As principais tendências tecnológicas em mobilidade – direção autônima, conectividade, eletrificação e compartilhamento – ainda estão em estágio inicial no Brasil, mas devem acelerar nos próximos anos, causando uma ruptura na indústria.

Uma pesquisa realizada pela McKinsey & Company, em sete países[1], revela que os brasileiros estão entre os mais propensos em adotar as inovações tecnológicas que estão por vir. Para a indústria de mobilidade, isso significa que há grandes oportunidades, mas captura-las exigirá investimento em infraestrutura e na cadeia produtiva.

Custo e conveniência são fatores determinantes para o consumidor

Enquanto que “estilo de vida” representa um elemento central no exterior, no Brasil o custo da mobilidade é determinante. Para 56% dos brasileiros entrevistados, os gastos para manter um veículo é o principal motivo para não terem um carro próprio. Por outro lado, 30% dos respondentes no exterior afirmam não ter carro porque “não faz parte do tipo de vida que quero ter” – no Brasil apenas 1% citam esse motivo2.

Já o fator “conveniência” é o principal motivo para as pessoas utilizarem aplicativos de transporte em todos os países pesquisados. No Brasil este é o caso para 55% dos respondentes enquanto a média global é de 51%. Outros 24% citam o preço mais baixo em comparação com os táxis comuns e/ou o carro próprio.

A conectividade dos veículos avança

A conectividade de veículos promete oferecer uma experiência única para os consumidores, além de facilitar a captura de ganhos importantes na eficiência de diferentes segmentos do setor. A conectividade dos veículos deve por um lado facilitar a oferta de serviços ao consumidor no momento adequado (como, por exemplo, manutenção e troca de partes) e por outro permitir a otimização do desenho do veículo dadas a condições efetivas de seu uso na região. Por estes motivos, estima-se que, até 2030, 95% dos veículos novos vendidos globalmente terão algum nível de conectividade, enquanto hoje este número está em cerca de 50%.

Junto com os chineses, os brasileiros assumem uma posição de destaque na aceitação da conectividade: 88% dos respondentes naquala região asiática e 80% dos brasileiros afirmaram estar dispostos a trocar o carro atual por um veículo conectado.

Com a tecnologia aplicada nos veículos, a preocupação com privacidade no Brasil é moderada quando comparada com outras geografias – os suíços são mais fechados, onde 54% deles se mostraram menos inclinados a compartilhar seus dados. Os brasileiros também se mostram duas vezes mais propensos do que a média mundial em contratar serviços conectados para o carro, principalmente se eles garantirem maior eficiência na operação do veículo e em economia de combustível.

Neste contexto, é fundamental que agentes do setor desenvolvam uma relação de confiança com o usuário, visando que ele entenda que seus dados são coletados com segurança e responsabilidade, dentro de suas expectativas.

Veículos elétricos despertam interesse

Brasileiros também demonstram interesse em veículos elétricos ou híbridos: 50% dos respondentes aceitariam pagar um preço mais elevado por estes veículos, enquanto a média mundial é de 38%. O principal motivo para 64% deles é o menor impacto ambiental, enquanto para todos os demais seis países este porcentual foi significativamente menor: Alemanha e Suíça com 58%, já os EUA com 56%, França 48%, seguido por China e Japão em 44%.

Outro fator de interesse aos brasileiros é o menor ruído de seu motor e a conveniência de carregá-lo em casa. Por outro lado, eles se preocupam com o acesso a estações de carregamento, o tempo de vida da bateria, o alto preço do veículo e seus custos de manutenção. De qualquer forma, o ritmo de adoção dependerá da evolução da legislação, além da infraestrutura para carregamento e manutenção.

Incetivos e regulação podem acelearar a adoção deste tipo de motorização. Por exemplo, durante a pandemia de Covid-19, a União Europeia concedeu suporte à indústria automotiva exigindo como contrapartida a aceleração da transição para veículos elétricos. De forma similar, diversos países anunciaram recentemente a eliminação dos veículos a gasolina ou diesel até 2030/2035.

Os consumidores aceitam o carro autônomo

A adoção da direção autônoma deve ser gradual seguindo seus diferentes níveis[2] (de zero, quando motorista tem controle total do veículo, até cinco, quando computadores desempenham todas funções).

A maioria dos entrevistados brasileiros (87%) respondeu que mudaria para um veículo com condução autônoma se o carro também tivesse a opção de direção manual. Já os consumidores de países como Estados Unidos, Alemanha e Japão, manifestaram menor interesse. Além disso, 57% dos entrevistados responderam que usariam o carro autônomo para atividades do dia a dia e 53% para viagens (acima da média global de 45% e 46%, respectivamente).

Promovendo a evolução da mobilidade

As quatro tendências da mobilidade do futuro desafiarão o modelo atual, mitigando suas deficiências. Estima-se que um veículo de combustão interna aproveite apenas 14% da energia gerada pelo combustível queimado. Dos acidentes de trânsito, 95% são causados por erros humanos e mais de 1 milhão de pessoas morrem por ano no planeta em decorrência deles.

Veículos atutônomos oferecerão uma experiência única ao cliente, gerando uma economia de aproximada de R$900 para o proprietário e receitas de até R$1.550 anuais por veículo para os diversos elos da cadeia de mobilidade3. Já a condução autônoma permitirá que os motoristas aproveitem melhor seu tempo em translados e acidentes sejam muito menos frequentes. Estas tecnologias também facilitarão o compartilhamento e melhor utilização dos ativos no sistema.

Desta forma, a adoção de tecnologias em mobilidade deve ter um grande impacto na indústria. À medida que as margens de lucro sofrem mudanças e novas oportunidades surgem, diversos setores precisarão se adaptar e se transformar.

Roberto Fantoni é senior partner da McKinsey.

Felipe Fava é associate partner da McKinsey.

Juan Sanchez é associate partner da McKinsey.

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