A Arm, empresa inglesa de design de processadores, deve fazer seu IPO nos próximos meses, em uma das ofertas mais aguardadas do ano.
Seus chips são amplamente utilizados pelos fabricantes de celulares, porque trouxeram arquiteturas inovadoras que ajudaram na economia de bateria.
Segundo a Bloomberg, o roadshow vai começar na primeira semana de setembro, e o preço da emissão deve ser fixado logo em seguida. A empresa quer levantar ao menos US$ 10 bilhões.
O SoftBank, que controla a Arm com 100% do capital, vai buscar um valuation entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões, aproveitando-se do momento de grande demanda por semicondutores.
Se conseguir, o valor será praticamente o dobro dos US$ 32 bilhões que a empresa foi avaliada em 2016, quando o fundo de Masayoshi Son adquiriu a Arm. Son disse que gostaria de fazer da operação o maior IPO de uma empresa de semicondutores da história.
Analistas, contudo, questionam os múltiplos almejados. Estariam altos demais, em linha com os da Nvidia, a líder atual em semicondutores.
A Nvidia negocia hoje com um múltiplo acima de 20x em relação às vendas esperadas para o ano. A Arm deverá faturar cerca de US$ 3 bilhões no ano, o que daria um múltiplo equivalente, de 20x vendas.
Mas, como diz uma análise da coluna Lex do Financial Times, “os chips da Nvidia são cruciais para o desenvolvimento de inteligência artificial” e existem poucas alternativas para abastecer as máquinas high-end. “O mesmo não pode ser dito sobre a Arm.”
Usando um múltiplo médio em linha com outras empresas do setor, o valor da Arm ficaria em US$ 32 bilhões, segundo o FT.
Com sede em Cambridge, a Arm faz o design dos chips e ganha dinheiro com a venda de licença para os fabricantes de semicondutores, como a Qualcomm e Samsung. Ele não cuida do desenvolvimento nem da comercialização e recebe um percentual do faturamento.
Suas arquiteturas de semicondutores se tornaram referência nos sistemas dos smartphones. Mas a empresa ganhou novos competidores e perdeu relevância na China, um de seus principais mercados.
“O mercado de smartphones é um mercado maduro, não tem mais crescimento,” disse Leonardo Otero, sócio da Arbor Capital, uma gestora brasileira que investe nos EUA e China. “A Arm terá que encontrar outra fonte de receita, algo que não será trivial.”
Segundo Otero, quando o SoftBank investiu na Arm a tese principal era que ela seria uma das líderes como fornecedora para os aplicativos de ‘internet das coisas’. “Mas esse mercado não aconteceu até agora, ao menos não como se imaginava,” disse Otero.
As vendas de celulares estão em retração nos últimos meses, e o impacto foi sentido pela Qualcomm. A empresa divulgou um resultado pior do que o esperado, e suas ações fecharam o dia em perda de mais de 8%.
A Arm quer se posicionar agora como fornecedora para os servidores de computação em nuvem e inteligência artificial e já tem a Amazon Web Services como um de seus clientes.
Para o SoftBank, a onda de investimentos em inteligência artificial surgiu como uma oportunidade para levar as ações da empresa ao mercado.
Com uma perda acumulada de US$ 48 bilhões nos últimos dois anos em seu Vision Fund, Son precisa de um IPO bem-sucedido para reverter ao menos parcialmente os prejuízos com a sua carteira de investidas.
Em 2020, a Nvidia chegou a fazer uma oferta de US$ 40 bilhões para comprar a Arm — mas o negócio foi barrado pelos reguladores.