A ação da Lojas Renner mergulhou 14% hoje depois da varejista reportar um resultado do quarto tri abaixo das expectativas do sellside e com um bônus elevado que irritou parte dos investidores.

O volume no papel foi 5x a média diária.

A receita da companhia veio em linha com o consenso, com a Renner entregando um crescimento de 10% ano contra ano no varejo, para R$ 4,2 bilhões, e um same-store sales de 8,9%. 

Fabio FaccioO problema veio um pouco mais embaixo, na margem bruta. Enquanto os analistas esperavam uma expansão desse indicador, a Renner entregou uma leve queda, impactada por uma despesa com vendas maior do que o esperado.

A margem bruta do varejo ficou em 55,8%, em comparação aos 55,9% do quarto tri do ano anterior. 

“Todo mundo estava esperando um ganho de margem, com uma diluição dos custos. Eles falaram que a queda foi por conta de um maior AVP [o ajuste a valor presente de vendas a prazo], mas mesmo excluindo isso houve um miss de 0,5 ponto em relação a expectativa do mercado,” disse um gestor comprado no papel.

O EBITDA também veio abaixo do consenso, em cerca de 7%. 

A Renner reportou um EBITDA do varejo de R$ 963 milhões, 4% menor ano contra ano. Esse indicador foi impactado pela margem bruta menor e por um maior PLR (participação nos lucros e resultados) do que o mercado esperava. 

A Renner pagou R$ 150 milhões em PLR no ano, em comparação aos R$ 25 milhões de 2023 e aos R$ 13 milhões de 2022. O número foi maior até mesmo do que o de 2019 — o melhor ano da história recente da Renner e quando a companhia pagou R$ 96 milhões em PLR.

Na call com analistas, o CEO Fabio Faccio disse o profit share “foi equilibrado com nosso histórico e em níveis semelhantes aos de 2019, quando tivemos um pagamento normalizado. O ponto fora da curva foi 2023.”

Segundo ele, o PLR é definido com base em metas ligadas a receita, EBIT e ROIC.

“Em 2023 ficamos abaixo nessas métricas, por isso o número foi reduzido. O de 2024 cresceu muito porque o de 2023 tinha sido muito baixa.”

O gestor não engoliu o argumento. “Como eles pagam um bônus tão alto com um resultado ruim desses?” disse ele. “E em relação ao lucro, o pagamento foi até maior que o de 2019, só foi igual se você olhar a receita. Mas aí teria que chamar de ‘participação sobre a receita’ e não sobre o lucro.”

Segundo esse gestor, em 2019, o PLR havia representado 1,14% da receita e 9% do lucro. Neste ano, o PLR representou 1,19% da receita e 12,5% do lucro. 

Outro destaque negativo do trimestre foi o lucro líquido, que caiu 7,5% na comparação anual, para R$ 487 milhões.

Na call com analistas, o CEO da Renner reiterou a mensagem de que a empresa vai continuar buscando crescimento com rentabilidade, mas disse que o cenário para 2025 é “desafiador”.

O executivo disse ainda que no ano passado todo o crescimento do top line veio de volume, com a companhia não repassando preços e até reduzindo os preços de alguns produtos. Em 2025, essa dinâmica deve mudar, e a Renner deve fazer alguns repasses de preço, mas abaixo da inflação. 

“Neste ano, o crescimento não virá só de volumes de peças e transação, mas de preço também. Ainda assim, achamos que a maior parte do crescimento vai continuar vindo de volume.”

A companhia também pretende acelerar suas aberturas de lojas depois de dois anos de uma expansão muito fraca. Em 2023, a Renner abriu apenas uma loja em termos líquidos (entre aberturas e fechamentos), e no ano passado, 14.

Para este ano, a expectativa é abrir entre 25 a 35 lojas e não fechar nenhuma, já que o trabalho de limpeza do portfólio já foi concluído, disse o CEO.

Das aberturas, a maior parte será da marca Renner (entre 15 e 20), e da YouCom (entre 10 e 15). As aberturas de Camicado serão marginais. 

Faccio disse ainda que o plano é abrir as novas lojas da Renner em cidades onde a companhia ainda não está presente, já que esse perfil de abertura tem mostrado um resultado positivo, com um P&L melhor do que lojas da mesma safra e sem o risco de canibalização.

“Para a Youcom ainda tem oportunidades boas em grandes praças. E achamos que a marca tem potencial para dobrar de tamanho,” disse ele.

Hoje, a Renner tem 445 lojas, a Youcom, 135, e a Camicado, 103. 

Para o gestor, a Renner deveria ser mais agressiva nas aberturas, já que 35 lojas para o tamanho da base da companhia é algo que mexe pouco o ponteiro. 

“A Youcom é um negócio que deu certo. Um modelo que se provou. Mas eles não apertam o acelerador. Parece que falta um pouco de coragem,” disse o gestor.

Para ele, o grande problema da Renner é que, no passado, ela era uma corporation com um dono (o CEO José Galló). “Hoje, ela é uma corporation sem um líder e sem gestão.”