A Tania Bulhões — a marca de louças e perfumaria de luxo — acaba de fazer a primeira aquisição de sua história, comprando uma empresa tradicional de Limoges, a região da França que produz as porcelanas de mais alta qualidade no mundo.
“Limoges está para a porcelana assim como a região de Champagne está para os espumantes,” disse o CEO Virgilio Castro Cunha. “É o berço da porcelana no mundo e são fábricas centenárias, com muita experiência na fabricação de porcelanas.”
Segundo o CEO, a região tem uma vantagem difícil de replicar: um caulim (a matéria-prima das porcelanas) de altíssima qualidade e que, por lei, só pode ser usado nas fábricas da região.
A Tania Bulhões está comprando o controle da Royal Limoges, uma empresa de 250 anos que produz 12 mil itens por mês e tem uma marca própria comercializada ao redor do mundo.
A Royal Limoges já era fornecedora da Tania Bulhões há 25 anos para os produtos mais premium da marca. A empresa brasileira compra metade de toda a produção da fábrica.
Segundo Virgílio, a verticalização vai garantir que a companhia tenha a oferta de matéria-prima necessária para manter seu ritmo de expansão — num momento em que o mercado de porcelanas de alta qualidade está cada vez mais demandado.
A Gucci comprou há alguns anos a Richard Ginori, uma fábrica de porcelanas em Florença. A Dior tem aumentado sua aposta nos produtos para casa, com destaque para a parte de mesa, enquanto a Hermès está construindo uma fábrica de porcelanas do zero, também em Limoges.
“O mercado tem uma oferta muito apertada. Você vai na Gucci ou na Hermès comprar um aparelho de jantar e não tem para entrega imediata, tem que esperar semanas,” disse Virgílio. “Com a gente também: nosso produto feito em Limoges tem quatro anos que não temos entrega imediata. Quando chega o produto acaba muito rápido.”
O plano da Tania Bulhões é dobrar a capacidade da fábrica de Limoges nos próximos dois anos. Além da compra de equipamentos e expansão do espaço, o maior desafio é o treinamento dos funcionários, já que a fabricação das porcelanas é um trabalho artesanal.
“O mais desafiador é treinar as pessoas. O processo entre contratar um novo funcionário e ele passar a ter impacto na produção dura em torno de um ano,” disse Virgílio.
A verticalização da companhia não vai parar em Limoges.
A empresa também planeja construir uma fábrica de porcelanas em Uberaba, a cidade natal da fundadora da marca.
O plano é que essa fábrica fique pronta no segundo semestre do ano que vem. Além da parte de porcelana, a companhia está estudando construir no mesmo local uma fábrica de perfumes e um espaço para experiência, com uma loja com café e tours de visitação para os clientes conhecerem o processo produtivo.
A Tania Bulhões quer usar o conhecimento técnico e a expertise da Royal Limoges para ajudar na estruturação dessa nova planta e no desenvolvimento dos processos produtivos. Naturalmente, essa fábrica será focada em produtos com um price point menor que o de Limoges, mas “queremos fazer a segunda melhor porcelana do mundo,” disse o CEO.
A verticalização vem num momento em que a Tania Bulhões está acelerando sua expansão depois de levantar R$ 100 milhões com a TreeCorp no ano passado.
A companhia já tem 33 lojas no Brasil, a maior parte em São Paulo e no Rio, e planeja fechar o ano com 40.
Virgílio está em Nova York negociando também a abertura da primeira loja da marca nos Estados Unidos. Mas o grande foco no exterior, num primeiro momento, será a venda online.
“Já temos uma demanda consistente de clientes internacionais que nos acessam via Instagram. Fazemos algumas vendas a partir do Brasil, mas isso é um modelo muito ineficiente,” disse Virgilio.
Por conta disso, a companhia decidiu montar uma estrutura nos EUA para dar início ao processo de internacionalização. “Queremos nos consolidar como a principal marca de luxo brasileira do mundo.”
Outro plano é entrar no mercado de hospitalidade. A Tania Bulhões já está abrindo um restaurante, que vai se chamar Leila e ficará dentro da loja-conceito da marca, e pensa em abrir um hotel da marca no médio/longo prazo.