É o evento ‘imperdível’ do ano para os cardeais da Faria Lima — ainda que muitos confessem, em particular, não saber porque estão lá.

O juiz Sergio Moro será homenageado hoje à noite pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, juntamente com Michael Bloomberg, o ex-prefeito e fundador da empresa que leva seu nome. 

A cerimônia do “Person of the Year” acontecerá no Museu de História Natural em Nova York. O jantar black-tie para aproximadamente 1.500 pessoas – 90% dos quais, brasileiros – é o evento para ‘ver e ser visto’ do mercado financeiro e do mundo empresarial.

Os voos São Paulo-Nova York estão reservados há meses, com banqueiros, empresários, advogados e afins se aboletando na classe executiva. Muitos reclamam de ter que empacotar o smoking, vestidos, sapatos, peles e jóias para um evento que poderia certamente ser feito no Brasil – mas ninguém reclama das compras na Madison antes e depois do evento.  Aproveitando a presença de metade do PIB na cidade, o Itaú sempre agenda sua principal conferência de equities (a ‘Latam CEO Conference’) para a mesma semana. A Faria Lima estará desfalcada por alguns dias.

Anteriormente chamado de “Homem do Ano” — algo que hoje soaria politicamente incorreto — e apelidado de “o mico do ano” por quem é obrigado a entreter clientes todos os anos na mesma data, o jantar acontece há quase meio século, desde quando o então ministro Delfim Netto foi condecorado pela primeira vez. Para alegria dos convidados, o evento não é mais no Waldorf Astoria, cujo salão jurássico, além de cheirar a mofo, já havia se tornado pequeno para comportar todo mundo.

O preço das mesas — compradas por bancos, escritórios de advocacia e grandes empresas — é proporcional ao desejo que o comprador tem de se mostrar por cima: a mais cara, chamada ‘Inner circle’, acomoda 10 pessoas e sai por US$ 26.000; a Platinum custa US$ 21.000; e a mais barata, US$ 12.000.

O homenageado de hoje é um homem cujo trabalho tem sido um divisor de águas para o Brasil, mas nem sempre foi assim.  Muitas vezes, a Câmara de Comércio homenageou nomes cujo brilho, mais tarde, a História e os fatos trataram de ofuscar.

José Sérgio Gabrielli foi escolhido quando a Petrobras simbolizava (ainda) a euforia com o Brasil; Luciano Coutinho, quando presidia um BNDES que era o ‘motor’ do desenvolvimento; André Esteves, o CEO do banco que iria dominar o mundo; e João Dória, o prefeito destinado a ser Presidente…  Todos estavam na crista da onda no ano de premiação e hoje, certamente, não seriam mais uma unanimidade. “Espero que o Moro não tenha a mesma sina,” diz um convidado que acha que o prêmio dá azar.

O fato é que nem Moro nem Bloomberg têm muito a ver com o ‘comércio’ bilateral Brasil-EUA, e a própria Câmara — para além de sua capacidade de organizar eventos — é uma entidade cuja utilidade já se esgotou. 

Há também alguma curiosidade sobre os patrocinadores do evento deste ano, já que haveria certo constrangimento por parte de empresas envolvidas na Lava Jato ou sob sua mira. Mas ao fim e ao cabo, boa parte do mercado estará lá, cantando os hinos dos respectivos países e brigando por um táxi na saída —  o Upper West Side à noite costuma ficar deserto.