O Carrefour Brasil reportou um quarto trimestre com vendas ainda pressionadas pela deflação de alimentos, mas com uma redução substancial no SG&A e uma margem bruta e EBITDA acima do consenso. 

O trimestre também foi marcado por um turning point no BIG, que contribuiu positivamente com o EBITDA da companhia pela primeira vez desde o início do processo de integração do ativo, em 2022.

O Carrefour Brasil teve vendas brutas de R$ 31 bilhões, uma queda de 1,2% na comparação anual e um número em linha com as projeções do sellside

Boopo Stephane MaquaireNos últimos 12 meses, a inflação de alimentos foi negativa em 0,5%, o que tem impactado os preços de venda de todas as empresas do setor. 

O CFO Eric Alencar disse ao Brazil Journal que o destaque do trimestre foi a redução do SG&A, que caiu de R$ 4,1 bi para R$ 3,7 bi — ou de 14,7% da receita para 13,4%, o menor patamar desde meados de 2022. 

“Desde o início do ano passado fizemos um trabalho de simplificação da companhia, com redução das pessoas na holding, simplificação da forma de atuação nas lojas e redução de todas as despesas operacionais,” disse o CFO. “Mas isso demora um tempo para aparecer no P&L, e só agora veio muito forte.”

O CFO notou que 2023 foi um ano marcado ao mesmo tempo pela deflação alimentar e uma forte inflação de custos, “e mesmo assim conseguimos reduzir muito o SG&A,” disse ele. 

Outro número que deve surpreender é a margem bruta do trimestre, que veio em 20%, acima do consenso dos analistas, que esperavam uma margem de 19,3%. 

A margem caiu 1,7 ponto na comparação anual, mas isso ocorreu por fatores não-recorrentes e já conhecidos do mercado. Ano passado, o Carrefour teve um ganho de R$ 270 milhões de uma negociação com as bandeiras de cartões e houve uma redução dos resultados no quarto tri por conta do fim da parceria do BIG com a Hipercard, que operava os cartões da varejista. 

Em 2022, o resultado dessa operação entrava na vertical de varejo porque era uma comissão que o BIG recebia pelas vendas do cartão. Agora, o Carrefour está migrando toda essa operação para o Banco Carrefour, e o resultado está deixando de ser registrado no varejo, impactando os números. 

Na vertical de atacarejo, o Atacadão, a margem bruta subiu de 15,3% para 15,9%. 

A forte redução nas despesas contribuiu para um EBITDA ajustado de R$ 1,875 bilhão, também acima do consenso, que projetava R$ 1,7 bi. O EBITDA caiu 5% na comparação anual, com a margem encolhendo de 7% para 6,7%. 

No trimestre, a operação do BIG fez um EBITDA de cerca de R$ 50 milhões, deixando de ser um detrator do resultado. Quando o Carrefour começou a consolidar a operação em seu resultado, em 2022, o EBITDA do BIG era positivo, mas foi se deteriorando pelos gastos com a integração.

Eric disse que as lojas BIG convertidas em Atacadão estão rodando com uma margem EBITDA a nível loja de 5%, com a maioria delas convertidas há apenas um ano. “É um nível superior ao padrão de maturação das novas lojas, que gira em torno de 4,5% depois de um ano,” disse o executivo. 

Já o bottom line veio negativo em R$ 560 milhões, mas por um impacto não-recorrente e não-caixa do fechamento de lojas deficitárias.

Em novembro, o CEO do Carrefour Brasil, Stéphane Maquaire, anunciou o fechamento de 123 lojas que estavam performando mal, a grande maioria (94) da bandeira Todo Dia, que pertencia ao BIG. 

De lá para cá, ele já vendeu 104 lojas — algumas o imóvel, outras o ponto comercial — e as outras 19 estão em negociações avançadas de venda. Essas lojas tiveram um EBITDA negativo de R$ 212 milhões no ano passado. 

“Eram lojas que representam 1,3% das vendas, mas que eram grande parte do problema, porque você acaba gastando muito tempo com as lojas que dão prejuízo,” disse Eric.

O fechamento dessas lojas gerou um efeito negativo de cerca de R$ 1 bilhão, entre baixas de ágios e valor de marca e despesas de desmobilização. Excluindo esse valor, o Carrefour Brasil teria dado um lucro líquido de R$ 520 milhões. 

Eric disse que o processo de integração do BIG já está na fase final. Segundo ele, o primeiro estágio foi o de converter as lojas e fazer as principais integrações financeiras, o que durou até o segundo tri do ano passado. “Agora estamos na fase de maturação das lojas, que demora de 3 a 4 anos, e de refletir sobre o que pode ser melhorado,” disse ele.

O Carrefour Brasil projeta abrir cerca de 20 lojas neste ano — 10 a 12 do Atacadão e 7 a 10 do Sam’s Club. Todas as aberturas serão feitas por meio de conversões de hipermercados Carrefour. 

Para efeito de comparação, no ano passado o Carrefour abriu 15 lojas do Atacadão.

Segundo Eric, uma das estratégias tem sido explorar o formato ‘combo’, em que a empresa abre uma loja do Sam’s Club e uma do Atacadão no mesmo terreno, o que traz uma sinergia de fluxo de clientes e economias de custos. 

O CFO disse estar otimista com 2024.

“Sob a ótica macro, existe uma perspectiva de aumento do consumo pela queda dos juros e uma normalização dos preços. Sob a ótica micro, estamos vendo um turning point na maturação das lojas e resultados de várias frentes em que estamos atuando, como a implementação de quiosques de serviços nas lojas do Atacadão,” disse ele. 

Eric disse que o Carrefour Brasil já está com a estrutura de capital equacionada, depois de ter levantado R$ 2,5 bilhões em CRAs e debêntures no mês passado, alongando o prazo médio de sua dívida para três anos e garantindo o funding necessário para as amortizações deste ano.

Curiosamente, o Carrefour foi provavelmente a última empresa a levantar um CRA antes da mudança da regulação do Banco Central. Três horas depois da varejista finalizar sua captação, o BC publicou a nova resolução, que teria impossibilitado a operação.