O assunto do dia é o agro, um filão meio esquecido pelas marcas. Elas preferem o Rock in Rio à Festa do Peão de Barretos, apesar de que o Rock in Rio está esquecendo o rock e ficando mais sertanejo. Mas quero dizer que tem treta também nesta coluna hoje. Sim, comemorem. Eu sei que todo leitor ama uma treta.
Então, temos a poderosa da Globo cutucando o YouTube, sem medo de ser feliz. Temos o Nizan tretando com o presidente do Google em evento da Bloomberg, sem medo de ser feliz.
E deve ter tido treta também no fim da parceria da Aldeiah com o Bradesco, mas aqui a gente só conta que o Bradesco agora é AlmapBBDO e Grupo Dreamers.
Ainda tem O Boticário discutindo menopausa no horário nobre da televisão (finalmente alguém resolveu discutir o assunto) e o Mercado Livre querendo vender sem parar na Black Friday (ainda mais agora que tem a taxa das blusinhas). Vem ler. E se tiver tretas para contar, me liga.
O agro não é pop
A Almap acaba de lançar uma nova vertical, o Lab Humanidades, e vai fazer um estudo inédito no País sobre o comportamento dos brasileiros ligados ao agro. O Lab será liderado por Rita Almeida. Tudo ao melhor estilo “Onde vivem? O que comem? O que fazem?”. Nada de robôs. Rita está indo a campo (literalmente) falar com pessoas e pessoas e mais pessoas.
Na primeira incursão, na Festa do Peão de Barretos, já ficou claro como a maioria das marcas subavalia e está pouco presente para esse público. O evento recebeu 900 mil pessoas neste ano, e teve apenas 15 marcas patrocinando. Já o Rock in Rio recebeu 700 mil pessoas e teve mais de 80 patrocinadores. (Vale dizer que o próprio Rock in Rio tem subvertido seu nome e incluiu o sertanejo no festival).
Alguns insights
– Há dez anos, o sertanejo está no topo da lista das músicas mais tocadas no Spotify.
– A Brahma viu rapidamente o poder do sertanejo e foi uma das marcas que transformou a festa de Barretos.
– Ana Castela é hoje a cantora sertaneja que mais se destaca e também a que mais mistura estilos musicais. (e usa um cavalo ao estilo Beyoncé)
– Quase 30 milhões de brasileiros estão ligados diretamente à atividade agrícola.
– Em dez anos, mais de 1 milhão de jovens deixaram o campo para morar na cidade.
– 40% da mão de obra agrícola é feminina.
Quem é a Rita Almeida na fila do pão?
Sabe esse negócio de empreendedorismo na periferia que de repente virou moda na pauta política com a entrada de Pablo Marçal nas eleições? Há mais de dois anos, Rita já dava entrevistas contando como esse movimento estava forte na periferia, puxado pelos jovens, com base nas suas pesquisas de mais de uma década para O Boticário. Ela é uma das maiores publicitárias pesquisadoras do comportamento do brasileiro.
Ana Castela
Se tem alguém que está ligada no poder do sertanejo e da mulher no sertanejo é a Globo. A emissora anunciou durante seu Upfront dois novos programas. Um de moda sertaneja com o cantor Daniel, que vai ao ar aos domingos de manhã. A emissora também vai lançar “Amigas” (no mesmo estilo do “Amigos”), com Ana Castela, Simone Mendez, Lauana Prado e Maiara e Maraisa.
Chuva de farpas
Por falar em Upfront, Manzar Feres, a diretora de negócios da Globo, deu várias cutucadas no YouTube durante seu evento para anunciantes no Auditório do Ibirapuera. Falei com ela de cantinho, no coquetel pós-evento, e ela me contou que nunca havia feito isso antes, mas que precisava confrontar alguns dados que andam sendo divulgados por aí (leia-se: dados que o YouTube divulgou no mesmo palco do Ibirapuera uma semana antes).
Globonomics
Manzar diz que a Globo possui 38% mais audiência do que todas as plataformas de vídeo somadas, gratuitas ou pagas. Ela diz ainda que tem o dobro de consumo da maior plataforma de vídeo online. (O Google informou que há mais adultos 18+ vendo YouTube em uma semana regular do que em cada uma das cinco principais emissoras da TV aberta).
