Luciano Sessim — o ex-vp comercial e de marketing da Petz e ex-CEO da Loja do Mecânico — está assumindo o comando da 1A99, uma rede de lojas de produtos acessíveis que quer reeditar um modelo de negócios que foi febre no Brasil dos anos 90.

Sessim estava há pouco mais de um ano na Loja do Mecânico, onde assumiu como CEO depois de passar mais de sete anos na Petz. Antes, fez uma carreira de duas décadas no Walmart. 

Luciano Sessim ok 2O executivo vê alguns paralelos entre a 1A99 e a Petz.

“O mercado das ‘dollar stores’ no Brasil é muito parecido com o que era o mercado pet quando a Petz surgiu: tem muitas lojas, mas é extremamente pulverizado e não tem nenhuma rede nacional e grande,” disse ele.

Segundo Sessim, existem algumas redes regionais, mas que têm no máximo 10 a 15 lojas. 

A 1A99 foi fundada em 1998 por dois amigos — João Barbosa e Eduardo Mazolini — que começaram com apenas uma loja na cidade de Socorro, no interior de São Paulo. 

No começo, eles vendiam apenas produtos que importavam do Paraguai no modelo tradicional das lojinhas de R$ 1,99. Com o tempo, foram expandindo a proposta para vender também alimentos e produtos com um tíquete maior. (A mudança no modelo de negócios acarretou também uma adaptação no nome das lojas, trocando a vírgula por um ‘A’).

Em 2021, Gregory Reider, que havia acabado de sair do Warburg Pincus, levantou um veículo específico para comprar 42% da empresa, investindo R$ 180 milhões entre uma primária e uma secundária. 

Gregory disse que decidiu investir na 1A99 porque a tese já havia dado certo para a Warburg Pincus. 

Segundo ele, a gestora investiu na britânica PoundLand e ganhou mais de 7x o capital com o aporte. 

Há diversas empresas consolidadas nesse mercado. Nos EUA, há a Dollar General, que vale mais de US$ 30 bi e tem 20 mil lojas, e a Dollar Tree, que vale US$ 25 bilhões e tem 15 mil. No Canadá, a Dollarama, com mais de 1.200 lojas. 

“Quase metade de todas as lojas que abrem nos EUA hoje são ‘dollar stores’,” disse Gregory. “E a razão para isso é que é um modelo à prova de ecommerce, porque o preço médio é muito baixo, então não vale a pena comprar online.”

Por enquanto, a 1A99 tem 65 lojas e faturou R$ 350 milhões no ano passado. Desde que Gregory investiu na empresa, ela cresceu a uma taxa anual composta de 20%, com praticamente todo o crescimento vindo de melhorias no portfólio de lojas e no mix de produtos.

De 2021 para cá, a 1A99 fechou algumas lojas e abriu outras, mas em termos líquidos manteve o mesmo tamanho.

Segundo Sessim, o plano é continuar focando este ano em ajustes do modelo e das categorias. Mas quando as lojas estiverem azeitadas, a ideia é iniciar um plano agressivo de expansão, o que deve acontecer a partir de 2025.

A meta é chegar a 1.000 lojas nos próximos dez anos — focando em cidades pequenas do interior. 

Para bancar essa expansão, os acionistas da companhia (o fundo de Gregory e os dois fundadores) injetaram mais R$ 30 milhões na empresa este ano, o que deve permitir abrir mais 30 lojas. 

“Ainda não definimos quantas lojas vamos abrir por ano, mas no passado já chegamos a abrir 17 lojas em 1 ano, então temos capacidade para chegar nisso,” disse Gregory. 

Tipicamente, as lojas da 1A99 tem de 6 mil a 7 mil SKUs, divididos em quatro grandes categorias: alimentos de indulgência, como salgadinhos, snacks e chocolates; utensílios domésticos, importados e nacionais; bazar, com produtos para casa; e higiene e beleza, com foco em acessórios.

Hoje metade das vendas vem de alimentos. A ideia, no entanto, é aumentar a participação das outras três categorias, já que todas têm uma rentabilidade maior. 

A 1A99 teve seu terceiro ano consecutivo de EBITDA negativo no ano passado, mas a meta é chegar ao breakeven este ano. 

Segundo Gregory, a margem negativa tem a ver com a decisão de aumentar as contratações no C-Level. “Estamos com uma estrutura que é para uma empresa muito maior do que ela é hoje. Mas com o tempo essas despesas serão diluídas,” disse o investidor. 

Ele lembrou o exemplo da Petz, que chegou a ter as despesas da holding representando 11% do faturamento, um percentual que caiu para 4% hoje. No caso da 1A99, esse percentual está em 8,5%.