Noves fora as diferenças ideológicas, Tom Steyer é o tipo de cara que Salim Mattar quer trazer para a política: um sujeito com a vida ganha e que pode dedicar tempo para ajudar seu país (no caso, os EUA).
Fundador do Farallon Capital — um dos maiores hedge funds do mundo — Steyer lançou esta semana sua candidatura à Casa Branca pelo Partido Democrata.
Aos 62 anos, ele se junta a outros 23 pré-candidatos buscando a indicação do partido para a eleição de 2020.
Steyer, que fez carreira no mercado financeiro e tem um patrimônio estimado em US$ 1,6 bilhão, deve investir pelo menos US$ 100 milhões na campanha.
Filho de uma família rica de Manhattan e educado em escolas como Yale e Stanford, Steyer trabalhou anos na Goldman Sachs até fundar seu próprio hedge fund na Califórnia em 1986.
Foi Steyer quem negociou, um ano antes de se aposentar, a joint venture com Daniel Goldberg na América Latina, chamada FKG. (Mais tarde, a Farallon comprou a participação de Goldberg, tornando-o sócio nos EUA.) O Farallon também forneceu o seed capital para a Leblon Equities. Quando veio ao Brasil fechar a parceria, pediu que os sócios locais o levassem para conhecer a favela da Rocinha.
O Farallon lhe fez fortuna, mas o coração de Steyer sempre esteve nas políticas públicas. Há sete anos, ele vendeu sua participação na gestora e se reinventou como ativista político e de causas ambientais.
Desde então, se envolveu numa série de cruzadas que ganharam os holofotes. Na mais recente, gastou dezenas de milhões de dólares numa campanha em que aparecia na TV pedindo o impeachment de Donald Trump.
“Enquanto a câmera se aproxima de seus intensos olhos azuis, um preocupado Steyer entoa um aviso gentil: ‘Este Presidente é um perigo claro e presente, mentalmente instável e armado com armas nucleares’,” a Vogue descreveu num perfil recente.
Mas foi na causa ambiental que Steyer se encontrou. Desde 2013 ele é um dos principais opositores do Keystone XL, o oleoduto que ligará o Canadá ao Texas e, segundo ambientalistas, vai causar enormes danos ao meio ambiente.
Na época, Steyer chegou a escrever uma carta ao então Presidente Obama dizendo que, caso ele não rejeitasse o projeto, sofreria uma “rebelião de seus aliados mais fiéis.” Trump liberou o oleoduto no ano passado.
No anúncio de sua candidatura, Steyer falou do meio ambiente, mas puxou coro também por uma reforma política, um tema popular dentro do Partido Democrata.
“Se pudermos reduzir a influência do dinheiro corporativo em nossa democracia e começar a lidar com os impactos devastadores da mudança climática, poderemos liberar todo o potencial do povo americano e, finalmente, resolver os muitos desafios que nosso país enfrenta”, disse num vídeo.
A entrada tardia de Steyer na corrida deve impor alguns obstáculos à sua vitória.
Para participar do debate das primárias dos Democratas marcado para o fim do mês, Steyer terá que receber doações de pelo menos 65 mil Democratas e aparecer com pelo menos 1% das intenções de voto em três pesquisas qualificadas até o dia 16 — algo virtualmente impossível.
Em novembro passado, Steyer comprou uma página no USA Today para listar “cinco assuntos não partidários” nos quais os Democratas deveriam fazer campanha e que “representam liberdades essenciais que devem ser garantidas para todos os americanos”. Os cinco pontos: proteção aos direitos de voto, um meio ambiente limpo, uma educação completa, um salário digno e boa saúde.
Apesar de bilionário, Steyer demonstra desapego aos sinais exteriores de riqueza. Há alguns anos, um perfil no Men’s Journal notou que ele dirigia “um Honda Accord híbrido velho” e usava um relógio Ironman “barato, com uma pulseira de velcro.”
Segundo a Vogue, em 2013, Steyer gastou mais de US$ 30 milhões num referendo para obrigar a Califórnia a alocar mais dinheiro em iniciativas de energia limpa. (A proposta foi aprovada.) Em 2014, investiu US$ 75 milhões para apoiar candidatos Democratas e, em 2016, doou mais de US$ 100 milhões a candidatos liberais — mais do que qualquer outro doador político, incluindo os irmãos Koch, os maiores doadores Republicanos.
Dentro do Partido Democrata, Steyer é uma figura respeitada e um de seus financiadores mais prolíficos. Na última eleição presidencial, ele era cotado para o cargo de Secretário do Tesouro caso Hillary Clinton fosse eleita.
Mesmo assim, sua entrada na corrida eleitoral não agradou alguns membros do partido.
Ao saber da candidatura de Steyer, Bernie Sanders — um dos políticos mais radicais do partido e também pré-candidato — disse à MSNBC que estava “cansado de ver bilionários tentando comprar poder político”, apesar de gostar pessoalmente de Steyer.
Oh, Bernie. C’mon…
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