

Amos Genish renuncia à presidência da Vivo

Amos, que se tornou CEO em maio do ano passado, será substituído por Eduardo Navarro de Carvalho — o atual ‘chairman’ da empresa — a partir de 1 de janeiro. Até o final do ano, os dois trabalharão juntos num processo de transição, e Amos continuará a integrar o conselho da empresa, dona de 29% do mercado de telefonia celular com a marca Vivo.
A renúncia de Amos é um golpe para a Telefonica, cuja narrativa na Bovespa estava intimamente ligada à figura do empreendedor, que fundou e vendeu a GVT para a Vivendi e mais tarde para a Telefonica por US$9,4 bilhões.
Amos apresentou sua renúncia ao conselho de administração da Telefonica na sexta-feira, mas a empresa publicou um fato relevante apenas no domingo à noite.
A Telefonica disse que Amos vai liderar seu recém-constituído Comitê de Estratégia, que contará também com dois outros conselheiros da empresa: Ángel Vilá Boix e Luiz Fernando Furlan.
Em seu breve período à frente da empresa, Amos liderou o processo de integração com a GVT, fez um grande esforço de corte de custos, robusteceu o chamado ‘quadriplay’ (a oferta conjunta de banda larga, TV a cabo, telefonia celular e fixa) e comprou uma briga pública com o Whatsapp, chamado por ele de ‘serviço pirata’. Em julho, a demissão da diretora de marketing da Telefonica foi cercada de controvérsia depois que o Valor Economico reportou que a Telefonica estava fazendo uma investigação interna em contratos com agências, algo que a empresa negou dias depois.
Amos e o CFO da Telefonica, David Melcon, farão uma teleconferência com investidores nesta segunda para explicar a renúncia.
Navarro, o novo CEO — um ex-consultor de telecom da McKinsey que começou sua carreira na Telefonica em 1999 — já ocupou diversos cargos na empresa mas não é conhecido no mercado financeiro, o que é comum na cultura fechada da Telefonica.
Atualmente, ele ocupa um cargo executivo na holding espanhola, onde é ‘diretor-geral comercial digital’. No Brasil, trabalhou em vários processos de M&A da Telefonica — experiência que lhe será útil num momento de potencial consolidação do setor — e já foi o vp de estratégia corporativa e assuntos regulatórios da Telefonica Brasil. Na Telefonica Internacional, já foi diretor de planejamento estratégico, participando do comitê executivo do grupo e dos conselhos de várias de suas subsidiárias.
Amos — um ex-capitão do exército israelense que se formou em economia e contabilidade pela Universidade de Tel-Aviv, sua cidade natal — começou a carreira na KPMG. Em 1997, se envolveu com a Global Village Telecom, fundada pelo empreendedor de tecnologia Shaul Shani com US$ 50 milhões de investidores. (Shani era o CEO e Amos, o CFO).
A GVT original era uma empresa de telefonia por satélite operando em lugares remotos da América do Sul, como regiões de selva do Peru, Colômbia e Chile.
O Brasil apareceu no mapa em 1999: como parte do processo de privatização da Telebras, a GVT comprou a licença para operar como empresa-espelho da Tele Centro Sul, o spinoff da Telebras que ficou mais conhecido como Brasil Telecom. Enquanto a ex-estatal sofria com metas de universalização e um conflito entre seus controladores, a GVT prosperava com uma cultura de startup e sem o fardo da regulação pesada.
O resto — passando pela sobrevivência da empresa ao estouro da bolha da Nasdaq em 2002 e o IPO da empresa em 2007 — foi uma longa história de geração de riqueza para os acionistas, o que rendeu a Amos a admiração e lealdade de investidores.