A Vinci Compass acaba de anunciar a aquisição da Verde – cujo histórico de performance fez de Luis Stuhlberger o gestor mais respeitado do Brasil – numa transação que marca sua entrada em multimercados e traz complementaridade de produtos e no passivo.
A transação une a Vinci – que tem crescido por meio de aquisições e hoje administra mais de R$ 300 bilhões – a uma placa que tem R$ 16 bilhões em ativos e opera desde 1997, batendo consistentemente o mercado.
Enquanto a Vinci é focada principalmente em crédito e private equity e tem um passivo mais concentrado em institucionais brasileiros e internacionais, a Verde opera com fundos multimercado, de ações e de previdência, e tem um passivo concentrado no varejo.
Alessandro Horta, o CEO da Vinci, disse que Stuhlberger “é o maior alocador de capital na história do Brasil. Não tem ninguém que faz isso de forma tão consistente e com um track record tão comprovado como o dele.”
Como a maior parte da estratégia de alocação de capital da Vinci hoje é fora do Brasil, “o Luis vai poder contribuir enormemente nessa parte de asset allocation global,” disse Horta.
Apesar de uma performance mais tímida nos últimos quatro anos, que levou a uma queda dramática dos recursos sob gestão, o fundo Verde – o flagship da casa – ainda conseguiu bater o CDI no período.
Em 2021, no high, o Verde chegou a administrar R$ 52 bilhões. Em 2023, o AUM já havia caído para R$ 28 bilhões, em meio à concorrência brutal com os produtos isentos de imposto (como CRIs e LCIs) e um período de juros elevados.
A transação avalia a Verde em cerca de R$ 350 milhões – sem considerar potenciais earnouts – e será feita em duas fases.
Na primeira, a Vinci está pagando R$ 221 milhões por 50,1% da Verde, majoritariamente em ações, com os acionistas da Verde recebendo ações avaliadas a US$ 33,2 milhões no preço de tela (R$ 175 mi no câmbio de hoje), e mais R$ 46,8 milhões em dinheiro.
Na segunda fase, que vai ocorrer daqui a cinco anos, a Vinci vai adquirir os 49,9% restantes também pagando em ações e dinheiro — com a proporção ficando a cargo da compradora. A estimativa é que o valor desembolsado nesta etapa seja de R$ 127,4 milhões, mas ele pode variar dependendo do earnout.
A Vinci vale US$ 677 milhões na Nasdaq, com sua ação subindo 7,5% nos últimos doze meses.
A Lumina Capital Management, de Daniel Goldberg, que tem 25% da Verde, está vendendo sua participação pro rata e continuará no negócio.
Para a Verde, a transação é uma forma de perpetuar o legado de Stuhlberger, e acontece num momento desafiador para as gestoras independentes.
“A indústria de multimercados e assets está passando por uma fase difícil por várias razões: uma má performance coletiva pelo crescimento acelerado do setor, e a competição com os títulos isentos, que tem feito as gestoras perderem ativos,” Stuhlberger disse ao Brazil Journal.
“Avaliamos que a melhor estratégia para superar isso e retomar a rota de crescimento seria fazer uma transação societária com alguém que tivéssemos afinidade e nos ajudasse a voltar a crescer. A Vinci tem todas essas qualidades.”
Como parte da transação, Stuhlberger está se comprometendo a ficar pelo menos mais cinco anos à frente da Verde, que continuará com a gestão independente mesmo após a transação.
“Meu compromisso é de no mínimo cinco anos, mas da forma como o deal está estruturado existe a possibilidade de eu continuar por muito mais tempo, porque gerir patrimônio é o que gosto de fazer na vida. É a minha paixão. Então a chance de eu continuar fazendo isso na estrutura da Vinci depois dos cinco anos é enorme,” disse ele.
A principal sinergia da transação é na distribuição. Horta disse que 62% do capital da Vinci vem de investidores institucionais, enquanto na Verde “esse percentual é bem baixo.”
“Esse é o low-hanging fruit: usar essa nossa base de distribuição para oferecer os produtos da Verde e aumentar os ativos deles,” disse ele. “Mas além disso, temos expertises setoriais que geram um pool de informações qualificadas e de oportunidades para o Verde. Tem oportunidades que aparecem nos setores que atuamos que não cabem no nosso mandato ou que transbordam em volume e a Verde vai poder avaliar essas oportunidades.”