A SulAmérica acaba de comprar a Sompo Saúde num movimento que adiciona 116 mil vidas à sua carteira e aumenta o market share da companhia em seu segmento core: os planos de saúde premium.
A SulAmérica vai pagar R$ 230 milhões por 100% da operação de saúde da seguradora japonesa, tudo em dinheiro. O pagamento será feito com o caixa da SulAmérica, que levantou R$ 1,5 bilhão no final de novembro numa emissão de debêntures.
A aquisição é pequena para o tamanho da SulAmérica: a Sompo faturou R$ 470 milhões nos primeiros nove meses deste ano, em comparação aos R$ 14,5 bilhões que a SulAmérica fez no período.
A SulAmérica tem 2,4 milhões de vidas em seus planos de saúde, 2 milhões nos planos odontológicos, e vale R$ 11 bi na Bolsa.
Mas a transação é estratégica porque aumenta o market share da companhia em seu principal nicho — os planos premium na cidade de São Paulo e região metropolitana —, catapultando a SulAmérica para a segunda colocação neste mercado em número de vidas.
Hoje, a maior operadora de saúde da Grande São Paulo é a Notredame Intermédica, com 25% de share. A segunda é a Amil (17%), seguida pelo Bradesco (13%) e SulAmérica (12%).
Com o movimento de hoje e a redução no número de vidas da Amil — que colocou à venda sua operação de planos individuais com 370 mil vidas — a SulAmérica deve se tornar a segunda maior desse mercado.
O CEO Ricardo Bottas disse ao Brazil Journal que a transação traz sinergias relevantes, incluindo a integração das operações (do backoffice a pessoas), a negociação com os prestadores de serviços e a relação com os corretores.
Outra oportunidade: fazer o cross-sell dos planos odontológicos para a base de clientes da Sompo, que não tinha essa vertical. (Para efeito de comparação, cerca de 40% dos clientes de saúde da SulAmérica já têm o plano odontológico.)
Após todas as sinergias, a expectativa da SulAmérica é que o faturamento da Sompo suba para R$ 650 milhões/ano.
Segundo o CEO, a aquisição saiu a cerca de R$ 2.000 por beneficiário, em comparação aos R$ 4.600 que a SulAmérica negocia na Bolsa.
A comparação não é perfeita porque o market cap da SulAmérica precifica também sua gestora de recursos, a operação de vida e previdência e a de planos odontológicos, mas “esse múltiplo é bem atrativo também em comparação a outras aquisições que fizemos no passado,” disse o CEO.
A negociação entre as duas empresas começou há dois meses e partiu da SulAmérica. A Sompo Brasil – que nasceu depois que a japonesa Yasuda comprou a Marítima Seguros em 2013 – não havia colocado seu negócio de saúde à venda, mas acabou vendo valor na transação porque ela vai permitir que a japonesa foque em seus segmentos principais: os seguros massificados e de automóveis.
A transação vem num momento em que a SulAmérica tem acelerado sua estratégia de M&As com foco em reduzir seu tíquete médio – com planos que custam de R$ 300 a R$ 500 – competindo com as operadoras verticalizadas.
Em 2020, a SulAmérica pagou R$ 385 milhões pela Paraná Clínicas, uma rede verticalizada de Curitiba dona de um hospital, sete clínicas e uma carteira de planos de saúde. Pouco tempo depois, comprou a carteira de planos de saúde da Santa Casa de Misericórdia de Ponta Grossa (também no Paraná).
Há alguns meses, a SulAmérica disputou com a Hapvida a compra da HB Saúde, uma operadora verticalizada de São José do Rio Preto, mas acabou perdendo para a concorrente.
A SulAmérica também opera nesse segmento – que ela chama de ‘middle ticket’ – com seus planos “Direto”. No total, ela já tem 175 mil vidas nessa frente: 50 mil do Direto e 125 mil da Paraná Clínica e Santa Casa de Ponta Grossa.A expectativa da SulAmérica é que esse segmento se torne uma vertical relevante da empresa.
A SulAmérica tem outros seis M&As no pipeline, dos quais dois em estágio avançado de negociação. A maior parte deles tem um perfil parecido ao da Paraná Clínicas.
A investida nesse segmento é um movimento defensivo – a SulAmérica quer ter uma opção de plano mais barato para que uma empresa que queira cortar custos não precise ir para um concorrente – mas também uma forma de aumentar seu mercado endereçável.
Dos 48 milhões de beneficiários da saúde suplementar, 11 milhões estão no segmento premium (o core da SulAmérica), outros 11 milhões no middle ticket, e o restante no low ticket.
A Santis assessorou a SulAmérica, que teve a assessoria jurídica do BMA Advogados.
O Pinheiro Neto foi o assessor jurídico da Sompo.