NOVA YORK — Em 1981, uma longa seca devastou a Namíbia, aniquilando a maior parte dos animais pastorais — exceto os elefantes.
Guiadas pela memória de suas matriarcas, grandes manadas alcançaram fontes de água. Além de lembrar a localização de lugares visitados anos antes, os maiores mamíferos terrestres são capazes de andar até 48 quilômetros para matar a sede.
Esta é uma das histórias contadas na exposição The Secret World of Elephants, que começa amanhã aqui no Museu de História Natural.
Ao longo de 60 milhões de anos, 200 tipos de elefantes circularam pelo mundo. Hoje, sobraram apenas três: os das savanas africanas, das florestas africanas, e os elefantes asiáticos.
“Na nossa literatura, os elefantes são personagens do bem, com quem temos uma conexão real,” diz a diretora da exposição Lauri Halderman. “No entanto, especialmente nas culturas ocidentais, temos poucas experiências individuais com eles para além de zoológicos e personagens como o Dumbo ou o Manny, o mamute de A Era do Gelo. Esse fascínio por elefantes é o ponto-de-partida para esta mostra.”
A exposição, que levou dois anos para ser produzida, explora a evolução dos elefantes e seus parentes biológicos. Para isso, ela traz reproduções em tamanho original dos animais, filmes, textos, estações digitais, uma estátua do deus hindu Ganesh, que tem corpo de homem e cabeça de elefantes, e a lembrança de que estes animais são caçados ilegalmente pelo valor de sua pele e marfim.
“Há um limite do que se pode fazer em um museu, mas aqui um visitante pode ver tudo tridimensionalmente, ao contrário de um telespectador. Essa é uma diferença qualitativa que continua a atrair o público para museus de história natural,” diz Ross MacPhee, o curador emérito do Departamento de Mamíferos do museu.
Esta ideia fica clara quando o visitante se depara com um display de 500 latas que juntas somam 200 litros – a quantidade que um elefante consome diariamente. Eles são capazes de armazenar oito litros por vez em suas trombas e mais alguns litrinhos numa bolsa faringeal que serve como cantil para que eles possam se hidratar enquanto buscam o próximo reservatório de água.
Os superlativos não terminam por aí.
Os elefantes defecam até 110 quilos/dia, depois de devorar algo entre 136 a 226 kg de comida. As trombas têm 40 mil músculos. Uma gravidez dura quase dois anos, a mais longa do mundo animal.
Uma estação da mostra conta que os pés dos elefantes são capazes de escutar vibrações e se comunicar entre si. As vibrações começam na garganta, viajam para as pernas e chegam até o chão viajando longas distâncias antes de chegar aos outros elefantes. Elas são sentidas pelas solas ultrassensíveis dos pés, e dali conduzidas até os ouvidos.
Apesar do tamanho, os elefantes também amam.
Durante o crescimento, os filhotes passam anos ao lado de suas mães, e as elefantas mais jovens cuidam dos elefantinhos para praticar a parentalidade. Aqueles que cresceram juntos reconhecem a voz do outro à distância, e correm para se ver e se abraçar – com as trombas. Eles velam seus mortos, e ainda são solidários aos doentes e estressados, trazendo comida e fazendo carinho – também com a tromba.
Os elefantes pertencem ao grupo dos proboscídeos, que vem da palavra ‘proboscis’, que significa nariz e tromba. Eles circularam por todo o planeta, exceto na Antártica e Austrália, e ao longo de milhares de anos muitos se transformaram em “anãos” ao aportar em ilhas do Pacífico e do Mediterrâneo.
Na mostra, há uma reprodução de um mamute filhote descamando seus pelos de inverno. Com pouco mais de um metro, ele viveu onde hoje é a Sicília, e se transformou no xodó do curador. “O presidente do museu perdeu uma grande oportunidade comercial em não transformá-lo num bichinho de pelúcia,” brinca ele.
Durante a era do gelo, que começou há cerca de 2 milhões de anos e terminou há quase 12 mil anos, existiam cinco famílias de elefantes, sendo que apenas uma — os gonfóteros – circulava pela América Latina. Essas cinco famílias abrigavam cerca de 50 espécies. Ao fim daquela era, no entanto, elas começaram a desaparecer — das 50 espécies, restam apenas três. O futuro delas depende de planejamento, turismo responsável e santuários .
“Acredita-se hoje que todas estas perdas estão de alguma forma ligadas às alterações climáticas ou à nossa tendência de modificar desastrosamente os ambientes onde vivemos,” diz MacPhee. “Sabemos que a maior parte desapareceu em períodos de tempo relativamente curtos e quando já existia o Homo sapiens no planeta. Mas esta ainda é uma área de investigação muito ativa.”