Numa das melhores notícias corporativas do ano, os acionistas da Vale passaram por cima da política e escolheram Fabio Schvartsman, um executivo de mercado com um longo histórico de entrega, para assumir o comando da mineradora a partir de maio.
“A cartilha do Fabio não tem mistério,” diz um analista que o conhece há anos. “Ele pega empresas com ativos bons, faz elas ficarem mais eficientes em custo, imprime um plano de ação claro e uma governança com credibilidade, que o mercado consegue precificar. É um golaço para a Vale, que precisa reduzir custos e focar no core business de minério de ferro.”
O acerto da indicação ficou claro na Bolsa. As ações da Klabin, que Schvartsman comanda desde 2011, operavam em alta, mas mudaram de direção e fecharam em queda de 3,72% após o anúncio-surpresa da iminente saída do CEO. Já as ações da Vale fizeram o movimento contrário: as ordinárias subiram 1,34%, e as preferenciais ganharam 2,49%.
Schvartsman foi o primeiro ‘outsider’ a assumir o comando da Klabin, que tinha a tradição de conduzir executivos da casa ao posto mais alto da diretoria. Assumiu uma empresa com custos inchados, governança fraca e sem muita clareza de como crescer. Ao longo de seis anos, navegou a complexidade de uma empresa com várias famílias no conselho e criou um ambiente harmônico, enquanto levava a margem EBITDA de 25% para 35%.
Ao mesmo tempo, entregou o Projeto Puma, uma das maiores e mais eficientes fábricas de celulose do mundo, em Ortigueira, no Paraná, que consumiu R$ 8,5 bilhões e quase dobrou a capacidade de produção da Klabin de 1,7 milhão de toneladas de celulose para 3 milhões de toneladas.
“Ele é bem visto pelos bancos porque é profundo nas suas análises: ele sabe se o projeto para em pé, se dá pra financiar e qual o nível de alavancagem,” diz um banqueiro que o conhece bem.
Para Schvartsman, a ascensão ao comando da Vale coroa uma carreira que começou há 40 anos na Duratex mas se robusteceu na Ultrapar, onde ele passou 22 anos.
Como diretor financeiro e de relações com investidores, foi um dos responsáveis pelo IPO do grupo, em 1999, e trabalhou na aquisição da Ipiranga, que mudou a cara do grupo.
Engenheiro de produção pela Poli/USP, em 2006 Schvartsman era um dos candidatos à sucessão de Paulo Cunha, mas decidiu deixar o grupo ao ser preterido pelo então responsável pela área química, Pedro Wongtschowski, que ficou no cargo até 2013.
Depois da Ultrapar, uma casca de banana. Schvartsman foi brevemente CEO da San Antonio, uma investida da GP Investimentos no setor de petróleo que implodiu sob o peso da própria dívida: o leveraged buyout, feito em 2007, entrou em colapso quando a crise mundial eclodiu no ano seguinte. Sete anos depois, a GP baixou a prejuízo 100% do valor de suas ações na empresa.
Essa passagem virou um mero rodapé na biografia de Schvartsman, principalmente depois de seu tempo na Klabin, onde continuou a atrair admiração do mercado.
Mas a Vale também vai testar a adaptabilidade de Schvartsman a novos desafios, já que empresas de commodities estão expostas a um conjunto de riscos bem distintos daqueles do mundo industrial onde o Schvartsman fez sua carreira.
Em seu novo cargo, Schvartsman terá que lidar com volatilidade de preços, riscos ambientais e tabuleiros políticos, mantendo boas relações com um público tão diverso quanto um prefeito no interior da Indonésia, o premier da Newfoundland, no Canadá, o embaixador de Zâmbia, bem como comunidades em lugares remotos, onde a Vale tem operações.