A Eneva venceu o leilão para abastecer de energia o sistema isolado de Roraima, num contrato que abre uma nova avenida de crescimento para a companhia termelétrica.
O projeto extrai gás no campo de Azulão (no Amazonas), liquefaz o combustível no local e o transporta 1.100 km, por caminhão até Boa Vista, onde é regaseificado e abastece uma planta térmica.
Nas contas de analistas, o contrato tem um valor presente líquido de pouco mais de R$ 1 bilhão, frente a um valor de mercado de R$ 7 bilhões da Eneva na Bolsa.
Por volta das 14h30, as ações da companhia subiam mais de 6% com o mercado aprovando a disciplina de capital da empresa, que recentemente concluiu um turnaround financeiro que durou três anos. A Eneva é controlada pela Cambuhy, da família Moreira Salles, e pelo BTG Pactual.
Com o novo projeto, a Eneva começa a explorar o gás do campo de Azulão, no Amazonas, arrematado da Petrobras no começo do ano passado. O contrato de fornecimento de energia, de 15 anos, exigirá um investimento total estimado em R$ 1,8 bilhão.
“Eles construíram uma competitividade ímpar usando o gás de Azulão para abastecer o projeto e conseguiram precificar como um projeto emergencial,” diz um analista de uma gestora comprada na ação.
A Eneva já era uma das favoritas para o leilão, mas o que surpreendeu positivamente o mercado foi a receita fixa anual do projeto, de R$ 429 milhões (num contrato de potência de 117 MW). A título de comparação: em outra usina da empresa — Parnaíba II, no Maranhão — com 500 MW de potência, a receita fixa é de R$ 522 milhões.
Os contratos de geração de energia a gás funcionam da seguinte forma: há uma receita fixa anual, independente do despacho, e um valor variável sempre que a usina é chamada a despachar. O Operador Nacional do Sistema (ONS) define quando a usina deve ou não produzir.
Em havendo excedente de gás, a Eneva poderá vender energia no mercado livre ou até mesmo distribuir gás liquefeito na região de Manaus, onde fica o poço de gás.
A Eneva tem seguido a estratégia de fazer campanhas de exploração em busca de mais gás apenas quando tem contratos de energia já vigentes, equilibrando a geração de caixa dos projetos com os investimentos nas campanhas exploratórias.
A Eneva vai começar a construir o projeto no segundo semestre e a energia será entregue a partir de junho de 2021.
O risco é a execução. O projeto tem um pouco mais de complexidade do que os do Maranhão, onde as usinas da Eneva foram construídas na boca do poço de gás.
Nas contas do buyside, “se a empresa fizer tudo direitinho,” a taxa interna de retorno do projeto é de cerca de 14%.
Esse valor leva apenas em conta o custo de oportunidade. Como esse tipo de projeto conta com financiamentos de longo prazo a juros baratos, a taxa de retorno alavancada tende a ser maior, podendo chegar a 25%.