A White Martins — a líder do mercado de gases industriais do Brasil — vai inaugurar este ano sua segunda planta de hidrogênio verde, apostando num mercado ainda inexistente no Brasil mas que pode ter uma demanda robusta dada a necessidade de descarbonização das empresas.

A nova planta da White Martins vai ser inaugurada em meados do ano em Jacareí, no interior de São Paulo.

A capacidade de produção será de 800 toneladas de hidrogênio verde por ano, e 20% deste montante já está comprometido num contrato de longo prazo com uma fabricante de vidros, a Cebrace.

A White Martins já tem uma planta de hidrogênio verde em operação, também no interior de São Paulo, mas com capacidade muito menor, de apenas 156 toneladas/ano. A companhia hoje é a única fabricante de hidrogênio verde no Brasil, mas há outros projetos de fábricas a serem construídas nos próximos anos. 

O CEO Gilney Bastos disse ao Brazil Journal que a ideia com a nova planta é testar a demanda do mercado por esse produto.

Gilney Bastos ok

“Na nossa primeira fábrica, sobra só 15% da produção para vender no mercado, o que é muito pouco,” disse ele. “Nessa nova vai sobrar 80%, o que vai permitir testar a demanda do mercado pelo hidrogênio verde, que é um produto que tinha dado uma esfriada globalmente, mas que achamos que mais cedo ou mais tarde vai voltar à moda.”

Gilney notou ainda que apenas oito países têm fábricas de hidrogênio verde. A Linde, a multinacional alemã que controla a White Martins, tem fábricas na Alemanha, EUA, China, Itália e em Singapura, onde ela abriu recentemente uma planta com características similares às de Jacareí. 

A diferença do hidrogênio verde para o hidrogênio cinza (feito da forma tradicional) é que o primeiro não emite CO2 durante sua produção. Além disso, a energia usada no processo de eletrólise (que separa o hidrogênio da água) é 100% renovável. 

O hidrogênio verde pode ser usado em diversos processos industriais – em setores como siderurgia, metalurgia e mineração – ajudando as empresas a reduzir substancialmente suas emissões. 

O ponto negativo ainda é o preço: o hidrogênio verde é vendido hoje com um prêmio em relação ao cinza. 

O tamanho deste prêmio depende de vários fatores, mas o CEO disse que a White Martins está trabalhando com uma expectativa de algo entre 15% a 30%. 

“Pagar o dobro temos certeza que ninguém vai pagar. 50% também pode ser difícil. Mas algo entre 15% e 30% achamos que os clientes pagam. E temos a expectativa de conseguir entregar um produto competitivo com esse prêmio,” disse ele. 

Com a indústria de vidro, o contrato foi fechado com um prêmio um pouco abaixo de 15%, mas “além de ser um contrato de longo prazo, tem um gasoduto muito próximo da planta, o que elimina os custos logísticos.”

O investimento na planta de hidrogênio vem em meio a uma aposta mais ampla da White Martins na expansão de sua capacidade. 

A companhia construiu quatro novas plantas de gases industriais ao longo do último ano, num investimento total de R$ 350 milhões.

A maior delas – instalada em Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul – foi construída dentro de uma fabricante de papel e celulose para produzir principalmente oxigênio. Como ocorre nesse tipo de contrato, o excedente de produção dos chamados ‘gases do ar’ (oxigênio, nitrogênio e argônio) poderá ser vendido para outros players

A White Martins instalou ainda uma fábrica no Peru e outra no Chile, também focadas nos gases do ar. Ambas foram instaladas dentro de fabricantes de vidros. 

Por fim, a companhia construiu uma segunda fábrica no Chile, dentro de uma mineradora que opera no deserto do Atacama, a 4.700 metros de altitude. Essa planta também vai produzir oxigênio. 

A White Martins fatura R$ 10 bilhões na América do Sul, dos quais R$ 6,5 bilhões vem do Brasil. A maior parte dessa receita vem do setor industrial (70%), especialmente da siderurgia. O restante vem dos mercados medicinal e de home care, em que a companhia vende tanques de oxigênio para hospitais, por exemplo.

O Brasil hoje é o quinto maior mercado da Linde, atrás da Inglaterra, Alemanha, China e dos Estados Unidos. 

A Linde vale US$ 219 bilhões na Nasdaq.