A Viveo — a holding que reúne os negócios da Cremer e da Mafra Hospitalar — está vindo ao mercado com uma tese de consolidação e crescimento orgânico, num IPO que cria mais uma alternativa de investimento no setor de saúde.
A oferta, dividida entre primária e secundária, deve levantar cerca de R$ 1,5 bilhão e vir a mercado no final de março.
Os coordenadores são JP Morgan (líder), Itaú BBA, BTG Pactual, Safra, Bradesco e Bank of America.
A Viveo é controlada por dois fundos geridos pela DNA Capital — o veículo de investimentos da família Bueno, do fundador da Amil — e pela família Mafra, que fundou a Mafra Hospitalar.
Em apenas três anos, os controladores transformaram o que era apenas uma distribuidora de materiais para hospitais num ecossistema de manufatura, distribuição e serviços que já nasce dominante no setor de saúde.
Fundada em 1996 por Carlos Alberto Mafra, a Mafra era a líder na distribuição de produtos descartáveis para hospitais (como luvas, gazes e algodão).
Vendo a oportunidade de explorar melhor o canal de vendas, Mafra atraiu a DNA Capital, que em 2016 comprou 37% do negócio.
A estratégia: transformar a empresa num ecossistema capaz de servir ao mesmo tempo hospitais, clínicas e laboratórios.
A primeira aquisição veio em 2017 com a compra da Tecnocold, uma empresa que distribui vacinas de gigantes como Sanofi, Pfizer e GSK para clínicas — um canal onde a Viveo ainda não operava.
Um ano depois, a Mafra pagou R$ 500 milhões pela Cremer, entrando na fabricação de produtos descartáveis para hospitais e ganhando uma marca presente em mais de 90% das farmácias brasileiras.
Para integrar os ativos e continuar crescendo via aquisições, a DNA recrutou Leonardo Byrro, um jovem executivo com passagens pela Ambev, Tarpon e BRF e que já havia sido CEO da Cremer por quatro anos.
No ano passado, depois de uma capitalização de R$ 700 milhões — que incluiu o Temasek, a Signal Capital, family offices brasileiros e a família Bueno — a Viveo fez mais cinco M&As para aprofundar sua presença em seus três canais de venda.
O primeiro alvo foi a Expressa, uma concorrente da Mafra na distribuição de produtos para hospitais. Em seguida veio a Flexicotton, uma concorrente da Cremer que fabrica produtos ‘white label’ para farmácias e supermercados.
Faltava uma estratégia para penetrar melhor os laboratórios. Neste canal, a Viveo já vendia materiais descartáveis — como tubos para coleta e luvas — mas não o principal: os reagentes usados nas análises clínicas, que representam 87% das compras de uma DASA ou de um Fleury.
Numa só tacada, a Viveo comprou a Vitalab, a Byogene e a Biogenetics, os maiores distribuidores de reagentes da Roche, a líder deste mercado no País.
Somadas, todas as aquisições feitas pela Viveo aumentaram seu mercado endereçável de R$ 60 bilhões para mais de R$ 200 bi.
A Viveo também está tentando monetizar sua relação com os hospitais por meio da Health LOG, que faz desde a gestão dos estoques de produtos descartáveis até o planejamento da demanda, passando pelo armazenamento e logística.
Em sua forma atual, o ecossistema da Viveo gerou uma receita líquida pró-forma de R$ 5,6 bilhões no ano passado, um EBITDA de R$ 360 milhões e R$ 150 mi de lucro líquido.
Para investir no último canal que falta — uma relação direta com o consumidor final — a Viveo comprou a Far.me, uma startup de assinatura de medicamentos que emula a PillPack, a startup adquirida pela Amazon.
A Far.me entrega na casa do paciente uma caixa com todos os medicamentos de que ele vai precisar durante o mês, organizados em sachês para cada dia. O foco são pacientes de medicação recorrente — idosos e pacientes crônicos — um mercado de R$ 15 a 20 bilhões.
Muitos pacientes recebem alta do hospital e mais tarde são reinternados porque não fizeram o tratamento medicamentoso correto. (No modelo value-based, que começa a ser predominante na saúde suplementar, até os hospitais perdem com isso).
Se a Viveo conseguir provar que pacientes que assinam a Far.me voltam menos para o hospital, um dia, quem sabe, até os planos de saúde podem querer pagar a mensalidade.