Quando as manifestações de rua começaram em 2013, a ficha caiu para muitos: os culpados somos nós!  Despertamos para o fato de que não poderíamos ignorar a política, e que os inconformados que mudam o mundo.

Surgiram então novos movimentos de rua para protestar contra a corrupção; instituições como o Renova BR para preparar candidatos para assumir cargos no Congresso; um partido Novo, formado por pessoas que nunca haviam se envolvido em política; movimentos como Acorda e Livres. E, enquanto isso acontecia, corruptos iam sendo punidos e o dinheiro roubado começava a ser devolvido. Bilhões de reais foram recuperados.

Parecia que finalmente a corrupção caminhava para ser vista como a escravidão: algo que sempre existiu, que fazia parte da sociedade, mas que não era mais tolerado. Seria o fim de um país com a corrupção institucionalizada.

Entretanto, demos um enorme passo para trás. O retrocesso se concretiza quando corruptos são soltos e há evidências de que a corrupção continua existindo no alto escalão.

Novamente, os culpados somos nós, porque o que explica este andar de marcha a ré é o nosso cansaço ou, pior, a desesperança: não queremos mais falar no assunto.

E muito disso decorre do fato de as pessoas focarem apenas na eleição para presidente, favorecendo a polarização e diminuindo a importância dos cargos legislativos.

Não damos ao Congresso a atenção que ele requer: são os deputados e senadores que fazem as leis que o Executivo deve seguir, e nas quais o Judiciário tem que se basear. Cabe também aos congressistas o poder de fiscalizar o Executivo.

Reclamamos de deputados e senadores deturpando nosso sistema político com falcatruas como o orçamento secreto e emendas do relator abusivas. Mas fomos nós que os elegemos.

A maioria dos brasileiros não se recorda em quem votou para deputado ou senador. E mesmo os que se recordam e entendem a importância do Legislativo, quando as eleições se aproximam, sempre caem na armadilha de falar basicamente sobre a Presidência, deixando o Congresso num plano muito inferior.

Tentar convencer pessoas a votar no seu candidato a Presidente é um exercício que normalmente resulta em discussões e não tem a capacidade de mudar o resultado final. Em um colégio eleitoral de mais de 156 milhões de pessoas, mesmo uma diferença apertada de 1% ainda representa mais do que 1,5 milhão de votos, o que significa que dificilmente um de nós seria capaz de alterar o desfecho da eleição presidencial.

Entretanto, com as eleições para deputados e senadores a situação é outra.  As diferenças entre eleitos e não eleitos costuma ser pequena, muitas vezes alguns poucos votos.

Podemos e devemos fazer algo para melhorar a qualidade do Congresso.  Além de escolher bem em quem votar, podemos ajudar a identificar bons candidatos e apoiá-los.

Vamos direcionar a conversa sobre outubro para o Congresso, e assumir o compromisso de apenas votar em pessoas íntegras.

Para as eleições deste ano, o Projeto 200+, propõe um termo de compromisso ao qual candidatos e eleitores aderem.

Ainda em pré-lançamento, o Projeto 200+ já tem mais que 12 mil eleitores e mais de 60 candidatos, e o objetivo ambicioso de eleger 200 ou mais deputados e senadores que tenham firmado o termo.

Entre os compromissos assumidos pelos candidatos estão:

• a atuação pelo fortalecimento da democracia e do Estado de direito.
• a redução de dois terços ou mais do fundão eleitoral.
• a defesa da prisão após condenação criminal em segunda instância.
• o fim do foro privilegiado.
• a realização de cursos de preparação e capacitação política.
• a promessa de afastamento definitivo do cargo em caso de condenação em qualquer instância.

• antes da candidatura, não ter sido condenado em nenhuma instância em processo por corrupção.

Dos atuais 513 deputados federais, com base em como votaram durante seus mandatos, apenas 41 se qualificariam para assinar o termo.  Nem 8%!

É particularmente interessante observar que eles estão distribuídos entre 15 partidos, e apenas dois, justamente o Novo e o PSOL, ideologicamente opostos, têm uma quantidade relevante de deputados que atenderam esses critérios.

Quanto mais eleitores e candidatos participarem do Projeto 200+, novas e favoráveis condições haverá para, de fato, conseguirmos mudar o País para melhor.

Charles Putz é um cidadão ativo politicamente e sócio-fundador da Verena Ventures.