O que você achou da retirada do pedido de abertura de capital da WeWork? Como a empresa pode se preparar para outro IPO?
Cara, simplesmente não vai ter IPO. Eu estou me congratulando um pouco. Em 2017, eu disse que essa era a empresa mais supervalorizada do mundo, e, no início deste ano, falei que o IPO não aconteceria. Este é um ativo que está passando por dificuldades. IPO? É engraçado que as pessoas ainda estejam usando essas letras…
Neste momento, eu diria que nada. Ele e o Softbank entraram em um pacto suicida, e o Adam saltou do avião antes que ele se esborrachasse no chão. Ele puxou a cordinha. Saiu do pacto suicida com US$ 740 milhões no bolso, e agora todo mundo que ficou vai ter que atravessar essa situação até o seu final lógico que, provavelmente, será um pedido de falência.
A empresa tem caixa suficiente para atravessar o primeiro trimestre e está queimando US$ 700 milhões por trimestre. O Softbank – e, para ficar claro, o Softbank é o único investidor no mundo que vai colocar dinheiro neste momento – precisa fazer uma de duas coisas.
No entanto, isso não salva o modelo do WeWork, certo? Apenas reduz a escala. A lucratividade deles depende da possibilidade de alguns prédios funcionarem e outros não?
Provavelmente há uma pequena parcela dos WeWorks que tem fluxo de caixa positivo e poderiam sustentar uma matriz com 80% de funcionários a menos. A companhia tem 15 mil funcionários; eu não vejo nenhum caminho que não inclua de 5 mil a 10 mil demissões nos próximos 60 dias. A questão seria, então, como reestruturar. Isso agora é um ativo em dificuldades que requer reestruturação imediata. O Softbank quer investir mais? Se o Softbank não quiser, eles não vão conseguir cortar custos com rapidez suficiente e haverá um pedido de recuperação judicial de acordo com o Capítulo 11 do Código de Falência dos EUA.
Por que demorou tanto tempo para que as pessoas percebessem isso? Tivemos três semanas desastrosas e ainda se discute o IPO como se fosse algo que a empresa ainda possa fazer algum dia. Por quê?
A CNBC quer ficar bem com o Jamie Dimon [CEO do JP Morgan] e com o Masayoshi Son [fundador do Softbank]. É difícil acreditar que a moça mais bonita da festa é viciada em heroína e em remédio para emagrecer. O jeito como ela caiu em desgraça neste caso foi tão dramático e, no entanto, era tão óbvio…
Parece seguro assumir que os membros do conselho já sabiam de todas as palhaçadas do Neumann que foram relatadas recentemente. Então, por que forçá-lo a renunciar agora?
Enquanto a farsa continuava, eles estavam dispostos a acompanhar. Você tem razão: as festas do Adam e o seu papo de ioga eram vistos como ‘características’ e não defeitos, até o mercado vomitar em cima de tudo. Agora, de repente, o conselho se faz de chocado: o conselho não demitiu esse cara; o conselho o empoderou. Foi a mídia e os acadêmicos que demitiram esse sujeito, junto com os investidores institucionais. A noção de que, de repente, o conselho descobriu e decidiu mudar as coisas? Basicamente, enquanto as pessoas estiveram dispostas a acreditar nessa farsa o conselho estava junto, até a música parar de tocar. Mas o fato de eles terem dois co-CEOs agora é meio engraçado.
Onde começa e termina a comparação com o Travis Kalanick?
O Travis só é culpado de ser um babaca. O problema lá era a cultura de uma fraternity house. O mercado vai ter que decidir quão tênues são os limites entre visão, bullshit e fraude. Ninguém nunca acusou Kalanick de fraude, [mas] você vai começar a ouvir muito mais disso no WeWork. Se a Goldman Sachs disse a eles que o IPO sairia num valuation entre US$ 60 bi e US$ 90 bi e a coisa vale zero duas semanas depois, a Goldman é tão estúpida assim ou recebeu informações que não eram corretas?
Você acha que haverá investigações?
Não sei. Para ser justo, acho que ninguém até agora acusou a empresa de apresentar números fraudulentos. Houve algumas postagens sobre a forma como eles classificavam as despesas. Não sei se é ilegal, mas o fato de alguém [Adam] ter levado três quartos de um bilhão de dólares e a empresa ter 15.000 funcionários, imagino que entre 1.000 e 3.000 deles achavam que ficariam milionários em semanas e agora não vão receber nada.
Isso realmente faz a gente repensar aquela imagem do Neumann, andando descalço no meio da tempestade….
Por que você não ficaria contente? Ainda sequer começamos a ver toda a raiva que será despejada sobre Adam Neumann. Ele deixou 15.000 pessoas tendo que limpar essa situação e se sentindo como palhaços, limpando as merdas feitas por Adam Neumann. Ele pegou US$ 750 milhões e deixou um lixo tóxico.
Seria este um caso de auto-ilusão? Adam Neumann acreditava na própria história?
Não sei. Falo pela minha experiência como CEO nos anos 90, nos primórdios da Internet: se você diz a um cara de 30 anos que ele é Jesus Cristo, ele tende a acreditar.
Você conhece Neumann?
Sim, eu o entrevistei no palco de uma conferência sobre investimentos alternativos do JP Morgan, há três anos.
E como foi?
Tudo bem. Eu achei ele um sonhador e um enrolador. É fácil dizer agora, lembro-me de dizer: “O que é que você tem aqui que é defensável?” Haverá muitas consequências, mas um dos resultados é que haverá uma reação imune que já devia ter acontecido. A narrativa tomou o lugar dos números. E acho que isso vai mudar. Já mudou. Basicamente, o Uber começou o declínio e o WeWork deu velocidade. É como se tivéssemos uma festa regada a cocaína no Studio 54 – o Uber começou a acender as luzes e, agora, elas estão tão intensas que você acha que está numa sala de cirurgia. Basicamente esses caras cagaram na fonte do IPO.
Quais outras empresas ainda estão no Studio 54 neste momento?
Há muitas no portfólio do Softbank. Wag, Compass… Essas coisas são meio insanas. A Peloton está sendo arremessada, por assim dizer, porque é mais daquele papo de ioga. “Entregando felicidade”. É uma boa empresa, apenas está supervalorizada. O mercado está dizendo que, depois do WeWork e do Uber, há dois tipos de unicórnios: os que estão supervalorizados e os que estão indo a zero.
Só podemos culpar esses CEOs carismáticos em parte. E os investidores?
Há várias coisas acontecendo aqui. Uma é resultado do mercado: ele está super líquido, há mais capital do que empreendedores. Qualquer empreendedor que tiver uma visão, vender um potencial e convencer as pessoas de que pode ser o próximo Google ou Facebook consegue atrair bilhões de dólares agora. A realidade é que tem muito dinheiro por aí.
Qual é a maior aprendizado desse caso do WeWork?
A grande história aqui é o Softbank. O WeWork é a infecção oportunista que vai matar o Vision Fund One. Não dá pra consertar. Somados, Uber e WeWork são US$ 20 bi dos US$ 100 bi. Provavelmente, um vai de US$ 11 bilhões pra zero – o WeWork. É difícil imaginar que seja possível recuperar o capital dos investidores. O WeWork é o marco zero. Se a única maneira dele sobreviver é uma estratégia deliberada para torná-lo uma sombra de si mesmo – demissões em massa, reestruturação em massa – só há isso a fazer.
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