A Zamp – a dona do Burger King Brasil e do Popeyes – fechou o ano com uma rentabilidade acima do consenso de mercado, um reflexo da alavancagem operacional do negócio e de ganhos de eficiência com o aumento das vendas nos canais digitais.
A margem EBITDA do quarto trimestre, reportado agora há pouco, ficou em 20,3%, enquanto os analistas esperavam 17,4%.
A margem bruta de 66% também surpreendeu: foi a maior da história da companhia e 2,2 pontos percentuais acima da média das projeções dos oito bancos que cobrem a empresa.
O CEO Ariel Grunkraut disse que o resultado mostra que o negócio de alimentação – e o de fast food em especial – continua resiliente.
“No quarto trimestre, quase todos os varejistas tiveram compressão de margem e vendas mais difíceis, mas conseguimos fugir desse furacão,” Ariel disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, a companhia tem conseguido ser mais cirúrgica na precificação dos produtos, repassando preços em linha com a inflação e dando descontos de forma mais seletiva com base num programa de CRM que já tem mais de 11 milhões de inscritos.
Ariel disse que a melhora da rentabilidade teve a ver com a alavancagem operacional do negócio – a diluição do custo fixo com o aumento das vendas – e com o aumento da penetração dos canais digitais nas vendas totais.
As compras feitas nos totens de autoatendimento e no app têm tíquete médio de 5% a 10% maior que as vendas no caixa, e uma margem também superior, disse o CEO.
Isso acontece porque, quando o cliente faz o login no app ou no totem, o BK tem acesso ao histórico de compra e consegue sugerir mais produtos. Além disso, sugere produtos com margens maiores, como sobremesas.
Hoje, 60% das lojas do BK têm totens de autoatendimento e o plano é aumentar a penetração para 80%.
A Zamp fechou o quarto tri com receita líquida de R$ 1,05 bilhão, EBITDA ajustado de R$ 214 milhões e lucro líquido de R$ 44 milhões (quase o dobro das projeções dos analistas).
As vendas no conceito ‘mesmas lojas’ – que consideram apenas os restaurantes abertos há mais de 12 meses – cresceram 13% no Burger King Brasil e 8,1% no Popeyes.
A companhia abriu 35 novas lojas no quarto tri, elevando as aberturas do ano para 49, um pouco abaixo do guidance de 60 aberturas dado há um ano.
A companhia tem 990 lojas.
Ariel disse que o plano para este ano é dobrar as aberturas, voltando ao ritmo pré-pandemia. A ideia é abrir entre 80 e 100 lojas, sendo 60% lojas próprias e o restante franquias.
Em termos de marcas, 60% das novas lojas devem ser do BK, todas no modelo de rua, e o restante do Popeyes, com foco em shopping centers.
O CFO Gabriel Guimarães disse que um dos grandes destaques do ano foi o fato da companhia ter conseguido financiar os investimentos em novas lojas com a geração de caixa operacional, que somou R$ 459 milhões no ano.
“Conseguimos fazer um capex de mais de R$ 350 milhões só com a geração de caixa,” evitando tomar dívida num Brasil de juros altos e restrição de crédito, disse ele.
Como guidance para 2023, a companhia projeta aumentar o capex de 15% a 20%, com um crescimento igual ou maior na geração de caixa, o que vai manter o free cash flow no breakeven ou no campo positivo.
No trimestre, a alavancagem do Zamp caiu de 1,8x para 1,5x o EBITDA dos últimos 12 meses.
Apesar do capex relevante, o Zamp recomprou mais de 9 milhões de ações no ano passado, gastando R$ 60 milhões.
Para este ano, dado o cenário mais complexo do mercado, a ideia é não abrir um novo programa de recompras nem voltar a pagar dividendos.
“Estamos com um foco muito grande em fazer a geração de caixa operacional suportar o nosso plano de crescimento,” disse o CFO. “Mas olhando mais para a frente, essa ideia [de pagar dividendos] é uma discussão da companhia.”
O Zamp vale R$ 1,4 bilhão na B3. O papel fechou o dia a R$ 5,08, em alta de 5,8%.