“Os melhores negócios do mundo não estão no Brasil — e não estarão em praticamente em nenhum futuro plausível,” disse David Kaddoum, o sócio fundador da TB Capital.
Por conta disso, a gestora, que está completando três anos e administra R$ 1,8 bilhão, disse a seus investidores que não tem mais a obrigação de investir aqui. “Escolhemos ser generalistas e, assim, fazia pouco sentido ficar restrito a tão poucos negócios que existem por aqui. Nosso trigger é a alocação em outras geografias, em negócios globais,” David disse ao lado de seu sócio Gabriel Saavedra num Investor Day que reuniu cerca de 70 investidores na sexta-feira no Rio.
Para os dois gestores, há exceções. “No Brasil, duas empresas têm as mesmas qualidades e características dos melhores negócios do mundo: Nubank e Mercado Livre. Curiosamente, não são empresas feitas por brasileiros,” disse David. “Vamos precisar de um tratado sociológico para entender o que aconteceu para nenhum brasileiro ter conseguido fazer uma empresa com esse nível de sofisticação.”
Quando a TB foi lançada, em agosto de 2022, o plano era equilibrar no portfólio ações globais e brasileiras, além de um pouco de crédito.
Segundo Gabriel, a estratégia agora está dividida entre investimentos estruturais – os cases globais que vão constituir a maior parte da carteira – e investimentos oportunísticos, que poderão incluir ativos brasileiros.
“O output do portfólio ainda é equilibrado entre Brasil e global, até talvez por conta do nosso conhecimento acumulado na largada. Pra frente, é improvável que este seja o caso. O Brasil não se ajudou no meio do caminho. Uma série de setores que julgávamos produtores de ideias acabaram saindo da nossa análise.” Entre os segmentos que a TB está deixando de prestar tanta atenção estão: banda larga/fibra, bens de consumo, commodities, imobiliário e saúde.
Outro combinado da TB com os investidores vai continuar: a taxa de performance de 20% sobre o que superar o IMA-B seguirá sendo cobrada apenas a cada três anos.
“Somos investidores de longo prazo. Três anos é o mínimo. Assim, não faria sentido cobrar dos cotistas por retornos de curto prazo,” disse Gabriel.
Segundo David, os investidores da casa têm “paciência para ganhar carrego e entendem que oscilação de preço não significa nada versus a qualidade de investimento.” Por ter este perfil no passivo, a TB não sofreu grandes saques.
A primeira cobrança de performance está acontecendo agora: desde o lançamento, o retorno acumulado pelo fundo é de 95,19%, acima dos 62,88% do MSCI ACWI (o índice global que agrega mercados desenvolvidos e emergentes) e dos 36,30% do IPCA +IMA-B, o índice que mede o desempenho de títulos públicos indexados à inflação.
David disse que, no mercado internacional, a TB acertou as teses do ponto de vista qualitativo e se beneficiou do fechamento do custo de capital para equity no EUA. “Os múltiplos subiram bem, e, no Brasil, mesmo com o retorno trágico nessa janela de três anos, conseguimos ir bem em todos os investimentos que fizemos,” disse o fundador.
Atualmente, o investimento no Brasil ainda é relevante e corresponde a 45% do fundo – 12% estão alocados na NTN-B 50 e 33% em ações. Os maiores pesos na carteira são Equatorial e Stone, com 11% do fundo cada, além de Nu e XP, com 6% cada.
A carteira internacional tem como principais apostas o Google (8% do fundo); TSMC (8%), Amazon (7%); Meta (7%); e, em menor proporção, Apollo, Airbnb e Booking, cada uma com 4%.
Na visão dos sócios, o mais importante nesses três anos foi a capacidade dos cinco sócios de aumentar o repertório de empresas e indústrias analisadas.
“Uma das grandes forças do generalista é poder olhar o negócio de e-commerce nos EUA e na América Latina e tirar ideias sobre como vai funcionar o setor na Coreia do Sul. Para dar um exemplo, temos hoje no portfólio a Coupang, que é um ganhador de share gigantesco no mercado sul coreano,” disse Gabriel.
Depois da apresentação, David e Gabriel passaram mais duas horas respondendo perguntas. Segundo eles, a inspiração para o evento, que será anual, é a relação construída com investidores pelos encontros do gestor suíço Robert Vinall.
Entre os interesses da plateia, o tema Inteligência Artificial. “AI é um real deal, não temos muita dúvida, mas temos um certo grau de questionamento do momento do ciclo em que estamos,” disse Gabriel. “Existem excessos, principalmente quando algumas startups aumentam o cash burn de US$ 50 bilhões para US$ 120 bilhões e os investidores aplaudem. Esse filme já passou em outras eras e é um pouco assustador.”
Hoje a TB não tem nenhum negócio pure AI na carteira, e não investe tematicamente. “AI é um adicional importante para os negócios das empresas e para nós, inclusive, como um questionamento para entendermos para onde o mundo vai. Mas nossos investimentos são em negócios, independentemente de paradigmas.”
A TB também já usa AI como uma ferramenta a mais em seu processo de investimento.
“Gravamos as reuniões e temos uma sistemática de ordem de perguntas em que todas as teses ficam empilhadas e são reavaliadas a cada encontro. Assim, estamos gerando um database de memória para o futuro, quando acreditamos que os sistemas vão melhorar muito ao longo do tempo”, disse David. “Como um amparo de decisão, usamos mais como um identificador de pontos cegos, de questões que tenham sido pouco refletidas em alguma reunião. Nos ajuda também para ter resgate de premissas,” disse David.
O vídeo do Investor Day estará disponível no site da gestora nos próximos dias.