Três anos depois do início do bull market brasileiro, Luis Stuhlberger e Rogério Xavier continuam comprados em Bolsa — mas ambos estão olhando a porta de saída.
O gestor do fundo Verde disse que sua gestora tem 20% de seus ativos em Bolsa — ainda abaixo dos highs históricos mas o mesmo nível desde o início de 2018 — apesar de acreditar que há um ‘efeito bolha’ no mercado brasileiro, principalmente pela migração dos investidores pessoa física da renda fixa para a variável.
“Os órfãos do CDI — e eu me incluo nessa categoria, junto com a torcida do Corinthians — estão diversificando em tudo que aparece,” Stuhlberger disse hoje cedo, durante a conferência anual do Credit Suisse. “Isso é muito bom pra economia brasileira, mas pode ser ruim para os investidores desses mercados.”
Ainda assim, Stuhlberger disse que o consumo das famílias está subindo e muitas ações vão se beneficiar desse movimento.
O setor de consumo “é um bom trade para estar [posicionado]. Continuamos comprados, mas olhando a porta de saída. Embora o ambiente esteja extremamente favorável, as cotações subiram muito, já não estão tão favoráveis como estavam meses atrás.”
Xavier, da SPX Capital, também se mostrou cautelosamente otimista. Respondendo uma pergunta sobre a existência de uma bolha de ativos no mercado global, Xavier disse que sua maior preocupação não é se os ativos vão continuar subindo, mas a complacência do mercado com a volatilidade baixa.
Se a volatilidade aumentar, os investidores podem se sentir muito expostos ao risco e encontrar uma porta de saída muito estreita — o que seria “o caminho para a desgraça.”
“Para nós gestores, acho que a perspectiva ainda é de valorização dos ativos, mas tem que ter muito cuidado com a porta de saída porque ela é muito estreita.”
Sobre as bolsas globais, Stuhlberger acha que ainda há uma certa racionalidade. Segundo ele, o S&P se valorizou cerca de 110% de 2010 até hoje, frente um crescimento dos earnings per share das empresas de 88%.
“Claro que teve uma expansão de múltiplos, mas dada a magnitude da diminuição dos juros não é um negócio absurdo,” disse ele. “A bolha de ativos mais clara [no mundo] parece ser a taxa de juros, que está distorcida em relação a qualquer parâmetro histórico da humanidade.”
No evento, os dois gestores concordaram também em relação à política monetária do Banco Central brasileiro — que, nas palavras de Xavier, “está sendo empurrado pelo mercado para fazer uma grande bobagem.”
“Os níveis [de juros] que temos atualmente já deveriam ser olhados com mais cuidado. Porque os efeitos da política monetária são sentidos nove meses após o movimento e sentidos no seu ponto máximo na inflação de 15 a 18 meses depois,” disse o fundador da SPX. “Se forçarmos demais a mão e o BC fizer uma política monetária muito frouxa vamos ter que restringir em breve e vai voltar pra 8% de juros nominal.”
Stuhlberger concordou:
“Eu acho que o BC deveria ter parado em 4,75%, pra depois não ter que subir de novo,” disse ele, antes de acrescentar que a discussão não está pacificada nem mesmo dentro do Verde — com o economista-chefe Daniel Leichsenring discordando de sua tese.
Quanto aos riscos de uma recessão global, Xavier foi taxativo: caminhamos para um cenário de crescimento baixo, mas dificilmente o mundo entrará numa nova crise.
“Quando penso no risco de recessão global, pra mim a probabilidade é perto de zero. Mas a chance de ficarmos flertando com crescimentos cada vez mais baixos é relevante. Podemos ter um crescimento tão baixo que você vai ter a sensação de estar quase vivendo numa recessão”.