A Trump Media & Technology tem focinho, rabo e cheiro de bolha.
Mas também tem Donald Trump – e um grupo de aficionados pelo ex-presidente – por trás.
Para quem não acompanhou a história: no fim de março, a Trump Media, a dona da rede social conservadora Truth Social, finalmente consolidou sua fusão com o SPAC Digital World Acquisition Corp. O negócio levou três anos para acontecer desde o anúncio em 2021.
No prospecto de fusão, a empresa teve que refazer suas demonstrações financeiras de 2021 e 2022 por “fraquezas materiais em seu controle interno sobre relatórios financeiros.” Essas fraquezas, ainda segundo o documento, “continuam existindo”.
Além de todas essas incertezas, os números da companhia impressionam (negativamente): a receita da Trump Media em 2023 foi de meros US$ 4,1 milhões, enquanto o prejuízo no mesmo período chegou a US$ 58,1 milhões.
Em 2021, a Truth Social sonhava com 56 milhões de usuários em 2024 — mas não chegou nem a 10% desse número.
Mesmo com esses números, a fusão com o SPAC injetou US$ 300 milhões no caixa da companhia
Apesar da ação já ter caído 37% desde o pico alcançado em 27 de março, a empresa ainda vale US$ 5,6 bilhões.
Barry Diller, o chairman da holding de marcas de internet IAC, foi duro ao ser questionado sobre a ação da empresa em uma entrevista à CNBC.
“Vou dizer duas palavras: GameStop. É ridículo, a empresa não tem receita,” disse. “Como você pode colocar valor nisso? Isso é um golpe.”
A revista americana Barron’s, voltada a investidores, citou alguns motivos para os investidores passarem longe do papel: a companhia está perdendo dinheiro; o X (ex-Twitter) sob Elon Musk ganhou espaço entre os conservadores – e reativou a conta de Trump; os problemas legais de Trump podem respingar na empresa; e a Trump Media, apesar de ser pública, terá Trump como o controlador.
Obviamente, o ex-presidente discorda de que a Trump Media seja uma meme stock. Em seu perfil na Truth Social, definiu os críticos como “radical left democrats.”
Como Trump tem 58% das ações com direito a voto, seu patrimônio cresceu bilhões de dólares essa semana, mas o ex-presidente está proibido de vender ou emprestar suas ações nos próximos seis meses.
Trump, que acabou de pagar uma multa de US$ 175 milhões por fraude fiscal e tem uma série de outras a pagar, precisa muito desse dinheiro. A dúvida é se as ações da Trump Media não vão implodir nos próximos meses.
Essa parece não ser uma preocupação da diretoria. Devin Nunes, ex-deputado republicano da Califórnia e que agora é CEO da companhia combinada, definiu a empresa como uma “verdadeira startup.”
Ele também lembrou que houve um momento no ano passado em que as ações do SPAC chegaram a cair para US$ 12, e mesmo assim os investidores – na sua maioria conservadores – não venderam os papéis.
“Mesmo que tivessem comprado a um preço mais alto, eles nunca venderiam. O que descobrimos é que as pessoas não se importavam,” disse ele em entrevista a um programa de rádio do jornalista conservador Sean Hannity.