Com o cenário difícil para os fundos multimercado, alguns alocadores têm pressionado os gestores a aumentar o nível de risco dos fundos.

É uma tentativa de mostrar aos clientes que vale a pena investir nesses produtos, mesmo quando a atração da renda fixa é quase irresistível.

Não é essa a saída, diz Luis Stuhlberger, fundador da Verde Asset.

“Existe uma pressão dos alocadores por uma vol permanentemente alta, o que é perigoso,” o gestor disse ao Brazil Journal. “Não dá para estar no game sempre. É when and if.”

Um “when and if” da Verde aconteceu em novembro, com a eleição americana e a piora do quadro fiscal brasileiro – e foi um exemplo clássico de como Stuhlberger e equipe calibram risco e retorno.

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Alguns meses antes da votação, a análise da casa indicava uma chance maior de vitória de Donald Trump do que mostrava a maioria das pesquisas.

A gestora montou posições que dariam retorno se Trump se tornasse presidente – e implementasse as medidas protecionistas e de cortes de impostos que estava prometendo. A Verde ficou comprada em inflação e bolsa americana e também em dólar frente ao euro e à moeda chinesa.

Dias antes da eleição, investiu em bitcoin, já que existe a expectativa de que um governo Trump apoie uma regulamentação favorável a esse mercado.

“Era uma oportunidade rara em que havia uma probabilidade de ganho relevante, e a perda, se acontecesse, seria pequena, já que o impacto de uma derrota de Trump no preço do bitcoin seria marginal,” diz Luiz Parreiras, sócio da Verde.

Ainda assim, como a volatilidade do mercado cripto é altíssima, a gestora montou uma posição pequena.

O lucro do investimento foi de 40%, mas o impacto na cota do mês foi baixo.

Ao todo, os investimentos ligados à eleição americana geraram aproximadamente metade do retorno de novembro, que foi de 3,29% – o mais alto para o Verde desde o fim do ano passado e um dos maiores entre os fundos multimercado.

Depois do ganho, a gestora zerou o short de euro, embolsou os 40% de lucro com o bitcoin (mantendo o investimento inicial), aumentou a posição comprada em inflação americana e manteve as demais posições.

A outra metade do retorno de novembro foi gerada pelo “short Brasil”: a gestora ficou vendida na Bolsa brasileira, comprada em dólar e tomada em pré (ou seja, ganha quando os juros sobem).

A casa fez os investimentos antes do pronunciamento do ministro Fernando Haddad, no dia 27, porque já havia a expectativa de um pacote fiscal decepcionante e da isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil.

“Montamos essas posições na meia hora que deu, antes de o mercado piorar de vez,” diz Stuhlberger. Esse kit Brasil também foi mantido, porque “a deterioração fiscal do País é galopante.”

“Passamos meses sem ver nada no horizonte e, de repente, surgiram todas essas oportunidades,” afirma o gestor. “É nosso dever conseguir antecipar essas situações. Mas elas não acontecem sempre.”