O Congresso do Partido Comunista da China terminou como previsto, com a coroação de Xi Jinping, que terá direito a um inédito terceiro mandato como presidente do País. 

Mas os investidores não gostaram nem um pouco do avanço da linha-dura comunista e da perspectiva de repressão a algumas das empresas chinesas mais dinâmicas – causando um banho de sangue nas ações das chinesas listadas nos Estados Unidos. 

O índice Nasdaq Golden Dragon, que acompanha dezenas de companhias chinesas com ações negociadas nas Bolsas americanas, caiu 14%, mergulhando a seu nível mais baixo desde abril de 2013, de acordo com o The Wall Street Journal. A perda em market cap superou US$ 73 bilhões. 

“Esse Xi sinaliza uma economia mais centralizada e planificada, com menos espaço para o setor privado,” disse um gestor brasileiro.

Os ADRs da Alibaba caíram mais de 12% e recuaram abaixo do preço do IPO em 2014. Outras grandes empresas com tombos de dois dígitos foram a Baidu, a Tencent e a JD.com. 

Na Bolsa de Hong Kong, o dia também foi de perdas expressivas. O índice Hang Seng encerrou com desvalorização de 6,4%, o maior recuo desde 2008. 

Na avaliação de gestores, as movimentações recentes de Xi aumentam o grau de opacidade do já pouco transparente governo de Beijing. Foram afastados do centro de comando figuras vistas como mais favoráveis à abertura econômica.  

Enquanto isso, avolumam-se os sinais de que o crescimento chinês não é mais aquele. A despeito dos investimentos públicos maciços, a produtividade está em queda. 

Os dados do PIB que deveriam ser publicados na semana passada saíram só hoje e mostraram um avanço de 3,9% no terceiro tri. Foi um número ligeiramente melhor do que o esperado, mas distante das taxas acima de 10% – e isso sem falar na falta de credibilidade das estatísticas no País.

Em um artigo no Financial Times, o economista Ruchir Sharma traça um cenário em que o crescimento da China deverá recuar para uma média de 2,5% nos próximos anos. A desaceleração reflete a demografia desfavorável, a queda na produtividade e o endividamento excessivo. 

“A China, com a população em queda e produtividade em baixa, vinha crescendo por meio de uma injeção insustentável de capital,” diz Sharma. “A China agora é um País de renda média, um estágio em que muitas economias naturalmente começam a desacelerar.”