A ação da XP sobe quase 10% hoje depois de um resultado acima de expectativas que já haviam sido desinfladas nas últimas semanas. 

A casa de Benchimol lucrou R$ 1 bilhão no terceiro tri, batendo o consenso dos analistas de R$ 873 milhões. O EBT também veio 4% acima das expectativas do mercado, assim como o EBITDA e a receita líquida.

Boa parte da surpresa positiva teve a ver com as novas verticais da XP, já que o core business (a plataforma de varejo) continua sofrendo com o ambiente macro hostil à renda variável.

A receita líquida de R$ 3,6 bilhões foi ajudada em grande parte pelo crescimento brutal das receitas “institucionais”, que mais que dobraram na comparação anual para R$ 577 milhões, e das receitas de serviços de “corporate & issuer,” que subiram 34% para R$ 436 milhões. 

Na prática, a aproximação das eleições levou diversos investidores a se posicionar, aumentando a atividade nas mesas da XP – uma performance que o CFO Bruno Constantino disse que não deverá se repetir.

“Tem um efeito de ressaca. Uma empresa que fez um swap cambial antes da eleição, por exemplo, não vai fazer outro agora,” disse ele.

Eduardo Rosman, do BTG Pactual, notou que o top line “foi salvo pelas receitas institucionais e de serviços de issuing, que, ainda que mostrem o lado positivo da diversificação, não são o core business da companhia. Na realidade, o negócio de varejo continua a desacelerar.”

No trimestre, a receita com o varejo subiu apenas 2% na comparação anual, para R$ 2,6 bilhões, e caiu 2% na comparação trimestral — em linha com a expectativa do mercado. 

No varejo, as receitas com ações performaram bem, mas houve quedas expressivas nas receitas com renda fixa e fundos da plataforma (-16% e -29%, na comparação trimestral, respectivamente). 

Constantino disse ao Brazil Journal que a renda fixa caiu em relação ao segundo tri porque a base de comparação era muito forte. Já a queda da receita com fundos “reflete a nova carteira dos investidores.”

Na medida em que investidores saem dos fundos de ações, que cobram taxas de administração maiores, e migram para fundos de renda fixa, cujas taxas são menores, isso afeta a receita da XP, que ganha um rebate dos fundos distribuídos na plataforma.

“Mas me parece que o efeito dessa migração já aconteceu. O número deve estabilizar nos próximos trimestres,” disse o CFO. 

Outro ponto que impactou positivamente a ação: a XP anunciou que está dobrando o tamanho de seu programa de recompra para R$ 2 bilhões. O programa – originalmente de R$ 1 bi – foi anunciado em maio, e de lá para cá a XP já recomprou R$ 500 milhões. 

A companhia também aumentou seu guidance para a margem EBT para o período entre 2023-2025. O range anunciado anteriormente — de 24% a 30% — foi atualizado para entre 26% e 32%. 

Na call com analistas hoje cedo, a XP disse ter mais de R$ 5 bilhões em capital em excesso (um nível que deve ser otimizado no futuro); e que a desaceleração do net new money tem mais relação com a mudança do ambiente macro do que com a migração de AAIs para concorrentes. 

Constantino disse que os R$ 5 bi são mais do que suficientes para navegar períodos de incerteza e para permitir que a companhia aproveite eventuais oportunidades que surjam. 

Em outras palavras: o que vier a mais de capital em excesso deve ser distribuído aos acionistas.