O Grupo Votorantim está se juntando ao Temasek, o fundo soberano de Cingapura, para criar uma nova gestora disposta a investir R$ 3,6 bilhões em growth equity no Brasil — ocupando um espaço até agora dominado pelo Softbank.
A nova gestora — batizada de 23S Capital — será liderada por Matheus Villares, o head do Temasek no Brasil, e vai incorporar os 10 funcionários que o fundo soberano já tem no País.
O Temasek opera há 14 anos no Brasil e já investiu em companhias como a Netshoes, Hidrovias do Brasil, Conductor, Bionexo, Clínica SIM e Neoway.
O fundo soberano tem mais de US$ 1 trilhão alocado em diversos países — da Ásia aos Estados Unidos, da Europa à América Latina.
A ideia da 23S Capital é fazer cheques de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões em companhias de late stage que “já sejam negócios comprovados e com unit economics que param de pé”, Matheus disse ao Brazil Journal.
A gestora será agnóstica em termos de setor, mas focará em segmentos que têm um crescimento natural no Brasil, como saúde, educação, fintechs e agronegócio.
Para a Votorantim, a parceria com o Temasek é mais uma etapa na transformação de seu portfólio. Nos últimos anos, o CEO João Schmidt tem diversificado o portfólio, criado novas verticais de investimento – em infraestrutura e real estate – e tornado a empresa mais associativa. (A empresa é sócia da CPP Investments na Auren Energia, do Caisse de dépôt et placement du Québec – CDPQ na Votorantim Cimentos na América do Norte, e agora, do Temasek).
A Votorantim faturou R$ 49 bilhões ano passado, com EBITDA de R$ 12 bi e lucro líquido de R$ 7 bilhões. A holding tem investido cerca de R$ 5 bilhões por ano.
Não é a primeira vez que o Temasek se associa a outro investidor de renome para ganhar exposição a mercados ou setores específicos.
No ano passado, o fundo soberano fez uma parceria com a BlackRock para investir em startups que resolvam problemas ligados às mudanças climáticas. As duas companhias se comprometeram a injetar US$ 600 milhões na JV, batizada de Decarbonization Partners.
“Com tudo o que está acontecendo na arena global, precisamos pensar cada vez mais em parcerias complementares com empresas que compartilham da nossa mesma visão de longo prazo e dos nossos valores,” Dilhan Pillay, o CEO global do Temasek, disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, o Temasek pode ajudar as empresas investidas a alavancar sua presença global, atrair talentos e fazer conexões.
O timing da parceria parece perfeito.
A criação da nova gestora vem num momento em que a correção das bolsas globais pressiona o valuation das empresas privadas — e em meio a uma reestruturação global do Softbank, cuja atuação nos últimos anos proveu liquidez para startups na América Latina.
Apesar da criação da JV, Dilhan disse que o Temasek continuará fazendo investimentos sozinho no Brasil — principalmente em rodadas mais iniciais, como Séries A e B.
Historicamente conhecido pelos seus investimentos na Ásia – onde é acionista de uma série de instituições financeiras – o Temasek tem diversificado seu portfólio, aumentando sua exposição a Europa e EUA. Nos últimos oito anos, 70% de todo o capital alocado foi para essas duas geografias.
O fundo também tem descido na cadeia de valor: hoje, 40% do número de transações são em early stage, ainda que 80% do capital continue em grandes tíquetes.
Os novos investimentos têm focado em fintechs, empresas de pagamento, seguros, e empresas de gestão de recursos – que se beneficiam do aumento da longevidade da população e da necessidade de planejamento financeiro que vem com isso.