A Stone reportou mais um trimestre desapontador, desta vez afetado pelo crescimento das despesas financeiras, que dobraram em relação ao segundo tri em função da alta dos juros.
A ação mergulhou 10% no after hours para cerca de US$ 28, um novo 52-week low.
“O resultado da Stone não veio dentro do esperado porque investimos mais e também pelo aumento absurdo da taxa de juros,” Augusto Lins, presidente e sócio da Stone, disse ao Brazil Journal.
“O nosso negócio tem uma componente ligada à antecipação de recebíveis, e a alta dos juros impactou sobremaneira o nosso custo de funding. Por conta disso, tivemos muito mais despesas financeiras do que o mercado projetava.”
Em outras palavras: a Stone não está conseguindo repassar ao cliente o aumento em seu custo de funding.
A receita líquida da Stone cresceu 57,3% para R$ 1,47 bilhão, refletindo pela primeira vez a consolidação da Linx (ex- Linx, a receita teria crescido 29%).
O lucro líquido ajustado caiu 54% para R$ 132,7 milhões. (Esse resultado exclui o valor do investimento feito pela Stone no Inter, que teve oscilação negativa de R$ 1,3 bilhão e foi marcado a mercado.)
“A Stone tem R$ 14 bilhões em capital levantado,” disse um gestor. “Com o juro pré de 1 ano em 10%, se o cara não fizer mais nada, ele teria R$ 1,4 bi de lucro/ano, ou R$ 350 milhões por trimestre – mas o lucro veio em R$ 130 milhões, ou seja, o ROE do cara tá pior que o CDI.”
O ‘take rate’ da Stone — uma métrica da receita sobre volume transacionado — continuou sob pressão, mostrando que a concorrência acelerou.
O take rate cobrado das PMEs caiu de 1,79% no segundo tri para 1,67% no terceiro, enquanto o take rate entre os chamados key accounts (os grandes varejistas) caiu de 0,76% para 0,62%.
“Essa empresa ainda vale R$ 49 bi depois da queda do after, mas continua a quase 100x lucro se você anualizar o resultado de hoje,” disse um gestor.
A Stone reverteu o prejuízo do segundo trimestre, quando surpreendeu o mercado ao informar que perdeu dinheiro com sua operação de crédito. No terceiro tri, a Stone continuou sem fazer desembolsos de crédito, paralisados desde junho, o que, segundo Augusto, também impacta o resultado: “Estamos deixando de ter uma receita adicional de crédito que impactaria nossos números de forma positiva,” disse o executivo.
A expectativa da Stone é voltar a trabalhar com crédito no final deste tri ou início de 2022. Enquanto isso, a empresa está reformulando toda a sua operação, o que inclui aumentar a equipe dedicada ao segmento e também redesenhar os produtos.
A Stone está comprando a fintech GYRA+, focada na concessão de produtos de crédito para PMEs. E, no ano que vem, vai lançar seu cartão de crédito.
“Vamos ter uma oferta mais densa de produtos e com mais garantias, que não serão apenas os recebíveis de cartão como antes”, disse Augusto.
O presidente da Stone disse que o importante no resultado do trimestre é que, operacionalmente, a companhia nunca esteve tão sólida, “crescendo não só a base de clientes, mas acima de tudo com rentabilidade.”