Foram quatro anos de investigações e repressão no Governo de Joe Biden.
Com Donald Trump, entretanto, as criptomoedas estão prestes a serem designadas ‘prioridade nacional’ – e a Casa Branca que assume segunda-feira analisa inclusive a criação de uma reserva federal em Bitcoins.
Um dos primeiros atos do novo Governo deve ser a publicação de uma ordem executiva dando prioridade ao desenvolvimento da indústria cripto, diz a Bloomberg.
Trump deverá criar um conselho para tratar do tema, colocando na mesma mesa executivos do setor e funcionários das agências federais que hoje gastam mais tempo no encalço das exchanges do que trabalhando para a popularização das criptos.
Nos anos Biden, a Securities and Exchange Commission (SEC) abriu mais de uma centena de investigações e processos contra empresas do setor.
As empresas de cripto vinham criticando a insegurança jurídica e diziam que a falta de regras claras – como na questão da definição da categoria regulatória dos ativos – estava deixando os EUA para trás na corrida pelas inovações e aplicações na área.
As perspectivas de uma mudança de 180º com Trump já fizeram preço – e como.
O Bitcoin furou pela primeira vez a barreira dos US$ 100 mil e já subiu mais de 40% desde a vitória de Trump, no início de novembro.
Trump mantém há anos uma relação próxima com executivos do mundo cripto. Algumas das empresas do setor estiveram entre as principais doadoras da campanha republicana – e promovem nesta sexta-feira, em Washington, o Inaugural Crypto Ball, um evento em apoio ao novo presidente.
Entre as companhias que bancaram o republicano estão a Coinbase e a Ripple.
“Donald Trump dará um sinal de que os EUA estão de volta e que estamos prontos para liderar essa indústria,” disse à Bloomberg Kara Calvert, VP da Coinbase.
Durante a campanha, Trump já havia lançado a proposta de criar uma reserva estatal de Bitcoins, que, segundo ele, servirá como “um ativo nacional duradouro em benefício de todos os americanos.”
Segundo o New York Times, representantes das firmas do setor estão municiando com ideias e propostas David Sacks, o executivo de venture capital que vai ser o conselheiro de Trump para as políticas em cripto e inteligência artificial.
A reserva federal de criptos – que funcionaria de maneira similar às reservas estratégicas em petróleo e ouro – poderá ser iniciada com os cerca de US$ 20 bilhões em moedas digitais, recursos confiscados em diversas investigações ocorridas nos últimos anos.
Trump é entusiasta do universo cripto e inclusive virou sócio, ao lado de seus filhos, e uma startup de finanças descentralizadas (DeFi), a World Liberty Financial.
O CEO da Ripple, Brad Garlighouse, esteve recentemente com Trump em Mar-a-Lago e discutiu os planos de como criar a reservas em criptos.
“Trump tem o desejo de deixar como legado ter sido o presidente do cripto,” disse Garlighouse ao NYT.
Em um documento de 50 páginas, o Bitcoin Policy Institute – uma organização bancada pelas firmas de cripto – traça o cenário para a indústria cripto, analisa a competição geopolítica e estratégica, e lista sugestões para que os EUA dominem a área.
O relatório é endereçado a Scott Bessent, o futuro secretário do Tesouro, e tem como título: A ‘Global Economic Reordering’ – US-China Competition and Bitcoin as Tool of US Statecraft (Uma ‘Reordenação Econômica Global’ – Competição EUA-China e Bitcoin como Ferramenta de Governança dos EUA).
O texto diz que o Bitcoin, chamado com frequência de ‘ouro digital,’ pode oferecer aos EUA uma vantagem estratégica no fortalecimento de suas capacidades tecnológicas e financeiras.
“A escassez, a portabilidade e a descentralização fazem do Bitcoin um complemento ideal para as reservas tradicionais, como as de ouro,” afirma o documento. “Ao estabelecer a reserva estratégica de Bitcoin, os EUA podem diversificar o seu balanço financeiro, fazer hedge contra riscos financeiros sistêmicos e assegurar uma vantagem assimétrica sobre os seus competidores.”
O instituto sugere ainda que o alcance da estratégia pode ser impulsionada se realizada em conjunto com a emissão de stablecoins – as moedas digitais ‘oficiais’ e bancadas pelo Governo – denominadas em dólar. São planos hoje fora da agenda do Federal Reserve e das demais agências federais para a área financeira.
“Não é uma estratégia apenas de competição financeira,” afirma o documento do grupo de lobby. “É um plano para assegurar a liderança, estabilizar vulnerabilidades financeiras e manter o domínio tecnológico.”
Os defensores do projeto sustentam que as reservas poderão até mesmo reduzir o endividamento americano, hoje em US$ 36 trilhões, que poderá diminuir graças à esperada valorização dos ativos cripto.
Já os críticos julgam o projeto repleto de riscos – a não ser, claro, para a indústria cripto.
“Não há nada de estratégico ou sensato nessa ideia,” disse ao Times o economista Eswar Prasad, da Cornell University.
O projeto, se for levado adiante, envolveria a aquisição de milhões e milhões de criptomoedas, e os recursos sairiam dos cofres do Tesouro.
Independentemente de a ideia das reservas decolar ou não, é dado como certo que a regulação será mais amigável daqui para frente.
Um dos pontos centrais será acabar com a indefinição se as criptos devem ser classificadas como simples commodities, similares aos metais, ou como securities, ativos similares a títulos e ações – e com regras mais rígidas.
“Todo o mercado está aliviado,” disse o investidor e entusiasta cripto Frank Chaparro ao tabloide NY Post. “Os bancos finalmente poderão ter segurança para manter criptomoedas – nos últimos quatro anos, foi-lhes dito que eles não poderiam.”
Os bancões finalmente poderão trabalhar com cripto nos EUA sem sofrer com a “repressão regulatória.”