A Tiger Global — um dos investidores mais ativos em ações de tecnologia — vai zerar sua posição na Decolar.com nos próximos dias, 11 meses depois da empresa fazer uma estreia concorrida na Bolsa de Nova York e em meio a uma nítida piora operacional.
 
A Tiger, que tem 43,7% da empresa, vai vender todas as suas 30,2 milhões de ações na Decolar, a maior agência online de viagens da América Latina.
 
O anúncio da oferta causou estranhamento no mercado porque a Decolar — que não gera fluxo de caixa livre — havia anunciado na parte da manhã um programa de recompra de ações.  Horas depois, o Tiger anunciou a intenção de venda.  Além disso, o chairman da Decolar, Jason Lenga, é sócio do Tiger, o que gerou críticas no mercado.  “Neste caso, o chairman está pensando no Tiger ou na companhia?” perguntou um investidor.
 
O anúncio empurrou a ação para sua mínima histórica. O papel fechou em queda de 6,6% a US$ 18,27, e cai 33% desde o início do ano.
 
O resultado do segundo trimestre, anunciado hoje cedo, também não ajudou.  
 
As reservas brutas aumentaram apenas 12% na comparação ano contra ano:  o número (reportado em dólares) foi afetado pela depreciação do real e do peso argentino, que por sua vez deprime a procura por viagens internacionais. 

Segundo o Itaú BBA, “a taxa de crescimento anual das reservas brutas está mostrando uma clara deterioração sucessiva (+ 12% no 2T18, + 21% no 1T18, + 26% no 4T17).” 

A margem EBITDA no trimestre foi de 8,3% — um mergulho de 9,3 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior — com a queda nas comissões e maiores custos de parcelamento.

 
“Não somos construtivos em relação às perspectivas de curto prazo, já que a dinâmica da indústria continuará a se deteriorar no ambiente macro atual”, escreveu o analista do Itaú, Rodrigo Nistor, avisando que vai revisar seu modelo.
 
O segundo maior acionista da Decolar é a Expedia, dona de 13,9% do capital.
 
O Decolar estreou na Bolsa a US$ 26 em setembro do ano passado: o IPO saiu no topo da faixa indicativa, mas a ação explodiu para US$ 32 logo no primeiro dia.
 
Avaliada em cerca de US$ 1,7 bilhão no IPO — um raro unicórnio na América Latina — a Decolar agora vale US$ 1,2 bilhão.
 
A ação negocia a cerca de 24 vezes o lucro esperado para este ano e 20 vezes o lucro de 2019. O valor de mercado é 3,4 vezes o valor patrimonial.
 
A outra investida da Tiger na América Latina a se listar em Nova York ano passado foi a Netshoes, que implodiu espetacularmente desde então. 
 
Historicamente, as online travel agencies (OTAs) que nasceram e cresceram tendo como foco principal a hotelaria — um mercado pulverizado e de margens altas — prosperaram, como aconteceu com a Booking.com, o Agoda na Asia e o Hotel Urbano (agora Hurb) no Brasil; enquanto isso, as que nasceram com foco no mercado aéreo não tiveram a mesma sorte, como a Orbitz (vendida para a Expedia), a E-Dreams e a própria Decolar.
 
“Elas cresceram por muito tempo queimando caixa, comprando crescimento, e quando tentaram buscar o equilíbrio financeiro encolheram e mostraram a fragilidade que era concentrar a principal linha de receita em poucas empresas aéreas,” diz um investidor.
 
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