Pedro Oliveira e Luis Eduardo Cascão passaram os últimos anos ouvindo pitches em algumas das maiores gestoras de venture capital do Brasil, incluindo a Kaszek, a DGF e a DNA Capital, da família Bueno.
Pelo jeito, empreendedorismo pode ser contagioso.
De tanto analisar BPs e modelar negócios, a dupla decidiu trocar de lado do balcão e fundou a TruePay, que acaba de levantar uma das maiores Series A do Brasil.
A fintech captou US$ 32 milhões (R$ 176 milhões ao câmbio de hoje) para escalar sua solução que ajuda pequenos e médios varejistas a equacionar seu capital de giro, permitindo que paguem as compras com fornecedores a prazo e com um limite alto.
A rodada foi liderada pela Addition — o fundo do ex-sócio da Tiger, Lee Fixel — e teve a participação de todos os investidores anteriores: Kaszek, Monashees, GFC e ONEVC.
Em setembro, a TruePay já havia levantado outros US$ 8,5 milhões numa rodada de seed money.
Como boa parte das vendas são parceladas, o varejista no Brasil demora em média 71 dias para receber o pagamento de suas vendas; ao mesmo tempo, o prazo para pagar os fornecedores é curto, gerando um problema de capital de giro.
Até agora, as varejistas resolviam esse problema pegando um empréstimo para capital de giro com os bancos ou antecipando seus recebíveis com as adquirentes — mas as duas soluções têm um custo muito alto. A outra opção era negociar com os fornecedores para pagar com um prazo maior, diminuindo esse gap.
“Mas neste terceiro cenário você tem um player que não é banco dando crédito para uma base muito fragmentada de varejistas,” Pedro disse ao Brazil Journal. “A verdade é que a indústria não sabe dar crédito, porque essa função não é o core business dela. E toda vez que ela toma essa decisão, ela corre o risco de dar crédito demais e sofrer com a inadimplência, ou dar pouco e vender menos.”
A solução da TruePay concentra num único lugar essa relação de crédito que o fornecedor tinha com centenas de varejistas diferentes, cuidando de toda a análise dos riscos e arcando com as potenciais perdas.
A TruePay usa os recebíveis de cartões de crédito das varejistas como garantia para permitir que elas comprem produtos dos fornecedores com um prazo e um limite de crédito maior — sem cobrar nada dos varejistas por isso.
Na prática, a TruePay funciona como um meio de pagamento: quando o lojista vai comprar com o representante comercial do fabricante, ele escolhe a TruePay como forma de pagar as compras, podendo parcelar o pagamento em até 12x.
Depois que a indústria gera a compra e o lojista aprova a cobrança no app da TruePay, “a gente transfere os recebíveis do lojista para o fabricante, que passa a ter o direito de receber aquele valor na data de liquidação,” disse Luis.
Caso a indústria tenha algum problema com aquele recebimento, a TruePay garante o valor, assumindo o risco da inadimplência. Por esse serviço, a fintech cobra um take rate do fornecedor em cima de tudo que é transacionado por meio de sua solução.
Luis diz que os fabricantes enxergam vantagem em operar com a TruePay porque ela garante que eles consigam vender sem ter que assumir (e se preocupar) com o risco de crédito, e também porque a TruePay “consegue dar um limite de crédito muito maior para os lojistas do que a indústria costuma dar, permitindo que ela venda mais.”
A TruePay não abre quantos fornecedores e varejistas já usam sua solução de pagamento, tampouco o volume que está sendo transacionado, mas Luis espera que em 2022 a empresa movimente R$ 1 bilhão.
A capitalização de hoje vai ser usada para aumentar o time de engenheiros de software, desenvolver novos produtos de capital de giro, e fortalecer o caixa da empresa para passar mais segurança ao mercado.