Depois de avacalhar diversas instituições americanas, o Presidente Donald Trump pode querer influenciar as decisões do Federal Reserve sobre juros, interferindo na história de independência da autoridade monetária.
Essa é a impressão de Kevin Warsh, um ex-diretor do Fed que foi entrevistado por Trump ano passado para assumir a posição de chairman. No final, o escolhido foi Jerome Powell, indicado pelo Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.
Num podcast com o POLITICO, Warsh disse que durante uma conversa de uma hora no Oval Office, Trump quis saber exatamente o que Warsh faria em relação ao Fed funds (a taxa básica da economia, ditada pelo Fed).
“Se você acha que este foi um assunto sobre o qual ele foi delicado, você está enganado. Isso estava no topo da agenda do Presidente,” Warsh disse sobre as perguntas de Trump sobre política monetária. “O Presidente tem uma opinião sobre os preços dos ativos e o mercado de ações. Ele tem uma visão, baseada em sua longa história de incorporador imobiliário, sobre o papel das taxas de juros.”
Para Warsh, Trump queria alguém que expressasse esta visão, e não alguém que visse o banco central como uma organização independente que toma decisões mirando o interesse da economia a longo prazo. “Em certo sentido, essa noção mais ampla de uma agência independente não é algo óbvio para o Presidente.”
Questionado se Trump entende a importância histórica da independência do Fed em relação à pressão política partidária, Warsh disse: “Este pode ser um bom momento para um ‘sem comentários’”.
Filiado ao Partido Republicano, Warsh foi assessor econômico de George W. Bush, que o nomeou para uma cadeira no Fed em 2006, quando Warsh tinha apenas 35 anos. Ele ficou no Fed até 2011, e hoje dá aula em Stanford.
Os comentários de Warsh vêm num momento em que a economia americana já se encontra em ‘pleno emprego’ e muitos agentes de mercado acreditam que o Fed já está atrasado na tarefa de restabelecer uma taxa de equilíbrio que previna uma inflação fora da meta mais à frente.