Rendendo homenagem à imortal Rita Lee, o economista-chefe da Verde usou a música Nem Luxo, Nem Lixo para dizer que prevê uma recessão nos Estados Unidos e no mundo – mas que o Brasil não está tão ruim assim.

Pela primeira vez em um bom tempo, o Verde disse aos clientes que as coisas vão melhorar.

“Não é sempre que estou nesse estado de espírito,” Daniel Leichsenring disse ao Brazil Journal pouco depois do evento anual da Verde com investidores, que aconteceu nesta manhã em São Paulo.

Essa recuperação do otimismo foi a tônica dos comentários dos investidores na saída da conferência – e contrasta com a visão da Verde no evento do ano passado, quando um dos slides dele tinha o título “Fim da esperança”.

Daniel Leichsenring

A despeito das insistentes propostas de retrocesso, das quais o Governo Lula se tornou uma fábrica, Leichsenring diz que os avanços dos últimos anos – reformas, privatizações, teto de gastos e redução do BNDES – e o arcabouço fiscal que tramita no Congresso criaram condições mais favoráveis para a economia.

“O arcabouço não resolve o problema do endividamento, mas equaciona boa parte dele,” disse Leichsenring. O limite para crescimento do gasto público foi uma “surpresa positiva, que tira um risco importante do radar. Isso permite que a economia sinta os efeitos positivos das reformas quando as condições externas melhorarem.”

O ajuste na economia americana, segundo ele, vai levar a uma desvalorização do dólar – o que historicamente beneficia a indústria brasileira e, por consequência, a atividade local.

Leichsenring lembrou que, desde 2002, o PIB brasileiro cresceu repetidas vezes acima do consenso – e ele espera que isso se mantenha.

Para o primeiro trimestre de 2023, por exemplo, ele projeta uma expansão de 3,4%, ante os 2,5% do mercado, que já revisara as estimativas para cima (o PIB sai amanhã).

Como um maior crescimento contribui para melhorar a situação fiscal, o economista prevê queda dos juros e da inflação, e um real mais valorizado.

“São surpresas positivas para as quais as pessoas não estão preparadas.”

Ainda (abusando) das referências musicais, Leichsenring disse que esse cenário acontece “apesar de você,” um clássico de Chico Buarque.

“Não vou citar nomes: cada um escolhe seu malvado favorito,” disse o economista, numa provável alusão ao sucessor de Jair Bolsonaro.

Coube a Luis Stuhlberger trazer as preocupações de médio prazo. Uma delas é o que o PT fará para tentar vencer a próxima eleição presidencial.

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Do ponto de vista fiscal, disse ele, a situação é relativamente boa neste e no próximo ano. Mas há uma luz amarela em 2025 e uma vermelha no ano eleitoral de 2026.

Como o arcabouço não prevê grandes consequências em caso de descumprimento das regras fiscais, “existe uma janela aberta para aumentar o gasto público perto da eleição” – exatamente como fez o Governo Bolsonaro.

Stuhlberger também vê uma inflação persistente no Brasil – dado o histórico do PT de descumprimento das metas – e afirmou que o País “não é viável” com um juro real de 5% a 6% ao ano.

Diante dessa perspectiva, a alocação da Verde combina duas posições principais: comprada em ações no Brasil (cerca de 20% do patrimônio) com um hedge para a inflação por meio do mercado de juros.

Stuhlberger voltou a dizer que sua grande falha como gestor em 2022 foi não ter reduzido a alocação na Bolsa brasileira apesar dos riscos.

O desempenho da carteira doméstica de ações foi negativo em 6% – o que levou à troca do gestor de Bolsa e à contratação de Elmer Ferraz, que veio da Itaú Asset.

“Se tivéssemos perdido 3% em vez de 6% num período tão difícil como 2022, seria um grande ano.” O Verde teve um retorno de 15,9% ano passado, com boa parte (10,6%) vindo da renda fixa – “um dos grandes números da gestora” naquele mercado, disse Stuhlberger.

O retorno desde o início de 2023 está em 3,7%, abaixo do CDI. A contribuição positiva veio da área de commodities: a Verde tem uma posição relevante em ouro, por conta de riscos geopolíticos, e uma menor em petróleo. Por enquanto, renda fixa e renda variável estão no vermelho.

Stuhlberger lembrou que a Bolsa ficou atrás dos mercados de juros e câmbio principalmente por falta de fluxo. “Queria entender por que o gringo acredita no real e no pré mas não [acredita] em ações,” provocou Stuba.

Stuhlberger disse estar “confiante de que a renda variável vai reagir”.

Abrindo a carteira, Elmer disse que 30% da alocação em Bolsa está em companhias como Rumo, Equatorial, Energisa e Engie – “empresas de qualidade e baixo risco operacional.”

Outros 30% está em papéis de BTG Pactual, Itaú, Hapvida, Localiza, Lojas Renner e XP – “líderes em seus setores, que devem se beneficiar da melhora dos fundamentos do País.”

A Verde também tem uma posição em Sabesp, que pode ser reprecificada com a privatização.

Em tempo: se o cenário positivo não se confirmar, Leichsenring já fez um hedge. Disse que voltará ano que vem com Desculpe o auê.