Quase 20 anos atrás, quando eu era um jovem repórter sedento por entender o funcionamento dos mercados, tive a sorte de conhecer Luiz Kléber Hollinger da Silva, o ‘Klebinho’, então dono de uma pequena corretora de ações em Ipanema, a AmericaInvest.
 
Passei a frequentar sua sala de operações e aprendi, em poucos anos, mais do que aprenderia em toda uma vida não fosse por ele.  Mas ainda ganhei um bônus, impossível de precificar:  para além da relação fonte-repórter, começamos uma amizade que duraria anos.
 
Um ‘old wise man’ que conhecia histórias hilárias e sensacionais, Klebinho começara no mercado nos anos 70, atravessou com dificuldade os 80, passou a ter esperança de ganhar dinheiro nos 90 e finalmente viu a Bovespa deslanchar nos anos 2000.
 
Uma vez — se não me engano no fim dos anos 80 — alguém lhe convidou para jantar com um jovem, brilhante e desconhecido economista que acabara de voltar do MIT.  Mas choveu naquela noite, e Klebinho acabou não indo conhecer o tal… Daniel Dantas.  Pra quê?   “Hoje eu podia ser o principal broker do Opportunity,” lamentava-se.
 
Ali por 2007, num de nossos jantares semanais, Klebinho me falou muito animado de ‘uns garotos do Sul’ que tinham um negócio de educação e queriam lhe comprar a corretora.
 
A conversa evoluiu, Klebinho me apresentou aos garotos — Guilherme Benchimol e Marcelo Maisonnave — e lhes vendeu a AmericaInvest em troca de alguma grana e 2% da XP Investimentos, que apenas a partir daquela transação se tornou uma corretora.
 
O resto é história.
 
Klebinho já havia dado a ‘porrada’ de sua vida quando a Bovespa fez seu IPO.  Como os donos de corretora passaram a ser acionistas da Bovespa, Klebinho ficou rico.  Mas, algum tempo depois, me disse sobre o negócio com a XP:  “Nessa aí vou dar uma ‘porrada’ ainda maior.”  
 
Klebinho comemorava quando sua opção de Vale ou Petro explodia, mas não se queixava quando virava pó.  “Mercado tem todo dia,” dizia.
 
Nunca teve terminal Bloomberg nem modelos sofisticados: operava com o estômago e a experiência.
 
Mas mais que um homem ‘de mercado’, Klebinho era um homem de bem, que sempre dormiu ‘comprado’ na generosidade e ‘short’ na mesquinharia.  Sua alegria contagiava. 
 
“Segue o Velho!”, me ordenava, brincando — era o bordão que criara para si mesmo, evocando sua vasta experiência de vida.
 
Depois de lutar contra uma leucemia ao longo do ano passado, Klebinho não resistiu ao segundo assalto e faleceu ontem no Rio.
 
Quando o mencionei ao final de um post ano passado, me ligou para agradecer rindo muito:  adorava a fama (apesar de nunca ter sido famoso) e o reconhecimento.
 
Este repórter perdeu um amigo (distante nos últimos anos), uma inspiração e um exemplo.
 
Decidi escrever sobre este luto porque sei que muita gente sentirá o mesmo. Ninguém passa incólume pela convivência com um cara assim.
 
***
 
Nas fotos abaixo, Klebinho em evento da XP, em julho deste ano.
 
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