentra 62% das lojas, é enorme. Acreditamos também em uma melhora de mix por conta de uma maior procura por serviços de saúde (sua rede Seres tem 99 centros veterinários, sendo 7 hospitais) e alimentação premium mais saudável (16% do total no Brasil, vs. 32% na China e 54% nos EUA). No e-commerce, a Petz tem feito avanços consistentes: as vendas online foram 26% do total no 3º trimestre comparado a 7,8% um ano atrás.

A Petz negocia a 40x o lucro estimado para 2022, em linha com a média do varejo de alto crescimento e com 20% de prêmio em relação à média de empresas líderes em seus segmentos. Achamos que Petz merece esse prêmio dado que tem um potencial de crescimento maior que a média do varejo, é um business mais resiliente e com valor de escassez, já que é a única empresa de varejo pet listada.

— Dahlia Capital.


LOCAWEB

A Locaweb negocia a 85x o lucro estimado para 2021, um múltiplo elevado porém justificável diante da grande oportunidade que a empresa tem pela frente. Esperamos um crescimento de lucro próximo a 50% ao ano nos próximos anos, que poderá ser significativamente maior com as prováveis futuras aquisições. Temos bastante confiança que o time de gestão excepcional da companhia, que entregou até o momento muito acima do esperado, continuará gerando muito valor ao longo do tempo.

A Locaweb está no nosso portfólio desde fevereiro de 2020, quando fomos investidores âncoras do seu IPO.  A empresa foi uma das pioneiras em oferecer serviços de digitalização para pequenos negócios no Brasil, e rapidamente se tornou líder na hospedagem de websites, além de oferecer serviços como registro de domínios e email corporativo.

Mas foi em 2015, com a aquisição da Tray, que a Locaweb mudou seu destino. A Tray hoje é líder no segmento de plataformas de ecommerce, uma ferramenta simples que ajuda pequenos varejistas a vender no canal online, seja através da criação de seu próprios websites ou da integração com marketplaces.

A oportunidade de crescimento é enorme. Apesar de ser uma das líderes no segmento, a Locaweb ainda tem apenas 25 mil clientes nesta divisão, uma pequena fração do enorme mercado potencial de mais de 6 milhões de pequenas empresas de comércio no Brasil.

Trata-se de um belíssimo negócio, que cresce cerca de 70% ao ano. Este ano, essa divisão já representará quase 50% do faturamento e 70% do EBITDA da Locaweb.

Além do elevado crescimento orgânico, a empresa tem conseguido fazer aquisições relevantes e que geram muito valor. Depois de 5 transações em 2020, que juntas somaram R$100 milhões de faturamento (20% da receita total do grupo), a Locaweb tem outras sete aquisições em estágios avançados de negociação, que completarão o portfólio de produtos da Tray, como por exemplo serviços financeiros e software de gestão.

Em especial, achamos que a oferta de serviços de logística e de crédito (modelo comissionado, sem risco de balanço) tem potencial para ser extremamente relevante para o crescimento da companhia. 

— Tork Capital.


VALE

Fundamento, valor e renda são os motivos que nos fazem acreditar que a Vale continuará sendo um ótimo investimento este ano, assim como foi em 2020 para o fundo Atlas One. O fundamento para o mercado de minério de ferro global é o melhor dos últimos 10 anos.  O último ano de preços elevados como agora ($165/ton) foi em 2011.  Como diz o ditado, a história se repete mesmo que os motivos sejam diferentes.  O motivo agora é simples: o maior produtor global da commodity deve atingir plena capacidade somente em 2023, ou seja, o mercado transoceânico de minério de ferro ficará deficitário por mais dois anos.  

Com a disciplina de oferta imposta pelas Big 3 (Vale, BHP e Rio Tinto) com o mantra “value over volume”, os preços despencaram em 2015 e o mercado ficou em equilíbrio até o trágico dia 25 de janeiro de 2019.  

O evento Brumadinho levou a Vale a reduzir sua produção de minério de ferro de forma dramática e impôs a ela uma perda reputacional relevante que está em processo de reparação.  O possível acordo com os autores das ações legais relacionadas com a tragédia de Brumadinho em 2021 será um marco importante para que a Vale consiga reduzir seu risco ESG.  Uma resolução final combinada com a excepcional saúde financeira da empresa (dívida líquida financeira zero), indica que podemos esperar um grande fluxo de pagamento de dividendos de 9% a.a. para seus acionistas nos próximos cinco anos.

Hoje a R$ 90, a ação da Vale negocia a um desconto de 40% para seus pares globais Rio Tinto e BHP na métrica EV/EBITDA (3,5x vs. 6x) para 2021, e desconta um preço de longo prazo para o minério de US$ 53/ton, comparado com os US$ 65/ton projetados.  

Esse desconto deve cair de forma substancial (50%+) se a empresa conseguir reparar os danos e, mais importante, eliminar de uma vez por todas o risco relacionado às barragens. Nas nossas estimativas, isso poderá levar a ação para R$ 120.  

A Vale não é uma história de crescimento de lucro, mesmo porque os preços do minério de ferro estão provavelmente próximos ao pico.  A Vale é uma história de valor e renda.

— Atlas One.