Executivos sêniores da área de private banking do Credit Suisse estão desertando, abrindo uma disputa no mercado para atrair um time responsável pela gestão de R$ 200 bilhões de patrimônio de clientes e um lucro estimado em pelo menos R$ 500 milhões/ano.
O episódio aconteceu na sexta-feira, quando a matriz do CS em Zurique determinou a troca do head da área, Marco Aurélio Abrahão, o ‘Maculé’, no banco há 19 anos. Maculé foi substituído por Marcello Chilov, até agora head da área de produtos do private.
Leais a Abrahão, os principais executivos comerciais da área não aceitaram a troca e decidiram sair juntos: Fabio Guilger e Pedro Camargo (assim como Makulé, ex-sócios da Griffo com 19 anos de casa), Alessandro Boscolo; Gustavo Kessler Azevedo, o ’Tacacá’; Marco Tullio Forte, Suzana Novis e Sylvio Castro, o chief investment officer da área. Estima-se que o CS tenha cerca de 50 executivos comerciais, e os bankers envolvidos sejam responsáveis por algo entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões.
“Foi tudo muito rápido, não tinha nada sendo organizado há dias, e nada foi alinhado com os clientes,” disse uma fonte próxima aos acontecimentos.
Pelo menos uma fonte disse ao Brazil Journal que Abrahão há meses fazia uma campanha discreta para substituir José Olympio Pereira como CEO do banco. O primeiro semestre do private foi particularmente ruim: alguns grandes clientes estavam alavancados e sofreram uma perda de capital permanente com a queda da Bolsa no primeiro momento da covid. Além disso, a depreciação do real fez com que o resultado da área perdesse relevância nos números globais do Credit Suisse. Foi neste contexto que José Olympio, segundo esta fonte, teria aproveitado a fraqueza conjuntural de Abrahão para substitui-lo, desencadeando a saída.
Uma fonte sênior do banco disse que José Olympio “foi informado” da decisão dos suíços e não teve “nada a ver com a decisão”. (Esta fonte nega a versão de uma guerra política e diz que, ao contrário do banco de investimento, o private banking é tocado diretamente por Zurique.)
Segundo ele, “ninguém foi demitido e ninguém pediu demissão”, sugerindo que o banco ainda trabalha para reter o time.
A saída dos executivos não significa que os clientes abandonarão o banco em massa. Neste nicho, existe muita fidelidade à placa e às conveniências de uma estrutura de serviços robusta. Ainda assim, a saída do grupo cria uma dor de cabeça para José Olympio. Além de ser um dos maiores do País, o private banking do CS é uma de três verticais que sustentam o banco, além do banco de investimento e da corretora.
Na sexta à noite, o banco já se movimentava para recrutar no mercado.
Assim que a notícia da defecção começou a circular na Faria Lima, executivos da XP e do BTG começaram a abordar os executivos. Segundo uma fonte que afirma ter conhecimento do assunto, as conversas com a XP já estariam mais avançadas, e os executivos formariam um escritório de agente autônomo com foco em alta renda.
A saída do grupo vem num momento em que a guerra pela custódia de ativos começa a transbordar do mundo de agentes autônomos para o mundo de private banking, onde os tíquetes por cliente são exponencialmente maiores. Nas últimas semanas, executivos do UBS, JP Morgan e Citigroup tem sido abordados discretamente por executivos das maiores plataformas (incluindo o Itaú), segundo pessoas com conhecimento destas abordagens.
Dois clientes do Credit Suisse disseram ao Brazil Journal que “ainda que esses caras tenham todo direito de empreender, isso mostra que não estão nem aí para os clientes.”