No dia em que a Light elegeu seu novo conselho de administração, Nelson Tanure falou com o Brazil Journal sobre seus planos para a companhia, as negociações com os credores e a expectativa de que a Light possa valer “dezenas de bilhões de reais,” assim como outras distribuidoras.
Tanure — que também é acionista de referência de empresas como a PetroRio, a incorporadora Gafisa e a rede de diagnóstico Alliança — tornou-se o principal acionista da Light numa questão de semanas.
A WNT, gestora ligada ao empresário, tem 30% do capital da Light, seguida pelos investidores Ronaldo Cezar Coelho, com 20%, e Carlos Alberto Sicupira, com 10%.
Na conversa, Tanure adotou um tom conciliador em relação aos credores, disse que estará envolvido pessoalmente nas negociações e que o conselho vai nomear o BR Partners como um novo interlocutor “com o mandato de construir uma solução em conjunto com bancos, debenturistas e demais credores.”
A Light é uma empresa com problemas operacionais, com um dos maiores índices de roubo de energia do mundo, uma dívida de bilhões e uma concessão que está prestes a vencer. O que enxergou nessa oportunidade que outros investidores não perceberam?
A Light é um patrimônio do Rio de Janeiro e do Brasil. Por uma sequência de erros de gestão desde a privatização, a Light foi colocada nessa posição lamentável de endividamento e problemas operacionais. Mas nós estamos convictos de que viraremos o jogo. A Light tem o potencial de valer dezenas de bilhões de reais, assim como suas empresas irmãs que cobrem estados vizinhos como a CPFL, Cemig, Copel e Equatorial.
Mas como você pretende consertar uma operação que está dando errado há tanto tempo?
Com muito trabalho e diálogo. Nós vamos criar frentes de trabalho para dialogar com consumidores, governos, sociedade civil, credores e acionistas. Os problemas da Light são de toda a sociedade e é importante criar um pacto entre todos para resolvê-los.
Você foi crítico em relação ao processo de Recuperação Judicial da Light mas acabou votando de forma favorável à RJ na assembleia de acionistas. O que motivou essa mudança de posição?
Eu entendo que há processos de reperfilamento de dívida concluídos com sucesso fora do ambiente do Judiciário. Mas as pessoas que tomaram essa decisão na Light o fizeram de forma legítima. Eu me tornei acionista da empresa depois do pedido de RJ. Preferi buscar uma solução de consenso com os demais acionistas. A ideia, de todo modo, é concluir o processo de RJ o mais breve possível.
O novo conselho reflete um alinhamento entre os três principais acionistas?
Sim, estamos 100% alinhados, desde a escolha dos nomes até a nova estratégia. Iremos trazer para supervisão direta do conselho os temas de renegociação da dívida e renovação da concessão. Serão criados comitês responsáveis diretos pela condução desses processos, de forma a liberar a diretoria para focar na operação da companhia.
Quais são os principais desafios da gestão operacional?
O furto de energia é um deles. E não pode ser encarado com fatalismo, como se nada pudéssemos fazer para combatê-lo. Podemos e devemos combatê-lo. Devemos isso à sociedade e ao conjunto dos stakeholders. Será uma prioridade. Não se aceita o roubo de um celular ou de um carro. Por que aceitar o furto de energia? Tenho certeza de que, em parceira com o poder público, reduziremos drasticamente o problema. O Governo do Rio tem se empenhado nesta direção. Vamos continuar a conversar. E investiremos nisso.
Qual a sua visão em relação ao atual management da Light?
Já tive oportunidade de dizer que o management tem feito um bom trabalho. Ele vai estar focado agora no dia a dia. A operação é complexa e temos um time qualificado para dar conta dos desafios que uma concessão pública enfrenta no Rio de Janeiro.
Qual vai ser o papel do novo conselho?
A Light terá um Conselho com perfil mais executivo. O management da companhia se ocupou de temas com os quais o novo Conselho poderá contribuir e talvez endereçar mais rapidamente. Isso é especialmente válido no que diz respeito à negociação com credores e órgão regulador. Eu estarei pessoalmente envolvido em ambos.
Qual sua visão sobre o plano de recuperação apresentado?
O plano de recuperação conta com o respaldo dos acionistas. Tive tempo de opinar e de influenciar, mas acho que sempre é possível realizar ajustes. Meu verdadeiro plano é negociar para compor. A ideia é e sempre foi “repartir” as perdas no presente mas também, e sobretudo, “repartir” os ganhos no futuro. E eles virão. Mas eu tenho um mantra diário: “Temos que sair urgente dessa RJ”!
Você vai conduzir diretamente essas conversas com credores?
Eu farei parte do comitê que terá responsabilidade pela renegociação das dívidas. Estaremos apontando um novo interlocutor, o BR Partners, um banco de investimento respeitado e com larga experiência em negociações. O mandato do BR Partners será construir uma solução em conjunto com bancos, debenturistas e demais credores.
O Itaú tem liderado um grupo de credores da Light e chegou a pedir intervenção na companhia. Como estão as conversas com o banco?
Estou lendo o livro sobre a história da Light onde é citado um discurso pronunciado por Olavo Setúbal quando era prefeito de São Paulo. Ele afirmou à época que a grandeza de São Paulo se devia a três fatores: “o café, os imigrantes e a Light”.
Já que falamos em grandeza, uma instituição com a grandeza do Itaú não deixaria de apoiar o resgate de uma companhia que já desempenhou esse papel, reconhecido por aquele que, simboliza, ele próprio, o Banco Itaú. Seus sucessores herdaram a mesma visão generosa de Brasil.
O que você pode dizer sobre uma potencial capitalização da companhia?
Minha ideia é que a Light concessionária tenha seu passivo extremamente reduzido para fazer jus, com louvor, a todos os critérios técnicos exigidos para renovação da concessão. E para tal vamos, sim, encabeçar um grande programa de capitalização. É o que posso dizer no momento.