A multiplicação dos peixes aconteceu mais uma vez.

A Frescatto Company, que já era a maior produtora de peixe para o varejo do País, anunciou uma fusão com a pernambucana Prime Seafood. A transação cria uma empresa com faturamento pro forma de R$ 1,6 bilhão no ano passado e previsão de encerrar este ano com R$ 2 bilhões em vendas.

A consolidação reforça a posição da Frescatto como a maior empresa do setor.

A Frescatto faturou R$ 1,3 bilhão no ano passado; a Prime vendeu R$ 300 milhões.

O CEO da Frescatto, Thiago de Luca, membro da terceira geração da família fundadora, seguirá no comando. Eduardo Lobo, sócio e CEO da Prime, ocupará uma diretoria da empresa e terá uma cadeira no conselho.

O negócio foi feito por meio de troca de ações, mas a empresa não divulgou as participações de cada sócio.

“Resolvemos rapidamente as questões societárias pois temos muita convicção nessa união,” De Luca disse ao Brazil Journal.

Os negócios da Frescatto e da Prime são complementares.

A Frescatto, que acaba de completar 80 anos, é voltada para o mercado local: vendeu 28 mil toneladas de pescados frescos para 12,5 mil clientes no Brasil em 2023, com destaque para o salmão importado do Chile e o camarão cinza.

Já a Prime é a maior exportadora de pescados do País. Cerca de 60% de seu faturamento vem da lagosta viva, pescada numa região que cobre todo o litoral do Nordeste até o Espírito Santo.

O principal mercado de exportação é a Ásia, especialmente a China.

A transação acontece num momento em que, depois de seis anos, o mercado europeu pode reabrir para os pescados brasileiros este ano. A proibição aconteceu em 2018 após a União Europeia acusar o pescado brasileiro de não ter padrões sanitários compatíveis com o mercado europeu.

O Brasil foi pressionado e, no ano passado, o Ministério da Pesca estabeleceu uma portaria para criar critérios de controle de conformidade das condições de higiene.

Agora, o País aguarda a visita de inspetores da autoridade sanitária europeia para validar as regras. “As vendas para a Europa representavam 40% das exportações do Brasil. Então, dá para ficar bastante otimista com essa volta,” disse De Luca.

O executivo enxerga ainda mais potencial para o mercado local. Afinal, o brasileiro ainda consome pouco peixe em relação ao resto do mundo: 11 quilos por habitante/ano, enquanto a média global é de 23 quilos.

Segundo De Luca, a proliferação de restaurantes japoneses têm ajudado no processo de popularização dos peixes. “Agora, até as crianças estão comendo peixe cru e gostando,” disse ele.

Por isso, a Frescatto já está pensando em expansão. Um dos próximos passos será aumentar sua penetração no varejo físico com lojas próprias. A empresa, que tem duas unidades no Rio de Janeiro, deve estrear em São Paulo no próximo ano.

Para o futuro, a verticalização pode ser o caminho, disse De Luca. Assim como a pecuária antigamente, o setor pesqueiro é dominado por informais. Resultado: diversas denúncias de pesca predatória ou ilegal no País.

“Não vemos com maus olhos a verticalização, mas acho que por agora precisamos ter um foco. E a Frescatto sempre foi conhecida pela ótima distribuição, e a Prime, pela exportação,” disse.

No curto prazo, a Frescatto deve investir R$ 60 milhões para ampliar um frigorífico no Rio de Janeiro. A empresa também vai direcionar R$ 10 milhões para um centro de distribuição em São Paulo.