A seis dias das eleições legislativas que podem definir o futuro do Governo Milei, a Argentina confirmou hoje pela manhã um swap cambial de US$ 20 bilhões com o Tesouro dos EUA.

“O objetivo é contribuir com a estabilidade macroeconômica, com especial ênfase em preservar a estabilidade de preços e promover um crescimento econômico sustentável,” disse o Banco Central da Argentina.

Pelo acordo, o Tesouro americano entrega dólares e recebe pesos em troca. Não foram informados os prazos nem a cotação usada na transação.

O swap reforça as reservas em moeda forte do país, dando ao BC mais munição para conter a desvalorização do peso e manter o dólar abaixo do teto da banda cambial.

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No próximo domingo, os argentinos vão às urnas para renovar as cadeiras do Congresso. Se sua coalizão não obtiver ao menos 30%, Milei terá sérias dificuldades para realizar qualquer ajuste expressivo, uma vez que a oposição poderá alcançar uma maioria qualificada para obstruir a agenda governista.  

A expectativa nos mercados é que o atual regime de bandas cambiais deve ser abandonado logo depois do pleito. Para os economistas, a flutuação do dólar – de maneira similar ao sistema brasileiro – é necessária para equilibrar as contas externas da Argentina e permitir a acumulação de reservas.

Mas a desvalorização cambial bate na inflação, corrói o poder de compra da população e atinge a popularidade do Governo.

Milei conta com o apoio declarado de Trump e o respaldo quase incondicional de Scott Bessent, o Secretário do Tesouro.

“O Tesouro permanece em estreita comunicação com a equipe econômica argentina enquanto eles trabalham para Make Argentina Great Again,” Bessent escreveu em suas redes sociais na sexta-feira. “O Tesouro está monitorando todos os mercados e temos a capacidade de agir com flexibilidade e firmeza.”

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Com o acordo, as reservas brutas da Argentina – atualmente em US$ 42 bilhões – podem subir acima de US$ 60 bi. O dinheiro americano não deve ser liberado de uma vez, mas por tranches, conforme as necessidades de intervenção no mercado.

“Vamos executar quando for preciso,” disse Milei. “É uma garantia.”

Os US$ 20 bi são suficientes para cobrir todos os vencimentos da dívida externa em 2026.

Apesar da confirmação do swap, o peso continuou perdendo valor. O dólar subiu para perto do teto da banda, cotado a 1.495 pesos. A Bolsa portenha abriu em alta, mas não sustentou a valorização. O Merval opera em ligeira queda agora à tarde.

Recentemente, o Tesouro dos EUA já havia feito algumas intervenções no câmbio argentino, comprando pesos e vendendo dólares. Foram cerca de US$ 750 milhões até agora, usando o caixa do Exchange Stabilization Fund – um fundo do Tesouro reservado para momentos de crise.

Bessent já adiantou que mais ajuda pode estar a caminho.

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“Estamos trabalhando em uma linha de crédito de US$ 20 bilhões, com bancos privados e fundos soberanos, que complementaria nossa linha de swap,” o Secretário disse na semana passada durante as reuniões do FMI e do Banco Mundial em Washington. “Muitos bancos estão interessados ​​e muitos fundos soberanos já demonstraram interesse.”

Ontem, durante uma coletiva a bordo do Air Force One, Trump foi indagado por que estava ajudando os argentinos, enquanto os agricultores americanos sofrem os efeitos da retaliação chinesa.

“A Argentina está lutando pela sua sobrevivência, mocinha, você não sabe nada sobre isso,” respondeu Trump. “Nada está beneficiando a Argentina.”

“Você entende o que isso significa? Eles não têm dinheiro, não têm nada,” continuou o Presidente dos EUA. “Estão lutando arduamente para sobreviver. Se eu puder ajudá-los a sobreviver em um mundo livre – eu gosto do Presidente da Argentina, acho que ele está tentando fazer o melhor que pode. Mas não faça parecer que eles estão indo muito bem.”

A deputada republicana Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, é uma das que criticam Trump por gastar o dinheiro público para respaldar os argentinos. “Me diga como pode ser ‘America First’ o resgate de um país estrangeiro com US$ 20 bi ou até US$ 40 bilhões dos contribuintes,” afirmou.

Trump não se intimidou com as críticas, e disse que planeja comprar carne dos argentinos. “Se fizermos isso, os preços vão cair aqui,” disse aos repórteres.

São as relaciones carnales 2.0 – muito diferentes daquelas entre Carlos Menem e os presidentes americanos George Bush e Bill Clinton nos anos 90.