A XP está lançando dois ‘fundos de fundos’ guiados por critérios ESG (environmental, social e governance, na sigla em inglês), colocando sua poderosa plataforma de varejo para distribuir um produto até agora restrito a investidores institucionais ou com alto patrimônio. 

A aplicação mínima dos dois fundos é de apenas R$ 500. 

Ao mesmo tempo, a XP nomeou Marta Pinheiro para uma recém-criada diretoria de ESG. Marta fez carreira em consultorias especializadas em investimentos de impacto e está há três anos na XP. 

O primeiro fundo — Trend ESG Global — vai investir em três ETFs da BlackRock focados em ESG: metade do capital será alocado num ETF que investe apenas nos Estados Unidos, 40% num ETF europeu, e 10% num ETF de mercados emergentes. 

Já o segundo produto, o Selection ESG, investirá apenas em fundos de ações brasileiros que seguem os critérios. 

Por enquanto, apenas três gestoras no Brasil passam por este filtro: a FAMA Investimentos, de Fábio Alperowitch e pioneira nesse mercado; a Constellation, de Florian Bartunek; e a JGP, que acaba de lançar seu primeiro produto na área. 

Mas a XP disse que outras quatro gestoras estão prestes a lançar fundos deste tipo e, até o fim do ano, espera que o Selection tenha 15 fundos no portfólio.

A tesouraria da XP colocou R$ 100 milhões de seed money para tirar o produto do papel e vai alocar de R$ 5 milhões a R$ 15 milhões para cada gestora escolhida. 

Gustavo Pires, o diretor da XP Asset, disse que a própria gestora estuda lançar um fundo de ações ESG nos próximos meses — e que este pode entrar no Selection. 

O movimento da XP é o mais recente sinal de que os investimentos de impacto estão saindo de um nicho glamouroso para se tornar mainstream. No mês passado, o BTG Pactual lançou uma área focada apenas em investimentos de impacto; e o Banco BV fez a primeira emissão de um ‘green bond’ por um banco privado brasileiro. 

“Além de ajudar a sociedade e o meio ambiente, esses fundos geram mais retorno para os investidores no médio e longo prazo,” diz Pires. “Incluir critérios ESG na seleção de ações mitiga o risco do investimento.”

Um estudo da Morningstar, que analisou 745 fundos ESG europeus, mostrou que a maioria deles teve retornos superiores aos fundos que não adotam critérios ESG em janelas de um, três, cinco e dez anos, segundo o Financial Times.  

Os fundos de ações são onde a outperformance é maior. A Morningstar disse que 80% dos fundos de ações ESG bateram seus peers tradicionais nos últimos dez anos. 

Os dois fundos da XP são o primeiro passo de uma estratégia mais ampla da empresa, que já pensa em desenvolver novos produtos guiados por ESG, por exemplo nas áreas de crédito e fundos imobiliários. 

Tudo depende, é claro, da demanda — e ela ainda é tímida no Brasil. 

“Mas é aquele dilema Tostines: não tem demanda porque não tem mercado, ou não tem mercado porque não tem demanda?,” perguntou Pires, antes de ele mesmo dar a resposta. “Para essa demanda acontecer é preciso orquestrar a favor dela. E desenvolver bons produtos é o primeiro passo.”