Desde que abriu sua primeira loja nos Estados Unidos em 1989, a Inditex, dona das marcas Zara, Pull&Bear e Bershka, tem sido cautelosa em sua expansão na região.
De lá para cá, a rede só abriu 101 Zaras nos EUA, menos de 2% do total de 5,8 mil lojas que a rede tem ao redor do mundo.
Agora, no entanto, o CEO Óscar García quer pisar no acelerador e abrir 30 novos “projetos” no país nos próximos dois anos — incluindo novas lojas, realocações e ampliações.
O plano inclui aberturas em cidades como Nova York, Boston, Charlotte, Los Angeles, Las Vegas e Dallas, segundo o Financial Times.
“Os Estados Unidos é um mercado onde para cada US$ 100 de vendas de roupas ficamos com menos de US$ 0,50. Então vemos oportunidades de crescimento muito fortes,” García disse recentemente numa call de resultados.
A expansão nos EUA vem em meio ao processo de saída da Inditex da Rússia, até agora seu segundo maior mercado, atrás apenas da Espanha. (A Inditex está negociando com um operador local para assumir suas lojas.)
Em outubro, a companhia anunciou que venderia suas mais de 500 lojas no país e que não pretendia voltar ao mercado russo até que a situação da guerra se resolvesse.
Com a saída da Rússia, os Estados Unidos vão se tornar o segundo maior mercado da Inditex em faturamento, respondendo por cerca de 7% da receita — ainda que as lojas representem apenas 2% do total.
A expansão nos EUA faz parte de um plano de investimentos de € 1,6 bilhão que a companhia anunciou no início do ano. Os recursos serão usados para a abertura ou expansão de lojas ao redor do mundo, com foco em lojas grandes, que tenham uma área de vendas 30% maior que a média atual.
O plano da Inditex não será fácil. Concorrentes espanhóis como a Mango têm ambições similares nos EUA, mas têm esbarrado num mercado difícil, que alguns analistas dizem já estar saturado de lojas. Ao mesmo tempo, o consumidor americano está sofrendo com a inflação, reduzindo seus gastos.
A Inditex também terá que competir com a Shein, cujas vendas nos Estados Unidos já haviam ultrapassado as vendas da Zara e da H&M — somadas — em 2021, segundo dados da YipitData.
A H&M tem cerca de 500 lojas no mercado americano; analistas do UBS dizem que a Zara poderia buscar atingir uma densidade semelhante no país, multiplicando sua presença atual por cinco vezes, segundo a Barron’s.
O novo direcionamento estratégico da dona da Zara vem em meio a uma mudança relevante no comando da empresa. Garcia assumiu como CEO há pouco mais de um ano, e Marta Ortega — a filha do fundador Amancio Ortega — assumiu como chairwoman, substituindo Pablo Isla, que deixou a companhia depois de dez anos no cargo.
Na época, a passagem de bastão para uma nova geração de executivos foi vista com ceticismo pelo mercado. Marta tem apenas 37 anos e trabalhou praticamente a vida inteira na Inditex, mas analistas acharam que o processo de sucessão foi prematuro e mal planejado.
Já Garcia é um advogado de 48 anos com praticamente nenhuma experiência no varejo. Ele trabalhou a vida inteira no setor financeiro e, antes de assumir a Inditex, era um executivo sênior do Santander.
Por enquanto, no entanto, os resultados têm agradado o mercado. No ano passado, a Inditex aumentou suas vendas em 17,5% para € 32,6 bilhões, e deu um lucro líquido de € 4,1 bilhões, uma alta de 27%. O faturamento já superou o nível pré-pandemia em 15%.
A companhia negocia a € 30,45, um múltiplo de cerca de 20,5x o lucro estimado para este ano — um desconto de 10% em relação à sua média histórica. Para efeito de comparação, a Renner hoje negocia a 12x o lucro deste ano.