A Tim Hortons — um misto de Frans Café com Dunkin Donuts — está fazendo sua investida mais agressiva no mercado internacional desde que foi comprada pela 3G Capital há pouco mais de dois anos na operação de US$ 11 bilhões que fundiu a rede canadense com o Burger King.

A Restaurants Brand Internacional (RBI) — holding que reúne as operações do Burger King e da Tim Hortons — anunciou sexta-feira uma parceria com investidores para levar a rede de cafeterias para o México, marcando sua estreia na América Latina.

Fundada em 1964 pelo jogador de hóquei e ídolo nacional Tim Horton, a rede de cafeterias é praticamente um patrimônio nacional do Canadá e responde por mais de 75% do café consumido fora de casa no país (outro carro-chefe do cardápio são os donuts). Das 4.400 lojas, 3.650 estão em território canadense. Outras 650 estão nos Estados Unidos e 110 no Oriente Médio. 

Quando a 3G entrou no negócio, a ordem era cortar custos na operação canadense e alçar voos internacionais. No ano passado, a empresa iniciou a expansão com parcerias no Reino Unido e Filipinas.

Ainda não está claro se a RBI vai trazer a Tim Hortons para o Brasil, e, em caso positivo, quais modificações faria no conceito.

A receita do Burger King no Brasil vem crescendo a taxas de dois dígitos e o negócio gera caixa. Há seis meses, o Capital Group fez um aporte de R$ 350 milhões na empresa e pode fazer novos investimentos nos próximos anos. (Os outros sócios do BK no Brasil são a Vinci Partners, a Temasek e a própria RBI).

Mas segundo fontes do mercado de franquias, as diferenças no hábito de consumo de café entre Brasil e América do Norte são profundas, e o espaço para crescer em cafeterias é bem menor aqui do que o das redes de hambúrguer. 

Por exemplo, o Starbucks, que tem uma proposta parecida com a Tim Hortons, vem sofrendo para adequar seu modelo aos trópicos. Apesar do apelo da marca, as margens são baixas. O custo de operação das lojas é alto e o tíquete médio, pequeno, segundo essas fontes.

Enquanto os americanos têm o costume de pegar o café da manhã para comer no caminho, o brasileiro passa horas aproveitando o sofá e o wifi grátis, e, no fim das contas, acaba tomando apenas um cafezinho. O giro é muito menor que nos EUA.

No ano passado, o Starbucks abriu apenas três lojas e fechou duas no Brasil — reduzindo o ritmo de expansão, que estava na casa de 15 a 20 lojas desde 2012.

Ao contrário do que aconteceu com o Burger King, internacionalizar uma marca canadense — que não conta com o marketing espontâneo da cultura pop e de Hollywood — pode ser uma tarefa mais árdua que o esperado pela 3G.

A RBI vem tentando expandir a marca nos EUA, mas sem muito sucesso. O número de lojas (657) está praticamente estável desde o terceiro trimestre de 2015.

Na década de 1990, outra rede de fast food, a Wendy’s, comprou a Tim Hortons — e a dobradinha de hambúrguer com café não vingou. Depois da pressão de acionistas liderados por Bill Ackman, a Wendy’s acabou vendendo a Tims numa operação que resultou na listagem da companhia na Bolsa em 2006.

No México, por enquanto, o anúncio da entrada da Tim Hortons ganhou uma ajuda improvável: Donald Trump. 

Nos últimos dias, os mexicanos têm feito campanhas pelo boicote a produtos americanos nas redes sociais, com as hashtags #AdiósStarbucks e #AdiósMcDonalds.

Infelizmente para a 3G, a Tim Hortons está longe de despertar grandes paixões, mas, para sua sorte, o Canadá não desperta ódio em ninguém.