CAMBRIDGE, Massachusetts – A análise mais difícil (e mais importante) que um investidor deve fazer não é construir um modelo de fluxo de caixa descontado, e sim responder às perguntas: “O negócio poderá passar por uma disrupção? Ela será positiva para a empresa ou não?”
Essa é a tese de Bill Ackman, o fundador e CEO da Pershing Square Capital Management.
“Qual a durabilidade do fluxo de caixa que o negócio gera? O que acontecerá ao longo do tempo? É um pouco como prever o futuro,” Ackman disse hoje na Brazil Conference.
Um dos mais bem-sucedidos investidores em atividade, o fundador da Pershing Square é adepto de um portfólio concentrado: atualmente tem apenas 13.
“O benefício da concentração é que você pode limitar os seus investimentos às suas melhores ideias,” disse Ackman. “Para que diluir as suas melhores ideias?”
As três maiores posições da Pershing Square hoje representam 50% da carteira. São elas a Universal Music, a Chipotle Mexican Grill e a Restaurant Brands International (RBI), a dona do Burger King e Popeyes Louisiana Kitchen.
Para Ackman, as redes de fast food deverão ser beneficiadas pela inteligência artificial.
“Vejo como uma disrupção positiva,” disse o investidor. “Elas estão começando a usar IA para fazer sugestões aos clientes quando eles chegam ao balcão ou ao drive-thru. Isso vai otimizar a tomada de decisões.”
Outra grande posição do investidor é a Alphabet, que ele comprou a 15x lucro.
Segundo Ackman, o negócio de anúncios online do Google dificilmente passará por uma disrupção nos próximos anos.
“Gastamos a maior parte do tempo em nossa análise avaliando como eles estão posicionados em comparação com a Microsoft e outras empresas que deverão liderar os investimentos em IA,” disse Ackman.
Para o investidor, pesou positivamente o fato de a Alphabet possuir uma incrível base de dados e uma capacidade sem paralelo de construir modelos a partir dela – talvez apenas a Microsoft seja uma competidora à altura nesse aspecto.
“Concluímos que a ação da Alphabet estava muito barata,” afirmou Ackman.
Na parte final do bate-papo, Ackman respondeu à tradicional pergunta sobre os conselhos que daria a quem está começando na profissão.
Além de dicas batidas como a importância de lidar com os fracassos, o investidor enfatizou a importância da boa forma física.
“Se você pretende ser um CEO, o fundador de uma startup ou comandar uma firma de investimentos, são atividades que demandam muito fisicamente,” disse ele. “Há muito estresse. Você não tomará as melhores decisões se não for saudável.”
Ackman, de 57 anos, recomendou que as pessoas comecem a cuidar da saúde desde cedo e fiquem longes de drogas, do açúcar e de Coca-Cola.
Warren Buffett, hoje com 93 anos, viveria até os 150, se não fosse o seu hábito de tomar diariamente grandes quantidades de Cherry Coke, brincou Ackman.
Ackman contou que certa vez Buffett foi jantar em sua casa e pediu uma Cherry Coke.
“Precisei pedir pela Amazon,” disse Ackman. “Ofereci água, mas Warren disse que não bebe água há 40 anos. He doesn’t drink water!”