As ações da Salesforce despencaram 20% hoje depois que a gigante do software de CRM reportou um primeiro trimestre fraco — com a receita abaixo da expectativa do mercado — e um guidance que também decepcionou.
Foi a primeira vez desde um longínquo 2006 que a Salesforce entregou uma receita abaixo das projeções do sellside.
Outro recorde: a queda de hoje foi a maior da Salesforce num único dia desde agosto de 2008, durante a crise financeira global.
No primeiro tri fiscal, que terminou em 30 de abril, a Salesforce teve uma receita de US$ 9,13 bilhões — uma alta de 11% na comparação anual, mas abaixo dos US$ 9,17 bi que o mercado esperava.
Para piorar, a companhia disse que espera faturar entre US$ 9,2 bi e US$ 9,25 bi no segundo trimestre, com um lucro por ação de US$ 2,34 a US$ 2,36.
O consenso dos analistas era de uma receita de US$ 9,37 bilhões e um lucro por ação de US$ 2,40.
O COO da Salesforce, Brian Millham, disse numa call com analistas que as empresas estavam mais cautelosas neste trimestre, gastando menos com softwares, e que os ciclos das transações também foram mais longos, com os clientes demorando para decidir fechar um contrato.
Segundo ele, o management implementou mudanças na estratégia de go-to-market que também impactaram a captação de novos contratos no curto prazo.
No trimestre, a unidade de negócios que mais sofreu foi a de serviços profissionais, cujas vendas caíram 9% para US$ 548 milhões, enquanto o mercado esperava US$ 572 mi.
Uma leitura do mercado é que a Salesforce pode estar vendendo menos por conta da demanda por soluções de inteligência artificial, que pode estar roubando boa parte da atenção (e dos recursos) das grandes empresas.
“Eu questionaria se muito do foco dos CTOs em inteligência artificial não tem vindo às custas de gastos maiores em expansões na Salesforce,” um analista da RBC Capital Markets disse à Bloomberg TV.
O CEO da Salesforce, Marc Benioff, garante que não. Ele disse recentemente que a companhia está “incrivelmente bem posicionada para ajudar as companhias a realizarem a promessa da AI nas próximas décadas.”
Um dos focos da empresa nessa frente é a Data Cloud, uma solução que organiza informações para análises e para modelos de AI. A vertical de negócios onde essa solução está inserida (junto com o Mulesoft e a Tableau) cresceu suas vendas em 24% no primeiro tri, para US$ 1,4 bi, acima do consenso de US$ 1,36 bi.
Um indicador que também desagradou os investidores no trimestre foi o ‘CRPO bookings’, que mede basicamente o backlog de contratos da companhia.
No primeiro tri, esse indicador subiu 10%, para US$ 26,4 bilhões, enquanto o mercado esperava uma alta de 12%. A Salesforce vinha ‘batendo’ o mercado nessa métrica há cinco trimestres consecutivos.
“Temos dito há algum tempo que somos céticos sobre os fundamentos do negócio olhando para frente, incluindo suas iniciativas core e o potencial da empresa de monetizar a oportunidade de AI, um tema com o qual o mercado estava otimista,” escreveu o analista da Bernstein, Mark Moerdler, num relatório.
“Depois desse trimestre, achamos que a fragilidade do negócio está se tornando cada vez mais visível.”
O analista disse ainda que os investidores vão ter que “resetar” a forma como pensam sobre a companhia e suas perspectivas de crescimento, já que agora o potencial para um crescimento nos ‘low-to-mid-teens’ não parece mais viável.
Depois da queda de hoje, a Salesforce vale US$ 211 bilhões na Bolsa de Nova York.