A XP iniciou a cobertura da Tim Brasil com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 21, o que implica um upside de 54%.
O relatório talvez tenha um nível de convicção acima da média: o analista Bernardo Guttman, que assina o relatório, era o gerente de relações com investidores da própria Tim até fevereiro deste ano.
Após 15 anos na área de RI, com passagens pela Oi e Queiroz Galvão Óleo e Gás, Bernardo foi para a XP montar a cobertura de telecom. Antes de escrever sobre a Tim, Bernardo passou por um período de restrição de seis meses. Seus primeiros relatórios foram sobre Brisanet e Unifique.
A tese da XP é que a Tim é um negócio maduro, resiliente, com rentabilidade alta e que está crescendo. Mas o papel, assim como o setor, foi deixado de lado pelos investidores, afastados pelo capex pesado e os baixos retornos do passado.
“Mas o setor vive uma nova fase em que as empresas estão com mais disciplina nos investimentos, compartilhando redes e buscando eficiência”, escreve Bernardo.
Um risco para a tese seria a perda do CEO Pietro Labriola, que há uma semana foi nomeado CEO da controladora Telecom Italia. Pietro está acumulando interinamente a função após a renúncia de Luigi Gubitosi, que vinha sendo muito criticado pela Vivendi, a maior acionista da Telecom Italia. A saída de Luigi aconteceu dias depois do KKR lançar uma oferta pelo controle da empresa italiana.
“O Pietro é uma figura fundamental para a Tim no Brasil”, Bernardo disse ao Brazil Journal.
Na avaliação da XP, a possível venda do controle da empresa italiana não dá direito de tag along no Brasil, mas não se pode descartar discussões sobre o assunto. E se o KKR colocar a Tim Brasil à venda, achar um comprador pode não ser fácil.
Hoje, a Tim está sendo negociada a 14,1x o lucro estimado para 2022 e 4x EV/EBITDA. O valuation da XP embute múltiplos de 21,8x e 5,9x, respectivamente..
Bernardo diz que a Tim deve ser a mais beneficiada pelo leilão de venda de ativos da Oi Móvel, que foram repartidos pela empresa, pela Claro e pela Vivo. “A Tim vai ficar com a maior quantidade de clientes e espectro. A infraestrutura dela sempre foi pior do que as das concorrentes, mas esse é um gap que está fechando”, diz Bernardo.
Como o negócio ainda não foi aprovado pelo CADE e pela Anatel, não está no modelo. Quando isso acontecer, o impacto no preço-alvo deverá ser de R$ 3, diz a XP.