Depois de seduzir os minoritários da Sanepar com juras de estabilidade regulatória para logo em seguida abandoná-los no altar da conveniência política, o Governo do Estado acaba de aprontar outra — na verdade, mais do mesmo.
 
No final de março, o conselho da Copel acatou uma proposta da diretoria para a destinação do lucro líquido de 2016. Pela proposta, a Copel pagaria um dividendo não inferior a 25% do lucro daquele ano — o mínimo previsto na Lei das SA.
 
Mas há 10 dias, na assembléia geral ordinária da empresa, o Governo do Paraná — que controla a Copel com 58,6% das ações votantes — detonou aquela proposta e, em seu lugar, aprovou o pagamento de 50% do lucro líquido. Com isso, em vez de pagar R$ 253 milhões, a Copel distribuirá este ano R$ 506 milhões a seus acionistas, com o Paraná embolsando cerca de R$ 150 milhões.
 
O BNDES, dono de 24% do capital da Copel, votou contra.
 
Outros acionistas também registraram seu inconformismo em ata, afirmando que, com o pagamento mais generoso, “a exposição a risco seria muito alta em razão dos ‘covenants’ [compromissos com os credores] assumidos pela Copel, e que a proposta originalmente apresentada fora aprovada por unanimidade pela Diretoria Executiva, pelo Conselho de Administração e com parecer do Conselho Fiscal.”
 
A manobra na Copel mostra o Estado colocando sua necessidade de liquidez imediata à frente dos interesses da companhia, que tem um horizonte de longo prazo e requer investimentos de capital.
 
 
“A companhia já teria dificuldade em cumprir os 25% dada a administração do seu fluxo de caixa; imagina os 50%,” diz um acionista. “O Governo não está pensando na população do Paraná.”
 
Mas a estória ainda pode ter outro desdobramento nocivo.
 
Segundo o repórter Euclides Lucas Garcia, da Gazeta do Povo, o diretor de finanças e relações com investidores da Copel, Luiz Eduardo Sebastiani, “foi comunicado pelo Palácio Iguaçu que será substituído do cargo. Ex-secretário de Finanças da prefeitura de Curitiba e ex-secretário estadual de Administração, da Casa Civil e da Fazenda – sempre nas gestões Beto Richa – Sebastiani foi o porta-voz do comando da Copel na defesa da manutenção do porcentual de 25%.”
Garcia diz na reportagem que conselheiros da Copel externaram “desalento e perplexidade” com a possível demissão do CFO, e que, apesar dos anos de lealdade a Richa, “a divergência com quem o nomeou para o cargo não foi perdoada.” 
 
A demissão ainda não foi confirmada.  Por enquanto, a Copel informa que Sebastiani continua CFO.
 
Mas se for adiante com a vendetta, Richa pode descobrir que o mercado lida com o perdão tão mal quanto ele.
 
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A propósito, o conselho da Copel acaba de ser renovado:  Sandra Guerra e Sergio Weguellin, conselheiros eleitos com os votos do BNDES, acabam de dar lugar a Leila Loria e Olga Colpo.