Outro dado apresentado foi a de que 140 milhões de brasileiros assistiram as transmissões das Olimpíadas pela emissora. (A Cazé TV no YouTube diz que teve 43 milhões de usuários únicos vendo as Olimpíadas)
Inimigos, inimigos, negócios à parte
A Globo e o YouTube podem tretar à vontade nesta briga pela audiência, mas o Google é um dos principais fornecedores da emissora dos Marinho. Todos os centros de dados da Globo ficam nas nuvens da Big Tech, e as duas empresas têm um acordo de co-inovação desde 2021.
Quem levou o Bradesco
A verba publicitária do Bradesco, que gira em torno de R$ 1,3 bilhão por ano, vai ser dividida entre a AlmapBBDO e o Grupo Dreamers a partir de 2025. A decisão da concorrência aberta há mais de mês saiu nesta semana.
BTG x Bradesco
Logo no começo da concorrência, o Bradesco confirmou que a Artplan havia sido chamada para a competição. Mas a agência tem como cliente o BTG Pactual e, por isso, não poderia atender a Cidade de Deus. A solução encontrada por Rodolfo Medina foi usar o Grupo Dreamers (dono de várias agências, incluindo a Artplan) e criar a Dreamers.gr, que vai contar com uma equipe própria para atender o Bradescão.
Será o fim da Aldeiah?
A agência Aldeiah foi criada há dois anos e meio por Hugo Rodrigues (o chairman da WMcCann) e o grupo Interpublic para atender exclusivamente ao Bradesco. Como a WMcCann atende o Banco do Brasil, não podia atender o Bradesco.
A Aldeiah ajudou a terminar de apagar o incêndio da crise gerada por uma influencer patrocinada pelo banco que sugeriu aos seus seguidores não comer carne às segundas-feiras. Houve uma crise sem precedentes com os clientes do Agro (só dá agro hoje aqui). A Aldeiah deverá fazer a transição do trabalho para as novas agências contratadas, e até abril vai decidir se fecha ou busca novos clientes.
Pacto Prateado
O Boticário está entrando pesado na conversa sobre a menopausa, um tabu que finalmente (com um século de atraso, eu diria) está entrando na pauta. (Alô, homens, vocês também precisam se inteirar do assunto porque afeta todo mundo, tá?)
O objetivo da empresa, claro, é vender produtos, já que lançou uma linha de skincare especialmente para a pele da mulher que está passando por essa fase. Mas dentro da estratégia de marketing, a CMO Renata Gomide resolveu bancar um movimento chamado Pacto Prateado – para botar o assunto em todo lugar, inclusive dentro da novela Mania de Você.
A mão do MELI
O sucesso da campanha “Tá na mão” — feita pela GUT para a Black Friday do Mercado Livre, no ano passado – foi tamanho (ganhou um Cannes Lions) que a empresa resolveu dobrar a aposta este ano.
Basicamente o sucesso se deu porque a cada vez que alguém apertava as mãos em algum programa da Globo, surgia um QR Code na tela com cupons. As vendas aumentaram 80%. Agora a empresa está ampliando a ação e vai distribuir cupons também com a rainha dos achadinhos, a Maísa, nas redes sociais, e ampliar os anúncios para outras emissoras de televisão.
E o Nizan, hein?
Nizan Guanaes entrou na maior altercação com o presidente do Google, Fabio Coelho, em um evento da Bloomberg ontem. 
Logo na sua primeira participação no painel sobre dilema digital e regulação, Nizan já saiu contando a famosa história da festa de aniversário de sua esposa, cinco anos atrás.
Com direito a Caetano e Gil, a festa em Salvador ia bem quando, de repente, “alguém da imprensa” começou a falar que aquilo era algo racista (por conta de uma foto publicada por Donata Meirelles nas redes), e a controvérsia se instalou.
Depois de o Ministério Público atestar que não havia racismo nenhum ali, Nizan disse que pediu a Fábio para tirar os conteúdos do ar – mas nada aconteceu.
Confrontado, o CEO do Google respondeu que não pode remover conteúdos a seu bel prazer. (Ok, o bel prazer foi por minha conta)
Só sei que lá pelas tantas o Nizan soltou essa: “Não estou sendo muito gentil com você, mas você também não foi gentil comigo, com a minha esposa e com a democracia.”
E pensar que Nizan começou tudo isso dizendo: “Fábio é meu amigo.”
