Luis Stuhlberger, que na crise de 2016 temia que no fundo do poço houvesse “um alçapão”, desta vez vê uma luz no fim do túnel e acha possível uma recuperação dos mercados entre 6 meses e dois anos. 

10196 ff828a0b 81fc 0000 0004 5875a097e7e6O gestor do Verde disse que “a guerra destrói países, moedas e empresas. Fora a guerra, nenhuma outra crise na história deixou esse estrago.”

“Quando estamos no meio de uma crise parece que ela nunca vai terminar, todas que eu vivenciei foram assim… Mas em algum momento alguma solução vai surgir e quando isso acontecer os preços voltarão.” 

Os comentários foram feitos ontem durante uma teleconferência com clientes do private banking do Itaú.

Com 43 anos de mercado, Stuhlberger lembrou as crises que marcaram sua carreira: do Plano Real à crise asiática de 1997, da crise russa de 1998 à quebra da Argentina em 2001, do pânico com Lula em 2002 à crise global de 2008.  Para ele, o Brasil entra nessa crise mais forte.

“Na eleição do Lula, o CDS [que mede o risco de inadimplência de um País] passou de 2.000 pontos, hoje estamos em 300.  O dólar, com a inflação de antigamente, estaria hoje em torno de R$ 8. Já houve momentos de crise em que o Brasil estava pior.  O que essa crise tem de particularmente pior é o lado da saúde, o risco de vida, ver as pessoas morrerem…  a gravidade disso é muito maior que uma “gripezinha” e nas outras crise o que afetava o Brasil era algum fator político ou econômico.” 

No fim de fevereiro, quando o vírus começou a se alastrar pelo mundo, o Verde tinha 25% da carteira comprada em ações brasileiras. Na época, Stuhlberger disse que a gestora começou a comprar ações americanas e parou de comprar Brasil. 

“Fui comprando S&P todos os dias, porque quem vai sair primeiro da crise é quem tem mais dinheiro, talento e recursos. Os EUA podem ter errado no começo, porque demoraram para começar a fazer testes, mas quando eles querem fazer algo, eles fazem acontecer.”

Hoje, o Verde tem 37% da carteira comprada em ações americanas (via índices e alguns papéis específicos) e 15% em ações brasileiras — uma composição que funcionou em todas as outras crises e que ele acredita também vai funcionar dessa vez. 

“O que todas as outras crises tiveram em comum é que quem comprou sem se alavancar, fez um scale-down [comprou aos poucos] e seguiu com essa posição sem querer acertar o melhor momento de ter investido (porque não existe essa resposta) foi vencedor.”

Stuhlberger disse que considera as medidas adotadas por Brasília até agora positivas, mas que ainda falta uma política que proteja os empresários e impeça demissões em massa. 

“Ainda não teve nada. Precisa de algo que permita às empresas deixar as pessoas em casa com metade do salário e isso precisa ser feito com urgência. Se não a massa de demissões vai ser gigante.”

O gestor disse ainda que acredita que um período de lockdown seja necessário, já que, se não fizermos agora, teremos que fazer em condições muito piores daqui a um mês. 

Ainda assim, ele ponderou que o País não tem como ficar parado por mais de 3 ou 4 meses.

“O lockdown ajuda a ganhar tempo para termos condições de fazer testes em massa,” disse ele. “Mas daqui a 3 meses, quando tivermos isso, precisamos ir liberando as pessoas para a vida normal.”

“Não dá para saber quando o mercado vai melhorar”, disse o gestor do Verde, lembrando que a ciência às vezes demora para domar as pandemias e transformá-las em doenças crônicas. 

“A história nunca se repete, mas eu tenho otimismo e o mercado, de certa forma, também.”

Amanhã, o Verde fará uma apresentação para seus investidores chamada “Quarentena Seletiva”, com Stuhlberger, o economista-chefe Daniel Leichsenring, e Thomas Wu, economista sênior internacional da gestora.