O Bank of America vê uma janela no curto prazo para o IPO de empresas brasileiras de tecnologia nos Estados Unidos, dado o bom momento do mercado americano e o maior interesse de investidores internacionais pelo Brasil.
Já na Bolsa brasileira, a história é bem diferente: a expectativa do banco é que a retomada dos IPOs ainda possa demorar, já que ela depende de um alinhamento de fatores.
“Tem pelo menos umas cinco companhias brasileiras que já estão numa jornada de preparação para um IPO nos EUA em 2026,” disse Bruno Saraiva, o co-head de investment banking do BofA, numa conversa com jornalistas hoje cedo.
“Os investidores gostam de negócios que crescem muito no Brasil e estão em setores com uma penetração baixa ainda. E o mercado americano está num momento de extrema atividade. No terceiro tri, tivemos o trimestre mais forte desde 2021.”
Saraiva disse que há uma formação de capital muito forte nos EUA e que os investidores estão ganhando dinheiro com os IPOs recentes. “Não temos motivo para acreditar que esse cenário vai arrefecer. No quarto tri, esperamos inúmeros IPOs nos EUA.”
Hans Lin, que divide a liderança do IB com Saraiva, disse que o piso para esses IPOs é de um valuation de US$ 400 milhões, idealmente US$ 500 milhões. “Esse é um tamanho que imaginamos que vai ter liquidez. Abaixo disso não faz sentido,” disse ele.
Lin lembrou que nos últimos anos houve alguns IPOs nos EUA de empresas com valuation de US$ 100 milhões a US$ 150 milhões – mas com a queda das ações dessas empresas, elas perderam liquidez e ficaram esquecidas.
Nesta nova leva, “o investidor quer um deal que ele tenha certeza que vai ter liquidez mesmo num momento de queda de mercado.”
Sobre a Bolsa brasileira, Lin disse que não é possível determinar se vai haver ou não uma janela no ano que vem, já que isso vai depender do fluxo externo de recursos e da queda dos juros, e do quanto essa queda vai trazer de fluxo da renda fixa para a variável.
Outro fator determinante é o resultado das eleições, já que a vitória de um candidato que agrade o mercado naturalmente ajudaria.
Ainda assim, o cenário base do BofA é de que 2026 será parecido com este ano: um volume muito grande de block trades, alguns follow-ons e nenhum IPO.
No investment banking, a bola da vez tem sido a estruturação de dívida (DCM), graças aos juros altos e à busca dos investidores por mais yield no mercado internacional.
Caio de Luca Simões, o head de DCM do BofA, disse que as empresas brasileiras já emitiram mais de US$ 30 bilhões no mercado internacional de dívida este ano, e que até dezembro a expectativa do banco é que mais US$ 10 bi venham a mercado.
“Em termos de spreads, temos visto o CDS brasileiro cair bastante desde o início do ano e chegar próximo das mínimas históricas. Esse cenário de spreads perto das mínimas e o Treasury baixo é perfeito para emissões,” disse Caio, acrescentando que os fundos de crédito focados em emergentes receberam inflows de US$ 24 bi este ano, muito disso concentrado nos últimos meses. “Esses fundos estão capitalizados e buscando aproveitar esse momento.”
Por enquanto, o BofA não viu nenhum impacto, em termos de novas emissões, dos eventos de crédito envolvendo a Ambipar e a Braskem, que viram seus bonds despencar no mercado secundário nos últimos dias.
“Tivemos operações saindo no mercado internacional depois desses eventos. Estamos acompanhando de perto, mas sigo construtivo de que o mercado vai continuar aquecido,” disse Caio.
No mercado de M&A, o BofA vê um aumento dos fechamentos de capital por conta da taxação de dividendos.
Diogo de Aragão, o head da área, disse que para empresas que têm subsidiárias no Brasil e recebem dividendos relevantes, uma saída para compensar a taxação de 10% seria comprar os minoritários para conseguir continuar recebendo o mesmo volume.