A J&F Investimentos, a holding dos irmãos Batista, vai pagar R$ 4,7 bilhões pelo conjunto de térmicas a gás da Eletrobras — num acordo mais amplo que deve levar à aquisição também da Amazonas Energia.
A transação, que está sendo feita pela Âmbar Energia, controlada pela J&F, envolve os 13 ativos térmicos da Eletrobras, que tem uma capacidade somada de 2 GW e prazo de contratação de 2 a 6 anos.
Esses ativos fizeram uma receita de R$ 2,4 bilhões no ano passado, com um EBITDA de R$ 1,1 bilhão.
A Eletrobras já havia colocado essas térmicas à venda desde julho do ano passado, dentro de sua visão estratégica de sair de fontes de energia poluentes e focar apenas nas renováveis. Na época, a companhia contratou o Morgan Stanley, e chegou a receber sondagens da Eneva.
O preço da venda inclui um earnout de R$ 1,2 bilhão, cujos termos não foram divulgados.
Como parte do acordo, a Eletrobras concordou em transferir todos os créditos que tem contra a Amazonas Energia — no caso de uma transferência de controle da distribuidora. (Hoje, há mais de R$ 6 bilhões provisionados, mas o valor de mercado desses créditos é menor, já que a chance da Eletrobras receber era baixíssima).
Uma fonte próxima à Amazonas Energia disse ao Brazil Journal que o acordo deve levar à aquisição da distribuidora por parte dos irmãos Batista — resolvendo uma situação problemática para o Governo.
A Amazonas Energia enfrenta sérios problemas financeiros há décadas e o Governo vinha estudando uma intervenção na empresa ou um processo de caducidade, com o encerramento precoce da concessão.
“Os irmãos Batista vão levar o filé mignon, que são os ativos térmicos, mas em troca vão ajudar o Governo a resolver a situação da Amazonas Energia, que estava completamente quebrada,” disse essa fonte, acrescentando que essa é de longe a solução menos traumática para o sistema.
O acordo incluiu ainda uma opção de compra para a Eletrobras que dá o direito de capturar parte do benefício econômico de um eventual turnaround da Amazonas Energia. Os termos dessa opção também não foram revelados, mas a especulação do mercado é que ele tenha se espelhado no modelo da Cemar, que também passava por problemas, e onde a Eletrobras manteve uma participação minoritária quando vendeu o ativo para a Equatorial.
Os problemas da Amazonas Energia começaram muito antes da privatização.
A companhia — que antes era controlada pela Eletrobras — já vinha entregando resultados negativos desde 2007, quando ela foi criada com a incorporação da Ceam (que tinha a concessão da distribuição de cidades do interior do Amazonas) pela Manaus Energia (que tinha a concessão da capital e dos entornos).
“O problema lá é de uma disfunção estrutural da concessão, que foi desenhada de forma inadequada para uma área que é muito suscetível a perdas e que opera com vários sistemas isolados, que têm custos altos,” disse uma fonte a par do assunto.
“A privatização simplesmente passou para frente esse legado maldito. Quando foi feito o ‘bid’, deveriam ter pensado numa mudança do contrato, mas isso não ocorreu.”
Na privatização, que ocorreu em 2019, o comprador foi o Grupo Oliveira Energia, controlado pelo empresário Orsini Oliveira, que tem vários ativos de geração na região, além de ter comprado também a Roraima Energia.
“Uma prova de que não é um problema de gestão é que a Roraima Energia, que tem a mesma gestão da Amazonas, está indo bem financeiramente,” disse a fonte.
Para viabilizar a compra da Amazonas pela J&F, o Governo terá que mudar os termos do contrato de concessão, o que poderá ser feito por meio de uma Medida Provisória (MP), a ser publicada nos próximos dias.